6 - Uma Tradição Intemporal
Certamente, a altíssima antiguidade dos tratados védicos não é indiferente para R. Guénon. Isso é muito compreensível. Não é sem importância, para uma tradição, produzir textos que estão entre os mais antigos que se pode encontrar. Mas acabamos de ver que essa antiguidade se torna de interesse secundário quando comparada à inspiração não humana dos textos. Essa inspiração os torna documentos que podem ser qualificados como REVELADOS, embora depois se possa perguntar por quem.
Guénon agora vai tirar, dessa origem não humana, um novo corolário. Ele atribui aos textos védicos uma atemporalidade que inicialmente será uma extensão de sua antiguidade, mas que acabará por substituí-la verdadeiramente.
Com sua aplicação habitual, ele nos faz notar que a tradição metafísica não é apenas antiga, mas intemporal. Ele não diz eterna, porque a eternidade é uma noção religiosa; ele fala de intemporalidade e não de eternidade. Ele não esquece que a metafísica se distingue da religião. Ela é superior a ela. Ela é o vasto quadro abstrato, a vasta envoltura intemporal.
"A questão da data em que as diferentes partes do Vêda foram escritas parece verdadeiramente insolúvel e, aliás, sem importância real". (Introdução ao Estudo das Doutrinas Hindustânicas, 3ª parte, capítulo II)
"É preciso considerar a tradição em sua integralidade e não há necessidade de perguntar o que, dentro dessa tradição, é primitivo ou não, pois trata-se de um conjunto perfeitamente coerente". (ibidem).
E por que o conjunto permanece perfeitamente coerente? É porque a fonte de inspiração é sempre a mesma; é a fonte não humana que, por isso, está absolutamente fora do tempo. Ela é a mesma hoje como era há dois ou três mil anos.
Mas então, será possível declarar "tradicional" dados recentes? Nada impede que isso seja feito, desde que esses novos dados sejam de fonte não humana, assim como já eram os antigos. Se essa condição for cumprida, as contribuições modernas não podem romper a homogeneidade da tradição. Eles se integram a ela sem dificuldades. Compreende-se que uma tradição tão expansível seja declarada intemporal.
"As circunstâncias históricas, assim como outras contingências, não exercem nenhuma influência sobre o cerne da doutrina, que tem um caráter INTEMPORAL, e é evidente que a inspiração de que acabamos de falar pode ocorrer em qualquer época". (Introdução ao Estudo das Doutrinas Hindustânicas, 3ª parte, capítulo II).