C. "Anacleto II"
"Anacleto II" (1130 - 1138) era um "marrano", ou seja, um falso convertido de origem judaica. Sua família, os Pierleoni, havia acumulado uma enorme fortuna através da usura, o que lhe permitiu ascender ao cardinalato. Uma vez cardeal, ele despojou as igrejas e, com esse ouro, subornou outros cardeais em vista do futuro conclave. O papa Honório II, já moribundo, percebendo que o bloco judaizante havia se tornado predominante, reduziu o sagrado colégio a oito cardeais, eliminando assim muitos cardeais partidários dos Pierleoni. Os eleitores legítimos elegeram Inocêncio II. Poucos dias depois, Pierleoni, tendo seduzido dois terços dos outros cardeais, se fez eleger (anti)papa, sob o nome de "Anacleto II".
Segundo os contemporâneos, "Anacleto II" despojou as igrejas. Citando um deles, o abade Ernold: "Quando até mesmo os maus cristãos que o seguiam se recusaram a destruir os cálices e crucifixos de ouro, para fundi-los, Anacleto executou este plano através de judeus. Estes últimos destruíram com entusiasmo os vasos sagrados e as imagens. Esses objetos foram vendidos e com esse dinheiro [...], Anacleto foi capaz de perseguir os partidários de Inocêncio II" (in: Maurice Pinay: Verschwonmg gegen die Kirche, Madrid 1963, p. 547).
Inocêncio II teve que fugir para a França. São Bernardo tentou unir a Inocêncio II as duas potências principais da Europa, Alemanha e França. Escreveu ao imperador alemão Lotário em 1135: "É uma afronta a Cristo que um homem de origem judaica esteja sentado no trono de Pedro" (carta 139, in: Sancti Bernardi opera, Roma 1974, vol. VII, p. 335 ou Obras completas de São Bernardo, Paris 1865 - 1867, vol. 1, p. 261). São Bernardo interveio no concílio de Etampes (1130), convocado pelo rei da França, Luís VI, o Gordo. O rei apoiou então Inocêncio II. São Bernardo frustrou as tentativas diplomáticas de "Anacleto II", que se vangloriava de "restaurar à Igreja a pureza dos primeiros tempos" através de reformas (!).
São Norberto defendeu a causa do papa legítimo no concílio de Wurzburgo. O episcopado alemão se uniu a Inocêncio II. No grande concílio de Reims em 1131, convocado por Inocêncio II e São Bernardo, os bispos da Inglaterra, Castela e Aragão também reconheceram o verdadeiro papa. "Anacleto II" tinha a seu favor a Itália e a Sicília.
Seguindo os conselhos de São Bernardo e São Norberto, o imperador Lotário empreendeu uma cruzada contra o usurpador, mas falhou. Em 1135, Lotário partiu novamente rumo a Roma, pelo qual o papa legítimo agradeceu em uma carta: "A Igreja, inspirada por Deus, te escolheu como legislador, como um segundo Justiniano, e te elegeu para que combata a infâmia herética dos judeus, como um segundo Constantino" (in: Pinay, p. 551). Esta segunda cruzada também falhou, e o antipapa permaneceu no Trono de Pedro até sua morte (25 de janeiro de 1138). "Demos graças a Deus por ter afundado este miserável na morte", exclamou São Bernardo na época.