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O ARCABOUÇO CONCEITUAL

As fontes inspiradoras de Steiner se reduzem a esse mecanismo místico (ou mais exatamente pseudo-místico) e não acontece de ele recorrer a fontes mais livrescas?

Já observamos que ele não abandona nem a cultura FILOSÓFICA que adquiriu por seu contato com os pensadores alemães de sua época, nem a bagagem ORIENTAL que levou consigo quando deixou a Sociedade Teosófica (a Lei do Karma, a reencarnação, a lei da Maia...)

Mas o arcabouço conceitual sobre o qual a mística steineriana vai então operar não é constituído unicamente por essas duas aquisições, a filosófica e a oriental. É preciso acrescentar outra, que ele cultiva há muito tempo, é o legado GNÓSTICO. Tomemos nota de sua admiração pelos escritores da Gnose:

"Fizeram-se sobre a Gnose as opiniões mais diversas. Ela é em geral muito pouco conhecida e, no entanto, os documentos oficiais já podem dar uma ideia de sua EXTRAORDINÁRIA PROFUNDIDADE. Os gnósticos tiveram a intuição de que era preciso buscar em mundos infinitamente longínquos as causas dos eventos da Palestina". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 28).

O arcabouço conceitual sobre o qual a mística de Steiner vai bordar é, portanto, constituído por fibras diversas: a filosofia alemã dos séculos XVIII e XIX, o orientalismo de Madame Blavatsky e a gnose, reforçada aliás por uma forte participação OCULTISTA à qual ele não cessa de fazer alusão. Tal é a luz intelectual pela qual seu "olhar interior" será iluminado.

Tal é a orientação que ele vai tomar. É nesse legado que ele buscará os esquemas de seu pensamento em todas as suas operações discursivas.

E não podemos aqui senão constatar, mais uma vez, o paralelismo entre a verdadeira e a falsa mística. Esse arcabouço de noções intelectuais desempenha, na mística steineriana, um papel semelhante ao da FÉ na mística cristã. Mas é uma fé invertida, uma espécie de anti-fé. O mecanismo das duas místicas, a verdadeira e a falsa, é análogo, pelo menos no início; mais exatamente, é paralelo. O que as diferencia essencialmente, e finalmente as opõe, é a atmosfera na qual elas se desenvolvem respectivamente; é a luz que as ilumina. Essa luz, que não é a mesma para uma e para outra, as orienta em direções diametralmente opostas.

A verdadeira mística, a dos cristãos, é iluminada pela Fé e conduz aos abismos do Alto.

A falsa mística é iluminada pela luz da Gnose e conduz aos abismos de Baixo.