BERLIM, A SERPENTE VERDE E O BELO LÍRIO
Sua tarefa de editor das obras científicas de Goethe estando terminada, Rudolf Steiner deixou Weimar em 1897 e instalou-se em Berlim para dirigir uma revista literária. Morou na casa de uma viúva, Anna Eunicke, que já conhecia e com quem se entendia às mil maravilhas. De seu casamento anterior, ela tinha cinco filhos, o que não a impedia de assegurar a seu hóspede a calma e o conforto de uma casa bem cuidada. Acabaram por se casar em 1899. Mas Anna Eunicke morreu em 1911, deixando Steiner viúvo por sua vez.
Do período berlinense data a publicação de um conto fantástico: "A Serpente Verde e o Belo Lírio". Este conto pretendia ser uma explicação do hermetismo de Goethe. O autor deixava transparecer nele tendências rosacrucianas, ou seja, um gosto marcado pelo esoterismo cristão. Atraiu a atenção da jovem sociedade teosófica de Berlim; convidaram Steiner para fazer algumas conferências nos novos locais. Assim começou uma colaboração que se mostraria particularmente frutuosa.
Em suas conferências, Steiner encontrou uma dessas mulheres cultas que tanto o atraíam, Marie von Sivers, de origem russa, cujo charme eslavo agiu rapidamente sobre ele. Tornou-se teósofo, o que não lhe exigiu uma grande mudança, e desposou-a, três anos após a morte de sua primeira esposa.
Marie von Sivers apresentou Steiner a Annie Besant, de passagem por Berlim. Sabe-se que ela acabara de assumir a sucessão de madame Blavatsky na direção da sociedade de teosofia em Adyar, na Índia. Talentoso como o conhecemos, e particularmente formado nas disciplinas filosóficas, era evidente que Steiner se tornaria rapidamente o secretário-geral da seção alemã de teosofia. O ensinamento que ali ministrou foi resolutamente orientado na via do esoterismo cristão. É desta época que data sua obra: "Misticismo e Espírito Moderno".
Um episódio de sua vida berlinense permite compreender melhor a personalidade e as tendências de Rudolf Steiner. O socialista Guillaume Liebknecht (o adversário ferrenho de Bismarck e pai de Karl Liebknecht, que, em 1919, assumiria a liderança do movimento "Spartacus") havia fundado em Berlim uma universidade popular frequentada pelos operários socialistas. Convidaram Rudolf Steiner para fazer conferências ali. Sua "filosofia da liberdade", naturalista e humanitária, encontrava ali um campo de exercício totalmente indicado (1899-1904).