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OS ÓRGÃOS DA CLARIVIDÊNCIA

Rudolf Steiner submete seus adeptos a uma disciplina espiritual cujas regras ele descreve em uma obra intitulada "A INICIAÇÃO ou como adquirir conhecimentos sobre os mundos superiores". Faremos frequentes referências a esta obra e a citaremos segundo a edição Triades de 1982.

Essa disciplina espiritual compreende três graus: "Os graus estabelecidos pela tradição à qual nos referimos são os três seguintes: 'a preparação, a iluminação e a iniciação'" (página 53).

A preparação consiste em uma concentração mental exercida sobre certos fenômenos naturais. O discípulo, também chamado de estudante, é convidado a meditar intensa e frequentemente sobre duas ordens de fenômenos: as germinações e os fenecimentos: "Ele dirige sua atenção, ora para seres em via de crescimento, de floração e de desabrochar, ora para coisas que fenecem e morrem". (p. 57).

O estudante vai se exercitar, durante semanas e meses, em uma contemplação, assim orientada, da natureza que o cerca.

Façamos aqui uma primeira constatação: faz-se com que ele medite sobre o mundo, não em seu funcionamento regular, mas em seu estado de devir e eterna renascença. Ele é, desde o início, direcionado para uma tomada de consciência aguda da universal e permanente MUTAÇÃO. Isso porque, de fato, a "transfiguração universal" ocupa, na doutrina antroposófica, um lugar central, como em todas as doutrinas gnósticas atuais.

Ao longo desta primeira fase do treinamento, o discípulo deverá manter uma atitude puramente observadora; sua atenção será retida pelo fenômeno exterior que ele examina: o botão de rosa que se abre ou, ao contrário, o tronco que apodrece. Quando estiver bem treinado na meditação intensiva de todos esses seres em processo de transformação, passará a um segundo exercício.

Neste segundo momento, ele voltará seu pensamento para si mesmo e concentrará sua atenção simultaneamente em duas coisas:

  • o fenômeno EXTERIOR que ele observa,
  • e o ECO que esse fenômeno provoca em seu espírito; ele se observará a si mesmo durante a observação.

Quando a simultaneidade dessas duas observações, uma objetiva (o fenômeno exterior) e a outra subjetiva (o eco sensorial), for realizada com facilidade e equilíbrio, então o estudante sentirá, ao que parece, germinar nele toda uma nova ordem de sentimentos e pensamentos. Compreende-se que o treinamento para alcançar essa dupla percepção seja muito longo: "Graças a esses sentimentos e a esses pensamentos, edificar-se-ão os ÓRGÃOS DA CLARIVIDÊNCIA". (p. 59)

Em que consistem esses novos órgãos psicológicos? Não nos explicam realmente, sob o pretexto de que, para compreender bem essa edificação, é preciso tê-la experimentado por si mesmo. O estudante, dizem-nos, terá formado em si uma nova faculdade que lhe permitirá entrar em comunhão com a natureza e vibrar em uníssono com ela. Aquele que se entrega a este treinamento com perseverança, regularidade e método "vê abrir-se para si um mundo novo: o MUNDO PSÍQUICO; o que se chama de mundo astral começa a despontar como uma aura. Crescimento e decrescimento não são mais para ele, como antes, fatos que despertam impressões vagas, mas realidades que se expressam em linhas e figuras espirituais cuja existência ele nunca antes suspeitara... Pouco a pouco, o mundo psíquico ou astral se desdobra lentamente diante dele". (p. 60)

Antes de prosseguir, precisemos bem a fase a que chegou o estudante antroposofista. Por uma observação intensiva e penetrante, ele ampliou a impressão que o espetáculo dos objetos materiais, das plantas e dos animais produz nele. Em seguida, ele também ampliou o eco que esses fenômenos sensoriais normalmente provocam nele, estudando-os isoladamente. Finalmente, ele OBJETIVOU o eco assim hipertrofiado, que passará a ter, em seu espírito, o valor de um ser em si. À imagem objetiva do mundo, que ele continua a ver como antes, é claro, vem sobrepor-se uma outra imagem desse mesmo mundo, uma outra imagem que será como uma radiografia desse mesmo mundo.

É exatamente o que diz, em outras palavras, o próprio Rudolf Steiner: "Quando o estudante chega ao ponto de poder contemplar, sob sua forma espiritual, fenômenos igualmente perceptíveis ao seu olho físico, ele não está muito longe de ver coisas que não têm existência física alguma e que, por conseguinte, permanecem integralmente ocultas (ocultadas) para aquele que ignora a ciência secreta". (p. 61)