DISCÍPULO DE FAUSTO
O período vienense termina. Rudolf Steiner deve deixar a Áustria e seus encantamentos teosóficos. Ele parte para a Alemanha e vai se instalar em Weimar, na Turíngia, onde seu novo trabalho consiste em supervisionar a edição das obras científicas de Goethe. No curso dessa tarefa de editor, ele é arrastado para o rastro filosófico do "Príncipe da literatura alemã".
Certamente, ele já tinha por Goethe, como vimos, uma grande admiração como cantor do eterno feminino. Em Viena, ele havia proferido uma conferência notável: "Goethe, pai de uma estética nova" (1888). Mas em Weimar é o conteúdo filosófico da obra inteira que vai marcá-lo de maneira indelével.
Qual é, então, a filosofia de Goethe?
Diz-se que ela se resume no tema geral do primeiro e do segundo Fausto. Esse tema geral é o da aposta que se estabeleceu entre Deus e Mefistófeles, aposta que é o tema do primeiro Fausto e cujo segundo nos dá o epílogo.
O demônio garante rebaixar Fausto à condição de bruto. Deus, ao contrário, afirma que o "sábio doutor" será capaz, por suas próprias forças, de triunfar da tentação. A partir daí, Fausto torna-se representante da humanidade inteira, a qual, segundo Goethe, é colocada na obrigação de se superar pela AÇÃO para realizar o ideal percebido por sua consciência. E o drama cênico torna-se um compêndio de filosofia.
No texto de Goethe, as últimas palavras de Fausto antes de morrer constituem verdadeiramente um hino naturalista e até humanitário. O velho mago passeia todo curvado, pelas alamedas de um grande parque:
"Não fiz mais que correr pelo mundo, agarrando pelos cabelos todo prazer, negligenciando o que não me podia bastar, e deixando ir o que me escapava. Assim, não fiz mais que realizar e desejar ainda e assim precipitei minha vida numa ação eterna".
Não pensemos que, nessas palavras, haja arrependimento. Não há nenhum, pelo contrário, pois Fausto continua assim seu último monólogo:
"Grande e poderoso desde o início, caminho agora com sabedoria e circunspecção. O círculo da terra me é suficientemente conhecido. Quanto à visão do outro mundo, ela nos está fechada. Como é insensato aquele que dirige seus olhares preocupados para esse lado, e que imagina estar acima das nuvens, acima de seus semelhantes! Que se contente, pois, de manter-se firme nesta terra: o mundo não é mudo para o homem que tem algum valor. De que serve flutuar na eternidade, tudo o que o homem conhece, ele pode apreender. Siga, pois, seu caminho, sem se apavorar com os fantasmas".
Chegando ao grande vestíbulo do palácio, Fausto prossegue sua última profissão de fé:
"Oferecerei vastas planícies a milhões de homens para que vivam ali livremente, senão com segurança. Eis campos verdejantes e férteis; homens e rebanhos repousam à vontade sobre a nova terra, ligados ao firme poder das colinas que eles erguem com seus trabalhos árduos. Um paraíso na terra! Sim, abandono-me à fé desta palavra que é a última fé da sabedoria. Possa eu desfrutar do espetáculo de uma atividade semelhante e viver com um povo livre numa terra de liberdade! No pressentimento de tal felicidade, desfruto agora do momento mais belo da minha vida."
Pronunciadas estas últimas palavras, Fausto cai morto e os lêmures o agarram para colocá-lo num caixão.
No epílogo, Goethe explica como os anjos vieram buscar a alma do velho filósofo. E, no entanto, quando Fausto cai morto, a aposta parece ganha por Mefistófeles, que permanece junto ao cadáver e chama as legiões do inferno para que levem o sábio que se perdeu. Mas os anjos do céu chegam ao mesmo tempo que os demônios. Por que isso? Porque essa alma poderosa resistiu até o fim. Os pensamentos de esperança que Deus, o Deus de Goethe, lhe enviou no último momento o inebriaram no instante supremo. Assim, as sombrias cortes, convocadas por Mefisto, recuam e os anjos levam ao céu a alma do doutor Fausto. "Deixei-me então enganar por essa laia", exclama Mefistófeles. "Ela me rouba o fruto do meu esforço. Foi para isso que eles rondavam em torno do túmulo".
Toda a obra de Goethe está repleta de discursos semelhantes. É uma longa exaltação da ação humana e da comunhão naturalista. Uma linguagem suntuosa cobre uma filosofia positivamente humanitária. E Steiner, enquanto procedia às publicações que lhe haviam sido encomendadas, deliciava-se com ela e impregnava-se dela. Foi invadido por um sentimento de reconhecimento quase filial por Goethe. Quando, muito mais tarde, ele for levado a dar um nome ao templo antroposófico que edificaria em Dornach, perto de Basileia, ele o chamará de "Goetheanum".