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5 - A Tradição Profana

Somos levados a nos questionar. A Tradição que chegou à humanidade pós-diluviana, ou seja, aquela do período noaico, contém apenas os componentes de natureza religiosa que acabamos de enumerar? Elementos profanos e especialmente cosmológicos não se misturaram a ela?

É provável, embora não tenhamos prova positiva disso. No entanto, como veremos ressurgir tais noções após a dispersão na Torre de Babel, somos obrigados a perguntar de onde elas vêm.

A fonte que imediatamente vem à mente é, evidentemente, a ciência infusa de Adão. Deus concedeu a ele o dom da ciência infusa em seu estado de perfeição primitiva. E é óbvio que Ele o privou disso quando o expulsou do Paraíso Terrestre. No entanto, Adão não esqueceu o que havia aprendido, de modo que pôde transmitir aos seus descendentes muitos conhecimentos que hoje chamaríamos de cosmológicos. Esses conhecimentos primitivos não foram positivamente revelados. Eles também eram de uma ordem inferior aos conhecimentos religiosos derivados da Revelação.

Qual poderia ser o conteúdo dessa tradição profana? Estamos reduzidos a conjecturas, mas podemos pensar que ela transmitia noções como, por exemplo, o simbolismo dos quatro elementos constitutivos da criação material: terra, água, ar e fogo. Ela também transmitia noções de cronologia, ainda hoje chamadas de "tradicional", como a semana de sete dias, os doze signos do Zodíaco que formam o quadro dos doze meses do ano.

Certamente também se misturou aí toda uma sabedoria puramente humana, nascida da experiência e da reflexão, ditados populares, memórias históricas, tudo formulado com mais ou menos lirismo.

Assim, a mesma palavra "Tradição" abrange dois fluxos paralelos ou, melhor dizendo, superpostos.

O fluxo superior é a Tradição Primordial propriamente dita, ou seja, a parte religiosa. Nele encontramos apenas elementos revelados. É a parte espiritual, tratando de um Deus justo e bom, de uma lei difícil de seguir, de um culto difícil de praticar, de uma profecia difícil de entender. É a parte espiritual do fluxo tradicional, mas também aquela que, historicamente, tende mais a se sublimar, a evaporar, a cair em desuso, devido precisamente às suas dificuldades.

O fluxo inferior é a tradição profana. Ela merece esse nome de tradição por seu modo de propagação oral; mas tem um conteúdo completamente diferente. Ela transmite noções mais humanas, menos elevadas, mais práticas. Ela vai ofuscar e apagar a Tradição religiosa e prevalecer sobre ela; a história vai provar isso.

A diferença entre esses dois fluxos tradicionais é resumida por uma fórmula já antiga: a tradição cosmológica ensina como vai o céu, enquanto a Tradição religiosa ensina como se vai ao Céu.