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LÚCIFER-GNOSE

Rudolf Steiner havia aceitado o secretariado da sociedade alemã de teosofia com a condição de que pudesse expressar ali livremente suas próprias opiniões. A partir daí, não se priva disso, e conduz seu auditório numa direção que não é mais perfeitamente teosófica e que inaugura já a antroposofia.

Nesse espírito, ele começa a publicação de uma nova revista que intitula "Lúcifer". Ele precisa, evidentemente, que não se trata do anjo caído, mas do anjo "portador da luz". É uma distinção habitual nos meios ocultistas: raciocina-se como se o anjo "portador da luz" tivesse permanecido um anjo bom, ou como se sua expulsão do céu fosse uma lenda totalmente desprezível. Ao colocar sua revista sob o nome de Lúcifer, Steiner mostra sua ignorância ou, antes, sua atração pelo equívoco em matéria de demonologia.

Ele escreve em sua autobiografia:

"A revista Lúcifer recebeu logo um feliz impulso. Um certo Sr. Rappoport, de Viena, que editava uma revista 'Gnose', fez-me a proposta de reunir os dois periódicos. O Lúcifer saiu sob o título LÚCIFER-GNOSE e Rappoport suportou, durante certo tempo, uma parte das despesas. Lúcifer-Gnose teve uma carreira brilhante". (capítulo XXXII).

O fato é que o ensinamento já nitidamente antroposófico de Rudolf Steiner expressa-se pela primeira vez publicamente sob a dupla invocação de Lúcifer e da Gnose. Há aí uma disposição providencial que é um verdadeiro aviso e cujo sentido não poderia escapar a um cristão minimamente atento aos sinais exteriores da vontade divina.

Na revista "Lúcifer-Gnose", Rudolf Steiner dedica-se a responder ao problema crucial que lhe é caro há muito tempo e que ele formula assim: "Como se pode elevar ao conhecimento dos mundos superiores?"

Os mundos superiores são evidentemente, em seu espírito, os mundos espirituais. Ele resolve esse problema definindo o homem como "uma partícula macrocósmica" que traz em si, virtualmente, o universo inteiro.

Uma das grandes teses de Steiner é que se reencontra a imagem dos mundos superiores em si mesmo, com a condição de cavar fundo o suficiente. É uma noção que lhe é familiar e que, aliás, circula por toda parte, aclimatada como está na Europa há muito tempo pelos hermetistas. Tal é também a posição dos teósofos que, por sua parte, a tomaram emprestada dos hinduístas. Ao fazer desse problema o passo essencial de "Lúcifer-Gnose", Steiner permanece, portanto, na linha da sociedade teosófica.