2 - A Árvore da Cruz
É uma prática constante, desde os primórdios do cristianismo, comparar a Cruz do Calvário à árvore do Paraíso. Escritores religiosos frequentemente falam da Árvore da Cruz.
No entanto, essa comparação apresenta uma dificuldade, pois no Jardim do Éden, Deus plantou não uma, mas duas árvores: o lignum vitae, a árvore da vida, que estava no meio do jardim, e o lignum scientiae boni et mali, a árvore do conhecimento do bem e do mal, em um local não especificado nos textos. A qual dessas duas árvores a Cruz do Calvário será comparada?
Os autores cristãos são unânimes em resolver essa dificuldade ao fazerem da Cruz de Nosso Senhor a recapitulação das duas árvores do Paraíso. Eles até mesmo justificam que ela era feita de duas vigas e, portanto, provavelmente de duas árvores diferentes, talvez até mesmo de duas essências diferentes. Observa-se que a Arca de Noé foi construída com madeiras resinosas e que a Arca da Aliança era feita de madeira de acácia. Assim, a Cruz é a verdadeira Arvore da Vida. O fruto que ela deu foi o "Filho do Deus Vivo", Ele mesmo o Caminho, a Verdade e a Vida, e também o "Pão Vivo descido do Céu". O paralelo é inegável.
A Cruz também é a verdadeira árvore do conhecimento do bem e do mal. Ela tem um lado direito e um esquerdo que são o direito e o esquerdo de Nosso Senhor. A direita é o lado da eleição divina, a esquerda é o lado da reprovação. O conhecimento do bem é o conhecimento de Cristo que nos é ensinado pelo arrependimento do bom ladrão. O conhecimento do mal é o conhecimento do Anticristo que nos é mostrado pela obstinação do ladrão mau.
As duas árvores plantadas por Deus no Jardim do Éden eram apenas prefigurações, talvez distantes e misteriosas, mas precisas da Cruz do Gólgota, que as recapitula enquanto respeita sua dualidade, já que era feita de duas vigas.