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5 - Uma Tradição "não humana"

Uma das principais fontes da "Grande Tradição Primordial" de R. Guénon são os tratados védicos, complementados por seus comentários. Guénon nos ensina que esses tratados são veneráveis não apenas por sua antiguidade, mas principalmente pela natureza de sua inspiração.

A palavra "Vêda" é um termo sânscrito que deriva da mesma raiz indo-europeia que o verbo latino Videre = ver. Vêda significa "visão" e também "conhecimento". Isso nos sugere que os tratados védicos formam um vasto conjunto de visões.

"No início, é sempre necessário recorrer a uma INSPIRAÇÃO DIRETA, pois não se trata de uma obra individual; não importa se a tradição foi expressa ou formulada por tal ou tal indivíduo, pois ele não é o autor disso, uma vez que essa tradição é essencialmente SUPRA-INDIVIDUAL. É por isso que a origem do Vêda é chamada apaurushêya, ou seja, NÃO HUMANA" (Introdução ao Estudo das Doutrinas Hindus, 3ª parte, capítulo II).

Neste trecho, Guénon resume muitos capítulos de sua obra. Ele menciona duas noções que são constantes em seu trabalho: uma certa MÉTODO (ou caminho) contemplativa; e o OBJETIVO final ao qual essa contemplação leva. Vamos examinar sucessivamente esse método e esse objetivo, pois foram os das visionários que podem ser considerados os escritores anônimos do Vêda.

O CAMINHO CONTEMPLATIVO preconizado por Guénon constitui uma inspiração "direta" e "supra-individual".

É um caminho DIRETO porque realiza, como já vimos, um conhecimento intuitivo. No vocabulário cristão, poderíamos falar de uma "infusão intelectual", ou seja, um conhecimento adquirido sem a mediação de qualquer percepção sensorial.

É também um caminho SUPRA-INDIVIDUAL porque opera uma transformação da personalidade. O visionário busca a contemplação não fora de si mesmo, mas dentro, ou seja, em seu âmago. Seu trabalho de introspecção consiste em despertar nele o germe que já está lá de forma latente, virtual e inconsciente. Após esse trabalho, o "eu" individual dá lugar ao "si" pessoal. O indivíduo se transforma em pessoa.

Então, o que é esse "si" pessoal ao qual se chega assim? É a participação elementar no PRINCÍPIO UNIVERSAL. É o ponto de contato que cada ser humano possui, sem saber, com o "Princípio Universal". O método contemplativo, que é dito metafísico, tem precisamente o efeito de fazer esse germe florescer. Após essa introspecção, o sujeito, que era simplesmente um indivíduo, tornou-se uma "pessoa" por sua participação consciente no "Princípio Universal" que é de natureza metafísica.

Essa é a VIA METAFÍSICA. Ela realiza uma "inspiração direta" porque é intuitiva. Ela também é "supra-individual" porque confere a verdadeira personalidade.

Quanto ao OBJETIVO final ao qual essa via metafísica conduz, é o "Princípio Universal". E é ele, precisamente, que nos é dito ser NÃO HUMANO. Infelizmente, essa designação, totalmente negativa, não revela sua verdadeira identidade. Seria uma força ou um espírito angelical? Seria um contato com a quintessência cósmica? Seria apenas uma revelação do homem para si mesmo, ou uma espécie de auto-revelação?

Não obtemos nenhuma resposta para essas perguntas. Guénon repetirá incansavelmente que a inspiração do Vêda é "não humana". Essa é a expressão consagrada; ele nunca formulará outra; ele não se deixará levar por divulgações intempestivas; ele se imporá essa disciplina de vocabulário com a rigorosidade que apenas um líder de Escola é capaz quando se trata de manter a linha. Portanto, chegaremos ao final dos vinte e quatro trabalhos do mestre sem saber exatamente o que é a origem não humana da tradição oriental. Ele apenas nos convidará, se quisermos saber mais, a seguir nós mesmos o caminho metafísico recebendo a INICIAÇÃO.

Em que a via metafísica difere da via mística seguida no cristianismo? Guénon explica em muitos lugares que não quer usar outras palavras além de "metafísica" para qualificar a via contemplativa oriental. Ele especialmente não quer usar a palavra "mística", pois a mística e o misticismo são noções e fenômenos religiosos, portanto, de uma ordem inferior. Essa precisão de vocabulário merece uma explicação, pois não é apenas convencional e prática, mas diz respeito à natureza das coisas.

Entende-se que Guénon tenha insistido em designar, por duas palavras diferentes, duas coisas tão diferentes de fato quanto a contemplação metafísica dos Orientais e a contemplação mística dos Cristãos, pois nem os objetivos nem os meios são os mesmos.

A contemplação metafísica dos Orientais leva ao "domínio dos princípios universais", passando pela busca ativa e até intensiva de uma semente inconsciente que está enterrada no âmago do ser humano.

A contemplação mística dos Cristãos leva ao Deus Pessoal e Criador, passando pelo vazio e pela passividade amorosa de uma alma que espera tudo de Cima.

Deve-se reconhecer que Guénon, ao distinguir essas duas vias e atribuir a cada uma um termo específico, mostra, mais uma vez, um discernimento incontestável. Ele tocou em uma realidade autêntica.

No entanto, devemos acrescentar do nosso lado que essas duas vias ainda têm pontos em comum. Mais precisamente, elas envolvem mecanismos mentais análogos. A via metafísica é, em última análise, apenas a via mística desviada de seu objetivo. Há, entre essas duas vias, a mesma diferença entre RELIGIOSIDADE NATURAL e a verdadeira religião.

O ser humano é naturalmente construído para a verdadeira religião. A natureza o predispõe à verdadeira religião. A natureza contém todos os mecanismos mentais necessários para receber a Revelação Divina e implementá-la. No entanto, esses mecanismos, providencialmente destinados a receber a Revelação do Alto, podem ser desviados, já que o ser humano possui o livre arbítrio, para as revelações de baixo. Se tivéssemos que dar um nome à via contemplativa oriental, a chamaríamos de via PSEUDO-MÍSTICA, para deixar bem claro que se trata, em suma, de uma imitação.