1 - O Rebis Alquímico
Por qual nome devemos designar o estado híbrido do "homem-mulher", que se diz ser nosso ancestral? Deve-se dizer androgynat, androgynité ou androgynie? Na literatura gnóstica e esotérica contemporânea, encontramos alternadamente essas três denominações. Escolheremos androgynie, por analogia com a palavra já antiga de misoginia que apresenta a mesma desinência.
Os representantes da escola guenoniana se dedicaram a encontrar a linhagem andrógina entre os autores religiosos e principalmente profanos da Idade Média. Eles não tiveram grande dificuldade em encontrá-la lá. Embora totalmente contrária ao espírito realista do Cristianismo, a fábula que nos ocupa perpetuou-se entre pensadores que hoje chamaríamos de marginais e que tiveram, mais ou menos gravemente, conflitos com as autoridades eclesiásticas e reais.
Entre os adeptos e propagadores dessa ideia tão pouco cristã, geralmente se cita Marsilio Ficino, que foi cônego da catedral de Florença, no século XV. Ele era um apaixonado neoplatônico e professava grande admiração pelo conteúdo mítico do "discurso de Aristófanes" no Banquete de Agatão, discurso que ele levava muito a sério. Para ele, não havia dúvida de que existisse uma androgynie arquetípica e que esses seres híbridos, redondos e poderosos, fossem nossos verdadeiros ancestrais.
Que o mito do andrógino também seja encontrado, e com mais razão ainda, entre os alquimistas, não surpreenderá ninguém. No entanto, é preciso saber que o andrógino alquímico apresenta duas características. Em primeiro lugar, ele aparece em formas particularmente enigmáticas e geralmente é necessário saber descobri-lo através de circunlóquios estranhos; isso é de se esperar quando se conhece os hábitos de linguagem tão peculiares desses escritores. E em segundo lugar, ele assume uma natureza não mais teológica, mas cosmológica, pois os alquimistas estão principalmente orientados para a filosofia do cosmos.
Entre os nomes que dão ao seu andrógino, um dos mais frequentes é o de Rebis, literalmente "a coisa dupla". E a coisa dupla é encontrada em toda parte na natureza, porque o cosmos é, para os alquimistas, um imenso andrógino, com sua polaridade masculina e sua polaridade feminina. Essa dupla polaridade se reflete em todos os níveis do universo.
Não podemos seguir aqui, em detalhes, toda a linhagem andrógina entre os hermetistas, alquimistas e rosacruzes da Idade Média. E reconhecemos as evidências de erudição conforme reunidas pela escola esotérica atual, que de fato elucidou muito bem essa filiação clandestina.
Mas, é claro, mesmo aceitando a existência e as modalidades dessa "tradição andrógina", afirmamos que ela não pertence à verdadeira Tradição apostólica da qual a Igreja é guardiã. O andrógino é certamente transmitido por uma tradição, mas não é a autêntica Tradição cristã, à qual esse mito sempre permaneceu estranho.