7 - A nova estratégia
Sabe-se que o gênero humano foi colocado sob o regime das "inimizades" em virtude do decreto pronunciado por Deus na saída do paraíso terrestre. Devia, portanto, sempre haver "Abel" e "Caim", vivendo lado a lado, na espera do triunfo da "descendência da mulher" que deveria esmagar "a cabeça da serpente". Tal era o regime. A Religião do Verdadeiro Deus era universal, embora universalmente combatida. Nenhum decreto divino havia ainda estabelecido um "Povo eleito". Esse era o regime da primeira Aliança.
Ora, aqui está agora a segunda vez que a Religião revelada sofre uma degradação completa: a primeira antes do dilúvio, a segunda antes de Babel. Uma palavra de Nosso Senhor torna-se irresistivelmente presente na memória:
«Jerusalém, quantas vezes Eu quis reunir teus filhos como a galinha reúne sua ninhada sob suas asas e tu não quiseste» (Lucas, XIII, 34).
Vê-se que a mesma censura já havia sido incorrida, em duas ocasiões, pela humanidade inteira, muito tempo antes.
Após a dispersão das nações, vê-se Deus tomar lentamente todas as disposições necessárias para uma nova estratégia. Esta dispersão, de fato, evita a incrustação do mal, mas não restaura a Tradição. Certamente, a descendência da serpente não tem mais uma capital civil e religiosa, uma vez que Babel está deserta, mas ela domina em toda parte de maneira difusa.
É Deus agora quem vai construir sua própria cidadela para ali manter e concentrar sua própria religião. Ela será conservada ali, em uma situação defensiva, até o grande momento da "Vocação dos Gentios", quando ela sairá para conquistar o mundo:
«Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus» (João, IV, 22).
O corolário inevitável da confusão e dispersão babilônica é a vocação de Abraão. Não há mais outro meio, para perpetuar a Verdadeira Religião, do que constituir um povo-cidadela que seja seu guardião. Mas de que esse povo seria o guardião, se não há mais nada a guardar? Ora, a apostasia é geral e irreversível, não há, portanto, mais nada a guardar. É necessário que Deus reconstitua, ao mesmo tempo, a Tradição Primordial; é preciso proceder a uma nova Revelação que será a repetição da primeira, é preciso refazer tudo do nada. Pacientemente, Deus, novamente, revela-se a Abraão, Isaac e Jacó, visando reconstituir a Tradição perdida.
Vimos que, no auge da apostasia babilônica, um homem fez exceção heroicamente: era Héber. Durante o período que se seguiu à vocação de Abraão, e antes de Moisés, encontra-se também uma exceção análoga, é "o santo homem Jó". Ele sabia muitas coisas, por exemplo, esta:
«eu sei que o meu Redentor ("Redemptor" no texto da Vulgata) vive e que aparecerá no último dia sobre a terra...» (Jó, XIX, 25).
Onde Jó foi buscar essa esperança em um Redentor, senão no Protoevangelho que a Tradição Primordial, esquecida por todos, havia lhe transmitido. No entanto, não foi Jó que Deus escolheu para se tornar o ancestral do Povo eleito, porque ele não era judeu. Geralmente se atribui ao livro de Jó uma data anterior à do Gênesis.