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X. OS DOIS INFERNOS DA ANTIGA LEI

Qual é a condição dos demônios no abismo para onde foram lançados?

Este abismo ocupa uma posição inferior. Para acessá-lo, conforme todos os textos das Escrituras, é necessário descer. É o abismo inferior. São João fala do "poço do abismo" e de sua chave:

"E viu-se descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo" (Apocalipse XX, 1).

Este local inferior é chamado de inferno. Mas também recebe outros nomes. São Pedro o chama de Tartaro:

"Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no Tartaro, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo" (II Pedro II:4).

Podemos entender mais precisamente a situação deste Tartaro? Falando de Sua Ressurreição que Ele anunciava para o terceiro dia após Sua morte, Nosso Senhor se expressou da seguinte maneira:

"Esta geração perversa e adúltera pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. Pois, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra." (Mateus XII, 39-40)

Os comentaristas entendem que a expressão "no coração da terra" não se refere apenas ao Seu túmulo, mas também, e principalmente, ao inferno nas profundezas do qual a alma de Nosso Senhor permaneceu por três dias.

Por que os textos sagrados frequentemente mencionam os infernos no plural? Porque, sob o regime da Antiga Lei, existiam dois infernos: o inferior e o superior.

O inferno inferior é o abismo que recebe os demônios e as almas dos criminosos. É um lugar onde se suporta a pena do dano, que consiste em não ver a Deus e, portanto, viver sem sol, nas trevas. Lá também se sofre a pena do fogo.

O inferno superior é aquele que recebe as almas dos justos. Nas Escrituras, ele é chamado em hebraico de Sheol e em grego de Hades. Os escolásticos mais tarde o chamaram de limbus patrum ou "limbo dos patriarcas". É esse mesmo Sheol que é designado pela expressão figurativa "o seio de Abraão". Poderíamos dizer "o colo de Abraão", onde os justos falecidos eram supostamente recebidos para se sentarem no colo do Pai dos crentes, ou se refugiarem sob seu manto.

Os habitantes do Sheol também são privados da visão de Deus. No entanto, eles são iluminados pela esperança de um dia desfrutá-la quando os tempos estiverem cumpridos. Assim, eles não vivem nas trevas como os condenados, mas na penumbra. O Sheol não é um lugar de infelicidade. A alma lá vegeta em um sono pacífico. A antiga liturgia romana, no momento do "memento" pelos mortos, ainda fala daqueles que dormem no sono da paz: "qui dormiunt in somno pacis".

O que sabemos do Sheol pelas Escrituras nos permite defini-lo como um antessala do Céu. As almas dos justos lá aguardam a abertura do céu. No entanto, não há dúvida de que pertence aos infernos. É uma morada inferior, não se sobe ao Sheol, mas desce-se até ele. Ele é vizinho do abismo dos demônios. O homem santo Jó, por exemplo, lamenta-se por sua alma desafortunada e diz:

"que ela desceu às portas do Sheol" (Jó XVII, 16).

Os Provérbios falam das "...profundezas do Sheol" (Provérbios XIX, 18).

O profeta Isaías também menciona o "Sheol e suas profundezas" (Isaías XIV, 9). É certo que o Sheol é próximo ao abismo.

Aprendemos isso diretamente da boca de Nosso Senhor:

"Ora, aconteceu que o pobre Lázaro morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado. No inferno, ele levantou os olhos, estando em tormentos, e viu de longe Abraão e Lázaro no seu seio." (Lucas XVI, 22-24).

Tudo está bem ponderado neste texto de São Lucas. O pobre Lázaro está de fato "no seio de Abraão", ou seja, no Sheol, enquanto o rico está realmente no inferno. O rico "levanta os olhos" porque o inferno está mais abaixo do que o Sheol. No entanto, ele consegue avistá-lo de longe porque o Sheol é, se não próximo, pelo menos vizinho ao abismo onde ele se encontra.

E por que o Sheol e o abismo são vizinhos? Porque o Sheol é a antecâmara do céu e logicamente deveria estar próximo ao céu. No entanto, está precisamente ao lado do abismo. Por quê? Porque ainda não há Céu para as almas dos justos falecidos. E se não há Céu para os humanos, é porque o Verbo Encarnado ainda não veio "preparar-lhes um lugar junto do Pai". Este é o que Ele deve fazer durante o tempo entre a Ressurreição e a Ascensão.

"Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fora, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E quando eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo..." (João XIV, 1-3).

E ainda estaríamos sob o regime do Sheol da antiga lei se o Salvador não tivesse vindo. Pois afinal, de que o Salvador nos salvou? Ele nos salvou do inferno. Se Ele não nos tivesse resgatado, os justos entre nós estariam destinados ao sono e à penumbra do Sheol, privados da visão beatífica.

Foi a visita de Jesus Cristo aos infernos que pôs fim ao regime de espera que era o Sheol. Como dizem os Padres da Igreja, Ele desceu aos infernos para evangelizar os justos, ou seja, para "anunciar-lhes a boa nova do Reino". Ele lhes anunciou que um lugar havia sido preparado para eles, que o reino eterno estava prestes a se abrir para eles e que em breve entrariam com Ele no dia da Ascensão.