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1 - Brahma, o princípio supremo

No topo da hierarquia divina, situa-se Brahma, que é o Princípio Supremo absolutamente universal e absolutamente indeterminado. Ele está isento de qualquer característica; não tem nenhuma atribuição positiva e está além de qualquer qualificação, além de qualquer distinção. Ele é a Unidade absoluta. Brahma é o assento de todas as possibilidades não manifestadas. Ele é tanto O SER quanto O NÃO-SER. Ele transcende tanto a matéria quanto o espírito, sendo o princípio comum a ambos.

Dois pontos precisam ser observados para uma boa compreensão do que se segue. Primeiro, a palavra "Brahma", quando se refere ao Princípio Supremo, é escrita no gênero neutro e sem acento circunflexo; encontraremos outra palavra com uma ortografia e um significado diferentes. Em segundo lugar, a Criação Universal é chamada de manifestação no Vedismo, um nome completamente lógico, já que a manifestação não é criada a partir do nada; portanto, ela é de fato uma manifestação, entre um número infinito de outras igualmente possíveis, do Princípio Supremo.

R. Guénon então responde a uma pergunta que inevitavelmente surge: Brahma deve ser concebido como um Deus pessoal ou como uma entidade abstrata?

"Do ponto de vista metafísico, deve-se dizer que este Princípio é ao mesmo tempo impersonal e pessoal, dependendo do aspecto sob o qual é considerado: impersonal, ou se preferir, supra-pessoal em si mesmo; pessoal em relação à manifestação universal, mas obviamente sem que essa 'personalidade' divina apresente qualquer caráter antropomórfico" (Int. Et. Doc. Hind., capítulo III).

É preciso reconhecer que o que domina muito na descrição desta primeira entidade divina são os caracteres impersonais e metafísicos. Se uma certa personalidade está incluída, é como uma possibilidade. Além disso, é-nos dito que a supra-personalidade (virtual e eventual, aliás) de Brahma não é de forma alguma semelhante à do homem; e de fato veremos mais adiante que se houver "personalidade", ela é mais do tipo angélico.

Aqui estão algumas notas sobre Brahma, coletadas em todas as obras de R. Guénon:

"A manifestação universal como um todo é rigorosamente nula em relação à sua infinitude" "Brahma é ativo, mas apenas em princípio, portanto, não ativo, porque essa atividade não lhe é essencial e inerente, mas é para ele apenas eventual e contingente" (Int. Et. Doc. Hind.).

"Brahma é sem dualidade e, fora dele, não há nada, nem manifestado nem não manifestado. O mundo, entendido por esta palavra como a manifestação universal, só pode ser distinguido de Brahma de maneira ilusória, enquanto, por outro lado, Brahma é absolutamente distinto daquilo que ele permeia".

"O Supremo Brahma é não qualificado em sua total infinitude, compreendendo tanto o Ser (ou as possibilidades de manifestação) quanto o Não-Ser (ou as possibilidades de não manifestação). Ele é, portanto, o princípio de ambos, além de ambos, ao mesmo tempo em que os contém igualmente". (O Homem e seu Destino segundo o Vedanta, capítulo XXI).

R. Guénon não revela qual foi a origem histórica de tal teodicéia. Ele simplesmente diz que está contida no Veda e, portanto, pertence à mais antiga tradição. Mas ele fornece uma explicação filosófica. Ele retoma um axioma muito antigo que já se encontra nos mais antigos filósofos, a saber: "Tudo o que existe é limitado". Não podemos deixar de concordar com esse axioma; mas o que se segue é menos evidente. O vedismo, que não adere à Revelação e, portanto, não aceita a ideia de um Deus que faz exceção a essa regra, torna-se prisioneiro de sua lógica. Tudo o que existe é limitado; ora, Deus existe, não se pode duvidar disso; portanto, este Deus, que necessariamente existe, deve ser necessariamente limitado. Mas então a mente humana não pode se contentar com tal Deus. Portanto, é absolutamente necessário um Deus ilimitado (nós diríamos infinito) que será colocado além de toda existência para salvaguardar sua infinitude: daí Brahma, Princípio absoluto e universal, transcendendo tanto o Ser quanto o Não-Ser, e sede de todas as possibilidades não manifestadas.

Qualquer cristão entenderá que tal Deus não é de forma alguma o de sua Religião: o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, que se revelou dizendo:

"Eu sou aquele que sou" (Je suis Celui qui suis).

O verdadeiro Deus é ao mesmo tempo existente e infinito. A definição ensinada às crianças no catecismo também é válida para os mais sutis metafísicos:

"Deus é um Ser infinitamente bom e infinitamente perfeito, criador e soberano senhor de todas as coisas".