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3 - O Banquete Platônico

Mais de onde vem então esse famoso andrógino para constituir um símbolo tão importante? É evidente que R. Guénon não descobriu por si mesmo nem a noção nem o nome. Encontramos divindades híbridas nas mitologias mais arcaicas. Assim, os antigos gregos conheciam o personagem de Hermaphrodite, filho de Hermes (Mercúrio) e de Afrodite (Vênus); uma ninfa, que se apaixonou por ele sem esperança, implorou aos deuses para que seus dois corpos se tornassem um só ser; e ela foi atendida. Hermaphrodite é, portanto, o ser misto formado pela fusão do filho de Mercúrio e de uma ninfa.

René Guénon, que aliás foi seguido por toda a escola esotérica moderna, retomou essa ideia de uma divindade híbrida, mas ele lhe dá uma importância que nunca teve, pois ele faz da androginia uma característica semi-cósmica ao mesmo tempo que meio-divina.

Entendemos por escola esotérica essa família espiritual à qual antes da guerra de 39-45 se dava o nome de "movimento ocultista". O movimento ocultista persistiu e hoje está em plena vigência; a doutrina fundamental permanece a mesma, apenas mudou de apresentação, precisamente sob a influência, em grande parte, de R. Guénon. À epíteto esotérico, também seria necessário adicionar outros, pois essa escola é também hermética, gnóstica, alquímica, ao mesmo tempo que vedantista e sufista, e muitas outras coisas ainda. Mas é difícil dizer tudo de uma vez, e nos pareceu que o nome de escola esotérica era o mais adequado para resumir todos esses caracteres.

Os membros dessa perigosa escola de pensamento consideram o andrógino como uma das noções mais constantes que herdaram da "Tradição Universal" ou, pelo menos, do que eles chamam assim. Pois sabemos que a chamada tradição universal difere claramente, em seu conteúdo e em suas modalidades, da Tradição Apostólica, cuja guardiã e mestra é a Igreja.

Quando desejam fornecer provas da antiguidade e seriedade da tradição andrógina, os esoteristas modernos citam o Banquete de Platão. Sabemos que essa obra ilustre relata os discursos pronunciados pelos convivas de um banquete solene (em grego, symposion, e em latim, convivium) oferecido pelo comediante Agaton a seus amigos, para celebrar com eles a coroa de tragédia que acabara de ser concedida a ele. A obra se chama "O Banquete". Sendo Platão o narrador, fala-se do "Banquete de Platão"; mas também se diz "O Banquete de Agaton", pelo nome do anfitrião, na casa do qual ocorreu a recepção.

Foi decidido que os discursos de todos os convivas, neste "jantar-debate", girariam em torno do tema do amor. Cada um o tratou de acordo com suas inclinações: alguns de forma humorística e fantasiosa, outros de maneira profunda e filosófica. Aristófanes, o autor cômico, que estava presente no banquete, tratou do tema do andrógino. Como veremos, ele não hesitou em desencadear o riso.