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5 - A linha dos marcos

Antes de testemunhar as metamorfoses da cruz metafísica e do homem universal, devemos esclarecer, na penumbra esotérica no meio da qual avançamos, alguns marcos capitais de nossa religião, para não nos perdermos no caminho.

Primeiramente, recordemos que o Princípio Supremo do guenonismo não é Deus. Certamente, ele apresenta alguns caracteres, como a infinitude e a unidade. Mas é um princípio abstrato e não mais o "Deus Vivo" das Escrituras Sagradas. O Princípio Supremo não é bom, não é criador, nem mesmo existente. Ele é, repitamos, a Possibilidade universal. Certamente, a religião de Guénon inclui um deus criador, mas é um deus "contingente", pois pertence ao domínio da existência; Ele é, portanto, já um ser diferenciado; assim, perde a infinitude e a unidade.

A manifestação não é a criação. O universo dito "manifestado", no sistema guenoniano, surge do Princípio supremo por uma sucessão de emanações automáticas. Enquanto a criação do tipo cristão é realizada por Deus ex nihilo. Deus fez o mundo aparecer onde não havia nada. E, consequentemente, a criação permanece eternamente distinta do Criador; ela pode ser "glorificada" posteriormente, mas nunca será totalmente "divinizada". Pode haver fusão com Deus, mas nunca confusão.

Quanto ao Homem Universal, ele é apresentado como o arquétipo da humanidade. Ele ocupa, na metafísica de R. Guénon, uma posição análoga ao Verbo Encarnado em nossa religião. Mas ele é descrito como andrógino, ou seja, como "homem-mulher". Em um próximo capítulo, estudaremos essa noção de androginia e veremos que ela está muito distante das concepções cristãs tradicionais.

A realização, ou "libertação", não é a "visão beatífica". Na doutrina cristã, a visão beatífica é Deus fazendo Sua morada na alma que se esvaziou de si mesma para receber "o Hóspede divino". A realização metafísica, pelo contrário, seria o florescimento de um princípio transcendente já presente no homem desde o nascimento.

Veremos também que os "fins últimos" são muito diferentes nas duas doutrinas. A teoria dos Ciclos prevê um eterno recomeço, ou seja, uma reconstituição periódica do estado primordial por um mecanismo natural e automático. Ela é, portanto, incompatível com a noção cristã do Reino dos Céus, que é a passagem de toda a criação para um estado novo e definitivo, uma passagem que requer uma intervenção divina excepcional.

Se é necessário manter essas distinções e definições em mente, é porque R. Guénon nunca ataca diretamente os dogmas cristãos, de modo que nunca suscita desconfiança em seus leitores, especialmente os leitores apressados que todos nós somos mais ou menos hoje em dia. Ele parece até mesmo, a princípio, adotar os grandes princípios cristãos, mas é para transformá-los depois sob o pretexto de lhes dar um sentido mais profundo.