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O OLHO ESPIRITUAL

O trabalho da fase preparatória está agora concluído. Dotou o estudante de uma faculdade psíquica de recepção que Rudolf Steiner chama de "órgão de clarividência". É uma faculdade, diz ele, que dormita em cada homem e que o treinamento progressivo apenas desperta. O discípulo antroposofista vai agora fazer funcionar esse órgão utilizando o mesmo método de concentração de espírito que lhe serviu para constituí-lo. Ele está agora a caminho da segunda fase de sua ascensão "espiritual": a da ILUMINAÇÃO.

Mas aconselham-no a recorrer doravante, seja a um guia, que deverá ser evidentemente um antroposofista confirmado, seja a obras selecionadas nas quais a ciência oculta será exposta com prudência. O método de observação intensa de um objeto mineral, vegetal ou animal continua sendo a regra essencial e continuará a ser aplicado.

Mas a intensidade da observação não é suficiente. Não basta incrustar em si a natureza e nela se incrustar; é preciso ainda fazê-lo em um certo espírito. É preciso que a meditação já esteja orientada para certos temas de reflexão, como já esteve discretamente, vimos, durante a preparação. E esses temas de reflexão serão fornecidos ao discípulo seja por monitores designados, seja por obras antroposóficas redigidas para esse fim. Eis um exemplo desses temas: "Os primeiros passos consistem em observar de uma forma muito particular certos fenômenos e certos seres naturais; por exemplo, um cristal transparente de belas facetas, depois uma planta, um animal. Que se comece por concentrar toda a atenção na COMPARAÇÃO entre a pedra e o animal da maneira que será descrita. Os pensamentos aqui indicados devem tomar conta de toda a alma, acompanhados de sentimentos muito vivos. Nenhum outro pensamento, nenhum outro sentimento deve se misturar e perturbar a intensidade da observação. Que se diga, então, o seguinte: 'A pedra tem uma forma, o animal também tem uma forma. A pedra permanece imóvel em seu lugar, o animal muda de lugar. É o desejo, o instinto que impele o animal a mudar de lugar, e é também à satisfação de seus instintos que serve a forma do animal; seus órgãos e os membros que lhe servem de instrumentos são moldados, de acordo com esses instintos, pelo desejo, enquanto a forma da pedra é o resultado de forças onde o desejo não entra'". (p. 69-70).

Vê-se imediatamente que transpusemos um novo patamar na condução de nossa meditação. Trata-se agora de entrar no MUNDO DAS CAUSAS e é por isso que se faz o adepto meditar não mais apenas sobre a estrutura profunda (pretensamente espiritual) das coisas, mas sobre seu DINAMISMO interno. O estudante é convidado a buscar "o porquê" dos seres e dos comportamentos. Mais ainda, a perseverança de seus exercícios contemplativos fará dessas "causas" novos seres espirituais. Ele vai objetivá-los. O órgão da clarividência, exercitado nesse sentido, aumentará sua atividade; ele se tornará o que a ciência oculta chama de OLHO ESPIRITUAL, porque vê, não mais as coisas, mas o espírito das coisas, isto é, sua causa. Pelo menos, é o que se ensina.

Se, na tela de seu olho espiritual, o estudante vê aparecer o espírito que supostamente reside nas coisas inanimadas, nas plantas e nos animais, a fortiori verá ele se perfilarem os movimentos de seu próprio espírito. É, em todo caso, o que afirmam todos aqueles que têm a experiência efetiva desses exercícios: "Cada um pode dizer: na esfera dos meus sentimentos pessoais e das minhas ideias, encontram-se ocultos os mistérios mais augustos; mas até agora eu não soube percebê-los. O problema reside, portanto, finalmente nisto: o homem carrega por toda parte consigo seu corpo, sua alma e seu espírito, mas só é CONSCIENTE de seu CORPO e não de sua alma e de seu espírito. Ora, o ocultista torna-se consciente de sua alma e de seu espírito, como o homem comum o é de seu corpo. É por isso que importa orientar na boa direção os sentimentos e os pensamentos. Então se desenvolverá, na vida comum, a faculdade de perceber as coisas invisíveis". (p. 77-78)