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DUAS BEBIDAS

Ao longo das três fases da preparação, da iluminação e da iniciação, o discípulo colocou em jogo uma incontestável RELIGIOSIDADE natural. Essa religiosidade, ele precisará dela ao longo de toda a sua vida de militante antroposofista. É preciso, portanto, que ele a conserve e a discipline. É preciso que cultive simultaneamente o esquecimento do antigo mundo grosseiro e material, e a lembrança do mundo espiritual no qual acaba de entrar.

Para este fim, farão com que ele beba duas bebidas místicas: a "bebida do esquecimento" e a "bebida da lembrança".

O que é a BEBIDA DO ESQUECIMENTO? É a bebida que o novo iniciado supostamente terá absorvido quando tiver relegado o universo sensorial a segundo plano e seu espírito tiver se povoado dessas "entidades de consumação" que a prova do fogo fez aparecer nele. Quando essa "maturidade iniciática" for realizada, então ele terá recebido "o que se chama simbolicamente de bebida do esquecimento, ou seja, ele possuirá o segredo de agir sem se deixar a todo instante perturbar pela MEMÓRIA INFERIOR". (p. 113)

A "memória inferior" é a visão do universo tal como resulta dos "dados não corrigidos" dos sentidos. E a "memória superior" é aquela que é fruto da contemplação permanente da "face oculta das coisas".

O novo iniciado deverá ainda engolir "misticamente" uma segunda bebida: "A segunda bebida que se oferece ao iniciado é a BEBIDA DA LEMBRANÇA. Graças a ela, torna-se possível para ele ter sempre presentes no espírito as verdades superiores. A memória comum não seria suficiente. É preciso incorporá-las e não formar mais com elas senão um único e mesmo ser. Não basta conhecê-las, elas devem se integrar totalmente à ação viva como o alimento ou a bebida da vida física. Elas devem se expressar pelo que é o próprio homem, espalhar-se nele e tornar-se como as funções vitais de seu organismo. Assim, ele realiza sempre mais espiritualmente o objetivo para o qual a natureza o construiu fisicamente". (p. 114)

Todo esse treinamento contemplativo terá, portanto, como resultado, como era fácil de prever desde o início, incorporar intimamente o iniciado À NATUREZA e introduzi-lo numa verdadeira COMUNHÃO CÓSMICA. Esse ponto de chegada ainda é apenas sugerido pelo texto de Rudolf Steiner; será marcado posteriormente com muito mais precisão.

Se ele se impregna cada vez mais desse novo espírito, dessa nova "comunhão", dessa nova mística, o iniciado mostra suas capacidades para subir ainda mais um degrau. Ele pode esperar ultrapassar os "pequenos mistérios". "Ele possui o direito de penetrar no TEMPLO DOS CONHECIMENTOS SUPERIORES. Apenas roçaremos o que haveria ainda a dizer aqui". (p. 111)

É evidente que a ascensão iniciática do militante antroposofista continua em direção aos "mistérios superiores" ou GRANDES MISTÉRIOS. Mas os documentos publicados só fazem menção a essa ascensão em termos velados. O caminho para a iniciação aos "grandes mistérios" não é descrito em detalhes como foi o caminho para os pequenos mistérios.