8 - A substituição final
O "Primeiro Adão", aquele do Jardim do Éden, nos é apresentado como um ser híbrido, meio homem, meio mulher. Veremos, em sua refutação, quais dificuldades insuperáveis encontramos nessa afirmação absolutamente infundada. E agora, segundo essa mesma escola esotérica, o que dizer do "Segundo Adão", ou seja, de Nosso Senhor Jesus Cristo? Logicamente, ele também deve ser andrógino, e até mesmo a fortiori, já que ele é o homem perfeito, servindo como modelo para o Primeiro Adão.
Alguns autores, que não são intimidados pelos textos sagrados, afirmam categoricamente: o Nazareno era andrógino. No entanto, aqueles que estão mais conscientes da impossibilidade de tal afirmação se contentam em sugerir que Jesus Cristo escondia em si traços de caráter totalmente femininos e, portanto, era secretamente andrógino.
Mas é evidente que as Escrituras não se prestam a uma exegese desse tipo. Quando mencionam o Verbo Encarnado, sempre O atribuem o gênero masculino. É um Filho que os profetas predisseram: "Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado" (Isaías, IX, 6).
É um Filho que é anunciado a Maria pelo Anjo Gabriel:
"Você dará à luz um filho e lhe dará o nome de Jesus" (Lucas, I, 30).
E uma última vez, antes de encerrar a Revelação pública, o Apocalipse repete a mesma afirmação: "Então o dragão se posicionou diante da mulher que estava para dar à luz... E ela deu à luz um filho homem (filium masculum)" (Apocalipse, XII, 4-5).
Essa mulher, de acordo com o consenso dos exegetas, é a Mãe do Verbo Encarnado.
Assim, obrigados a reconhecer a masculinidade de Jesus Cristo, os autores esotéricos mais prudentes remontam a androginia até ao pensamento divino. Para eles, o primeiro pensamento divino da Encarnação é o andrógino. É por meio dele que toda a criação externa começou. Cristo e Maria vieram depois, cada um em um gênero definido, como derivados de um único andrógino arquetípico. Assim como Adão e Eva, no Paraíso, provêm, segundo eles, de um mesmo andrógino terrestre, então Cristo e Maria seriam o resultado da "divisão ideal" do arquétipo andrógino celestial.
Jean Libis, em seu livro "O Mito do Andrógino", resumiu todos esses autores afirmando, em sua conclusão:
"Assim, o andrógino é o Alfa e o Ômega da história do mundo" (página 273).
Encontraremos facilmente, nos trabalhos da mesma escola, afirmações nesse mesmo sentido. O arquétipo universal, aquele que é encontrado em tudo, é, nos dizem, o andrógino.
Agora, ultrapassar Cristo, interpor-se entre Deus e Ele, substituir-se a Ele, essa é precisamente a posição que Lúcifer cobiça. Sob o nome de andrógino, ele se atribui essa posição e a faz atribuir por alguns homens.
Não estaremos entre aqueles. Em nossa religião, não há outro arquétipo senão Jesus Cristo. Ele é o "Primogênito de toda a criação". Ele é a "Pedra angular", o "princípio e o fim". Ele mesmo disse de Si mesmo: "Eu sou o Alfa e o Ômega". Não há outro.
Não podemos deixar de aplicar à escola esotérica estas palavras de Santo Atanásio:
"Qual é a sua loucura ao proferir palavras que não foram ditas e ter pensamentos que são contrários à piedade?"
Em um próximo e último capítulo desta série dedicada ao simbolismo da cruz, mostraremos a incompatibilidade do mito do andrógino com a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo.