5 - Metafísica e religião
R. Guénon pratica uma metafísica que não se enquadra na definição comum. Ele próprio explica isso. Devemos entender bem sua definição, pois em alguns pontos ela se assemelha à da religião e, em outros, dela se afasta consideravelmente.
A física, no sentido antigo da palavra, é o estudo da natureza material que está ao alcance dos nossos sentidos. A metafísica, no sentido clássico, é a ciência das generalidades sugeridas pela observação da natureza e pela consideração de seus mistérios, como, por exemplo, a essência e a existência, o espírito e a matéria, a vida e a morte; essa é a definição dos antigos, cuja filosofia ocidental seguiu.
Fiel intérprete do hinduísmo, Guénon amplia consideravelmente a abrangência da ciência metafísica tal como ele mesmo a pratica. Para ele, ela não compreende apenas a metafísica clássica, que é essencialmente uma ontologia, ou seja, uma ciência do ser. Ela se estende ao conhecimento do Princípio Supremo em si mesmo, que está situado, como agora sabemos, além do ser, pois é ao mesmo tempo o ser e o não ser, sendo o lugar das possibilidades que ainda não vieram à existência.
Como uma ciência tão sublime é possível? É possível no hinduísmo, diz Guénon, porque lá são utilizados métodos de meditação que fornecem acesso direto ao Princípio Supremo. O sujeito que medita de acordo com esses métodos e dentro de todo esse ensinamento alcança um conhecimento não mais discursivo, ou seja, obtido através de construção racional, mas um conhecimento intuitivo, imediato e sem intermediários do Princípio Supremo diretamente apreendido. Tal conhecimento intuitivo é um fenômeno psicológico também descrito em outras religiões e disciplinas e chamado de intuição intelectual.
Essa intuição intelectual é difícil de obter. É reservada para sujeitos de elite. Deve até mesmo ser mantida em segredo. Ela é alcançada principalmente pela iniciação e, portanto, tem um caráter esotérico, ou seja, oculto. Por meio dessas precauções, o sujeito meditante chega à identificação com o objeto de suas meditações. Ele acaba por se identificar com o Princípio Supremo metafísico em si mesmo.
Como o objeto de tal meditação é metafísico, é lógico que o método contemplativo que permite alcançá-lo também seja chamado de metafísico. Uma grande parte do trabalho de Guénon será dedicada à descrição dos caminhos metafísicos, que ele nos dirá serem puramente intelectuais, entendendo por isso que não são devocionais nem sentimentais.
No entanto, como vimos, no hinduísmo também existem divindades que são menos elevadas que o Princípio Supremo. São as divindades que são objetos de devoção popular, como Brahmâ, Vishnu e Shiva, para citar apenas as três principais. E aqui está um ponto essencial de sua argumentação: R. Guénon reserva o nome de religião ao culto prestado às divindades que pertencem à existência manifestada. O Deus dos cristãos faz parte dessas divindades, pois também está na ordem da existência. A esses tipos de deuses, presta-se um culto religioso, devocional, sentimental e popular.
Quanto às vias contemplativas que conduzem ao contato com os deuses da ordem existente, obviamente não podemos chamá-las de metafísicas, já que seu objeto não é metafísico. Elas serão chamadas de vias místicas. Conduzindo a um objeto inferior, as vias místicas serão logicamente consideradas inferiores às vias metafísicas.
Além disso, como a "Religião" não é reservada a sujeitos de elite, mas é popular, ela será chamada de exotérica, ou seja, pública.
Em resumo, a metafísica, por envolver a intuição puramente intelectual e progredir através da iniciação e do esoterismo, será declarada superior à simples religião, que será qualificada como mística, devocional e exotérica.
Essa superioridade da metafísica sobre a Religião é totalmente arbitrária, pois deriva apenas da divisão da divindade em duas partes, uma das quais (aquela que é objeto da Religião) permanece no domínio da existência, enquanto a outra (aquela que é objeto da metafísica) é expulsa para uma zona muito alta de "possíveis não manifestados".
Essa superioridade da metafísica sobre a Religião é uma das peças-chave da doutrina de Guénon e, portanto, da doutrina hinduísta da qual ele é o doutor para o Ocidente. Ela é encontrada, de uma forma ou de outra, em todos os seus livros. E compreende-se que seja essencial para ele, pois é a posição dominante que lhe permite fazer da religião em geral e especialmente da Religião Cristã um caso particular do sistema metafísico considerado mais vasto, mais compreensivo, mais inteligente.
Mas a Religião do Verdadeiro Deus já, em outras épocas e especialmente nos tempos patrísticos, demonstrou que não permite que a armadilha metafísica se feche sobre ela.
É isso que tentaremos mostrar nos próximos artigos, se nos for permitido, onde trataremos do mecanismo da iniciação, do simbolismo da Cruz, dos ciclos cósmicos, da angelologia e da estratégia guenoniana.