3 - Multiplicabo conceptus tuos
Os defensores do andrógino falam da separação dos gêneros masculino e feminino como uma "malformação ontológica", uma "tragédia existencial", um "drama do exílio". A Igreja também reconhece essa mesma tragédia, mas não lhe atribui a mesma causa e não administra o mesmo remédio.
A tragédia em questão é o desejo descontrolado dos dois gêneros um pelo outro. Os esotéricos acreditam que o descontrole vem da própria separação dos gêneros. Para eles, é essa separação que é anormal. Dizem que ela cria uma tensão; para abolir essa tensão, seria necessário acabar com a separação. A tensão diminuiria a zero em seres híbridos, já que os dois pólos se encontrariam. Esse é o cerne do seu raciocínio.
A Igreja, por outro lado, ensina que a separação dos gêneros é boa, que remonta à origem, e que foi abençoada por Deus. Ensina também que o atrativo mútuo é bom em si mesmo, desde que seja disciplinado e subordinado à missão procriadora.
O que cria a tensão desagradável é a queda do primeiro homem. E toda a doutrina cristã remete ao relato, misterioso certamente, mas esclarecedor, do Gênesis. Logo após o consumo do fruto proibido, Adão e Eva perceberam esse desequilíbrio. Logo veremos por que ele ocorreu primeiro. Eles sentiram a necessidade de fazer cintos porque agora se sentiam privados de uma certa vestimenta espiritual que antes os envolvia.
Então, o que aconteceu? Aconteceram duas coisas, aliás, ligadas entre si. Primeiro, a alma acabara de perder seu domínio sobre o corpo, que se tornara tirânico. Mas também o Espírito Santo ficou triste e se retirou. Ora, é obra do Espírito Santo vestir; reconhece-se a antiga expressão: "O Pai nutre, o Filho sacia e o Espírito Santo veste". Com a retirada do Espírito Santo, a vestimenta espiritual do homem desapareceu. Além dos cintos (perizomata) de origem vegetal feitos espontaneamente pelo homem, Deus acrescentou túnicas (tunicas pelliceas) de pele animal, símbolo dessa disciplina agora necessária e que o Decálogo deveria formular com precisão quando o momento chegasse.
Na repreensão que ele dirige a Eva, Deus lhe anuncia "Multiplicabo conceptus tuos". "Multiplicarei os teus conceitos" (Gên. III, 16). Assim, o atrativo, agora anárquico, dos gêneros um pelo outro, levará a uma proliferação excessiva, poderíamos até dizer patológica.
Para a doutrina eclesiástica, portanto, as causas do descontrole da função procriadora são a retirada de Deus e a inversão das potências que compõem o homem. E o remédio para esse descontrole, quando pode ser imposto, é a disciplina formulada no Decálogo.
É interessante questionar por que o desequilíbrio resultante da queda afetou prioritariamente a função procriadora. Por que essa em particular e não outra função? A razão mais plausível é esta: entre as faculdades humanas, essa função é a que mais necessita da tutela divina, porque é a função que prolonga o poder criativo de Deus. Quando a tutela divina se tornou mais distante, devido ao entristecimento de Deus, foi a função procriadora que foi mais gravemente e primeiro perturbada.
Os adeptos da androginia perdida raciocinam de forma completamente diferente. Atribuem ao "drama do exílio" uma causa completamente diferente e propõem uma solução completamente diferente. Para eles, o desequilíbrio é ontológico, ou seja, depende do nosso ser, e, portanto, o remédio também é ontológico, ou seja, só pode ocorrer quando houver uma mudança em nosso ser. O equilíbrio será restabelecido pela reconstituição do andrógino primordial. Portanto, não é neste mundo que tal reconstituição pode ocorrer. Consequentemente, é adiada para o futuro, quando haverá a reconstituição total do universo. Enquanto isso, um alívio temporário é prometido àqueles que conseguirem reconstituir o andrógino primordial em si mesmos e em espírito, ou seja, agir espiritualmente como andróginos.
Assim, uma verdadeira mística andrógina foi constituída. Ela vai desde os exercícios do "amor cortês" herdados dos "tribunais de amor" da Idade Média até as práticas tântricas mais sofisticadas. Para compreender esse tipo de mística, seria necessário ter tempo para explicar os métodos pelos quais se pode fazer a "kundalini" subir da região lombar à região cervical, pois esse é, em última análise, o objetivo dessas supostas místicas.
Os defensores da mística andrógina acusam a Igreja de pudicícia. Dizem que ela desvia o olhar da questão sexual e, por isso, fracassou totalmente em resolver essa questão. A sexualidade, eles proclamam, saiu da mente de Deus. Certamente, podemos responder. Mas o que não saiu da mente de Deus foi a perversão e a anarquia da sexualidade; estas, pelo contrário, surgiram da mente do demônio.
Quanto à mística andrógina, veremos um dia se ela terá sucesso e em que terá sucesso, onde a Igreja, aparentemente, falhou.