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XXIII. OS PODERES DO ANTICRISTO

As flutuações da batalha apresentam certa periodicidade, pois os ataques se sucedem e se repetem. Porém, essa periodicidade não é regular cronologicamente, porque o tempo divino é espiritual. Ela consiste no fato de que todos os triunfos da Igreja se assemelham ao triunfo final de seu Chefe, do qual são anúncio; eles formam, em suma, uma mesma família. Da mesma forma, todas as "horas sombrias" se assemelham à morte do Homem-Deus na cruz, que é a hora sombria por excelência.

É Nosso Senhor quem deu a definição de todas essas horas sombrias quando definiu a Sua própria. E em que termos Ele a definiu? Àqueles que vieram prendê-Lo no jardim do Getsêmani, Ele declarou:

"Enquanto cada dia Eu estava convosco no templo, não pusestes as mãos sobre Mim. Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas" (Lucas XXII, 53).

Durante o período das tribulações finais, sob o reinado do Anticristo, toda a Terra experimentará, por sua vez, "a hora e o poder das trevas".

Mas desde hoje, em nossa época de obscurecimento da Igreja, devido à grande semelhança dessa crise com aquela das tribulações finais, podemos legitimamente pensar que alcançamos uma dessas horas sombrias definidas pelos termos: Hora e poder das trevas.

Agora, precisamos falar sobre a personalidade misteriosa e aterradora do Anticristo.

Não será propriamente uma encarnação do diabo. Ele será apenas um homem possuído, um homem dominado pela máxima possibilidade de possessão. Assim, será apenas uma "imitação" de encarnação.

Antes de aparecer na Terra, ele terá tido prefigurações, ou seja, predecessores que se assemelhavam a ele. Outras figuras semelhantes o terão precedido, animadas pelo mesmo espírito, mas desempenhando papéis historicamente menos importantes.

São João Evangelista amplia ainda mais a qualificação de anticristo. Ele a atribui a todo aquele que não reconhece Jesus como o Cristo:

"Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, aquele que nega o Pai e o Filho" (I João II, 22).

E também:

"Todo espírito que não confessa Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo" (I João IV, 3).

E esse espírito de negação, diz São João, é muito difundido:

"Assim como ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos têm surgido" (I João II, 18).

Sem dúvida, esse "espírito do anticristo" está amplamente disseminado. Mas não se deve concluir que o nome e a ideia abrangem apenas um fenômeno coletivo. A vinda de um homem possuído, personificando esse espírito em sua essência máxima e merecendo o título, é indubitável. Em um trecho que já conhecemos, São Paulo chama esse personagem de ímpio:

"...então será revelado o ímpio..." (II Tessalonicenses II, 7).

Em outro trecho, ele o designa como Filho da perdição:

"*Ninguém, de maneira alguma, vos engane; porque não será assim sem que venha primeiro a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o adversário que se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou é objeto de adoração, de modo que se assentará no santuário de Deus, apresentando-se como Deus" (II Tessalonicenses II, 3-4).

A ideia de um personagem que consolidará em suas mãos o poder combinado do homem e do demônio é frequentemente encontrada nos profetas do Antigo Testamento.

Em um trecho que já citamos por outras razões, Isaías revela o domínio universal que o anticristo conseguirá reunir sob seu controle:

"Eu segurei o universo como se fosse um ninho na minha mão, e como se recolhe ovos abandonados, eu recolhi toda a terra" (Isaías 10, 14).

O ensinamento das Escrituras sobre o Anticristo é claro: o personagem principal virá por último, mas antes disso terá muitas prefigurações. Esta é a doutrina da personalidade do Anticristo. Ela é segura e pode ser aceita sem medo. Ela se opõe à doutrina menos sólida e cada vez mais abandonada que faz do Anticristo um ser coletivo, baseando-se apenas nestas poucas palavras de São João:

"Já muitos anticristos têm surgido" (I João II, 18).

Será impossível lutar apenas com armas humanas contra o Anticristo e todos os seus auxiliares. Somente o poder de Cristo aparecendo em pessoa será capaz de triunfar sobre ele. São João enumera, resumindo, os poderes que lhe serão concedidos por um tempo:

"A besta que vi era semelhante a um leopardo... O dragão deu-lhe o seu poder, o seu trono e grande autoridade... e toda a terra se maravilhou após a besta, dizendo: 'Quem é semelhante à besta e quem pode pelejar contra ela?' E foi-lhe dada uma boca que proferia grandes blasfêmias, e foi-lhe dado poder para agir durante quarenta e dois meses... E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação. E todos os habitantes da terra o adorarão..." (Apocalipse XIII, 2-8).

Conhece-se as circunstâncias da morte do Anticristo? São Paulo descreve sucintamente quando, falando dos últimos tempos, diz o seguinte:

"E então será revelado o ímpio, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca e destruirá com o esplendor da sua vinda" (II Tessalonicenses II, 8).

As profecias da revelação privada são ricas em detalhes sobre este golpe fulminante que livrará a humanidade do demônio aparecendo no máximo de seu poder. Citemos uma dessas informações mais antigas:

"Quando o filho da perdição tiver cumprido todos os seus desígnios, ele reunirá seus seguidores e lhes dirá que quer subir ao céu. No momento dessa ascensão, um raio o atingirá e o fará morrer" (Santa Hildegarda).

Nossa Senhora de La Salette se expressa de maneira semelhante:

"Eis o tempo; o abismo se abre; eis o rei dos reis das trevas. Eis a besta com seus seguidores, dizendo-se o salvador do mundo. Ele se elevará orgulhosamente no ar para subir até o céu; será sufocado pelo sopro de São Miguel Arcanjo. Ele cairá, e a terra, que durante três dias estará em contínuas convulsões, abrirá o seu seio cheio de fogo; ele será afundado para sempre com todos os seus nos abismos eternos do inferno."

E quanto aos auxiliares do Anticristo sobre os quais falamos? Alguns terão desaparecido antes dele, e eles também terão tido um fim repentino e total. Não se cansa de reler o grandioso quadro que São João traça da Queda da Grande Babilônia:

"Ela caiu, caiu, Babilônia, a Grande! Ela se tornou morada de demônios, abrigo de todo espírito impuro, refúgio de todo pássaro impuro e odiável... Mantendo-se à distância por medo dos tormentos, eles dirão: Ai, ai! Ó grande cidade, Babilônia, ó poderosa cidade, em uma hora veio o teu julgamento?" (Apocalipse XVIII, 2-10).