8 - Uma Tradição Esotérica
Uma última questão se apresenta. A "Grande Tradição Imemorial" tem sido preservada, desde os tempos mais remotos, de uma maneira oculta, ou seja, esotérica? Tem ela sido perpetuada de era em era, enquanto permanece reservada a uma elite?
Como vimos, a tradição apresenta um modo de inspiração e um conteúdo metafísicos. Guénon afirma:
"...em toda doutrina metafísica, há algo que SEMPRE SERÁ ESOTÉRICO, e é a parte do inexprimível que essencialmente toda concepção metafísica comporta" (Introdução ao Estudo das Doutrinas Hindus, 2ª parte, capítulo IX).
Portanto, a tradição terá, por assim dizer tecnicamente, uma parte esotérica. Há mistérios da tradição que permanecerão inacessíveis aos ministros das religiões pelo motivo muito simples de que esses ministros não seguem o caminho metafísico, mas apenas o caminho místico, e, consequentemente, suas fontes de inspiração permanecem secundárias, subordinadas e subsidiárias.
A religião, um fenômeno devocional e sentimental, se dirige ao grande público. Isso é o que Guénon expressa ao dizer que ela é de natureza exotérica. Ela é feita para as necessidades das multidões, entre as quais, nos dizem, ela realiza maravilhas. Mas precisamente as multidões não são capazes de compreender as sutilezas da metafísica, que, portanto, permanece oculta para elas.
No entanto, o sistema de Guénon não pretende privar inteiramente a religião de toda participação na tradição esotérica. Em um regime normal, pelo contrário, ou seja, quando a hierarquia dos valores é respeitada, a religião deve buscar o cerne de seus dogmas e símbolos na tradição metafísica.
Mas historicamente, essa inspiração nem sempre é respeitada, porque a religião quer voar com suas próprias asas e despreza o auxílio, embora tão necessário, da metafísica.
É isso que está acontecendo atualmente com a Religião Católica, que, aparentemente, se alimentava da fonte tradicional no passado, especialmente durante a Idade Média, mas que, infelizmente, desde o período do humanismo, perdeu o contato com a doutrina, a inspiração e as organizações tradicionais.
O Islã, por outro lado, apresenta uma disposição exemplar, na opinião de Guénon: ele mostra ao público uma impressionante fachada puramente religiosa e exotérica, de origem judaica, mas também possui, por trás dessa fachada, as escolas esotéricas do sufismo, onde a tradição oriental é perpetuada.
Se compreendemos bem o raciocínio de Guénon, a família espiritual judaico-cristã, que abandonou a "Grande Tradição Primordial" e se restringiu à religião exotérica, deveria retornar às suas raízes tradicionais e se aproximar do hinduísmo. A Igreja Católica, em particular, deveria possuir, como o Islã, seus círculos esotéricos e tradicionais.
Esta não é uma ideia nova. A maçonaria, há muito tempo, tem considerado um plano semelhante. A diferença é que ela se propõe como uma SUPER-IGREJA esotérica. Guénon mantém o mesmo plano geral, mas designa como ponto de encontro universal, não mais a maçonaria, mas a TRADIÇÃO ORIENTAL.