5 - A fascinação hermafrodita
Pode-se dizer que a noção andrógina exerce uma verdadeira fascinação sobre os membros da escola esotérica contemporânea. Tornou-se um dos temas mais constantes de sua doutrina, um dos mais frequentemente encontrados. Então, quais benefícios eles esperam disso? Veremos que são muitos.
Mas vamos primeiro listar alguns dos escritores recentes que estudaram esse mito. Todos o fizeram com um espírito de investigação científica, é claro, pois essa é a moda do dia, mas sem deixar de manifestar sua incontestável adesão.
Os dois pensadores que mais vigorosamente reavivaram a ideia andrógina (um pouco esquecida durante a grande moda das doutrinas transformistas) são René Guénon e Julius Evola. Nenhum dos dois dedicou uma obra exclusivamente a essa questão, mas ambos a abordaram em seus trabalhos em geral. Evola retorna especialmente a ela em dois de seus livros "A Metafísica do Sexo" e "A Tradição Hermética". Quanto a Guénon, ele fala sobre isso em toda a sua obra e especialmente em "O Simbolismo da Cruz", pois coloca o andrógino no centro do "Vórtice Esférico Universal", que, segundo ele, é a forma mais perfeita da cruz.
Guénon e Evola foram seguidos por toda uma escola. Primeiramente, em 1938, destacamos o trabalho de Jean Halley des Fontaines, "La notion d’androgyne dans quelques mythes et quelques rites". Em seguida, temos um livro frequentemente citado, "Hermaphrodites" de Marie Delcourt, publicado pelas Presses Universitaires de France, Paris, em 1958. Depois, em 1962, pela editora Gallimard, na coleção "Idées", o livro de Mircea Eliade, "Méphistophélès et l’androgyne".
"Les Hermaphrodites" de Carris Beaume e G. Busquet, pela J.C. Simoen Éditions, foi publicado em 1978. No mesmo ano, pela editora Aubier, J.H. Maertens publicou "Le corps sexionné"; o título em si já indica claramente as duas ideias de "sexo" e "seção".
Um livro extenso de Jean Libis, muito bem documentado, foi lançado pela Berg-International em 1980, na coleção "L’Ile Verte": "Le mythe de l’androgyne". Ele aborda a questão de forma muito abrangente e, ao mesmo tempo, não esconde sua adesão ao mito. Sua conclusão, muito característica da escola que estamos estudando, merece ser citada:
"Dessa forma, o andrógino é o alfa e o ômega da história do mundo. E quando a exigência de cientificidade vem desencantar o conteúdo dos mitos, mostrando o caráter precário e caduco de nossas 'explicações', o andrógino, movido por alguma instância poderosa do inconsciente coletivo, se aloja nas construções da literatura, nas produções das artes plásticas. Melhor ainda, ele ressurge no próprio terreno que pretendia reduzi-lo, no terreno da desmistificação; nesse sentido, seu sucesso dentro das teorias psicanalíticas é o sintoma de sua vivacidade".
Muitos outros pensadores dessa mesma escola trataram do andrógino incidentalmente, em obras onde não é o assunto principal. Por exemplo, Mircea Eliade em "Mythes, rêves et Mystères". Outro autor frequentemente citado é A. Nygren, em "Eros et Agapé" (Aubier, Paris, 1952). Não podemos esquecer a documentação sempre precisa de Serge Hutin em "Histoire des Roses-Croix" (Paris, 1955).
Todos os livros relacionados à alquimia contêm seu capítulo sobre o andrógino. Aqueles dedicados à "alquimia operativa" falam do andrógino cósmico e até da pan-androginia universal. E os livros sobre "alquimia espiritual" descrevem longamente a reconstituição do andrógino primordial por meio da contemplação hermética.
A maçonaria, como se pode imaginar, não fica imune à fascinação hermafrodita. É até provável que a estimule e a oriente. Aqui está um trecho da publicação "Points de vue initiatiques" de 1982, n° 44, página 52. O autor apresenta os dois santos João, o Evangelista e o Batista, como formando juntos o andrógino johânico:
"Leonardo da Vinci nos lembra o caráter solar de São João Evangelista, portador de luz, encarnação do Fogo-princípio e que, unido ao Batista, realiza o andrógino primordial, produto puro da Beleza, nascido da harmoniosa conjunção do divino e do humano, da encarnação divina no humano."
«E pode-se refletir sobre o significado que Leonardo da Vinci atribuía, como um conhecedor dos arcanos da Cabala, a esse andrógino johânico também encarnado em seu Dionísio e em sua Mona Lisa».
Este trecho da revista maçônica "Points de vue initiatiques" mostra que o andrógino, na mente de seus adeptos, não é de forma alguma uma unidade procriadora; não é um germe; não é uma família virtual; é, ao contrário, um casal deliberadamente estéril; ele alcança seu equilíbrio por meio de autocontemplação. Já encontramos essa esterilidade do andrógino; ela é importante e voltaremos a ela.