XIII. O DIA DO HOMEM
O sétimo dia é o dia do homem. Como assim?
Quando Deus terminou "A Obra dos Seis Dias", Ele descansou, ou seja, Ele cessou de exercer Seu poder criador:
"E Deus descansou no sétimo dia de todas as obras que Ele havia feito" (Gênesis II, 2).
Sua última obra criadora é a formação de Nossa Mãe Eva.
A partir de agora, começa o sétimo dia. A criação é provida de um dinamismo interno e de uma força de inércia inicial. Deus se retira dela como Criador e deixa apenas Sua Providência. Agora cabe ao homem fazer suas obras e suas provas. Deus vai confrontá-lo com um adversário espiritual contra o qual ele deve se defender. A prova será difícil porque a recompensa deve ser grandiosa. Nada é medíocre em Deus.
Não atribuamos a Deus uma doçura sem virilidade. O processo da tentação não está isento de uma certa rigidez:
"Porque você era agradável a Deus, era necessário que a tentação viesse testá-lo" (Tob. XII, 13).
E inversamente:
"O Senhor, vosso Deus, vos tenta para que apareça visivelmente se vocês O amam" (Deut. XIII, 3).
Será necessário um combate, pois, sem combate, não há recompensa:
"Aquele que luta na arena não será coroado a não ser que tenha lutado legitimamente" (Tim. II, 5).
"Bem-aventurado o homem que sofre a tentação, porque depois de ter sido testado, ele receberá a coroa de vida que Deus prometeu àqueles que O amam" (Tiago I, 12).
O agente da prova, o adversário deste combate, é Satanás:
"O demônio, vosso inimigo, ronda em volta de vocês como um leão rugindo, buscando a quem possa devorar" (I Pedro V, 8).
Temos um exemplo da mão vigorosa de Deus no caso do Rei Saul, a quem Ele deseja punir por uma falta grave:
"O Espírito do Senhor se retirou de Saul, e um espírito mau do Senhor se abateu sobre ele. Os servos de Saul disseram: Eis que um espírito mau de Deus se abate sobre você" (I Samuel XVI, 14-15).
"No dia seguinte, um espírito mau enviado por Deus se abateu sobre Saul, e ele teve convulsões em meio à sua casa" (I Samuel XVIII, 10).
Algum tempo depois ainda:
"Então o espírito mau do Senhor estava sobre Saul, enquanto ele estava em sua casa" (I Samuel XVIII, 10).
A expressão "um espírito mau de Deus" é lacônica mas clara. Os espíritos de malícia, por mais reprovados que estejam, não deixam de ser, como no tempo em que eram anjos, "obedientes à Sua voz e aos Seus mandamentos", mas agora por força.
Portanto, é dada permissão aos demônios para deixar o inferno e retornar à terra. Eles não retornarão todos ao mesmo tempo. Eles serão chamados por Deus na proporção das faltas humanas que serão cometidas, ou seja, dos direitos que os homens abandonarão sobre si mesmos aos demônios.
Portanto, é lógico pensar que o número de demônios que assombram a terra é cada vez maior. É isso que parece estar acontecendo de fato. Algumas almas místicas dizem, por terem observado em suas visões, que no fim dos tempos, quase não restarão demônios no inferno. Eles estarão, quase em sua totalidade, na terra.
Ao chegarem à terra, enquanto procurarem quem devorar, os demônios vão se afeiçoar a certos lugares específicos? Seu elemento de predileção será, sem dúvida, o elemento do ar. Quando São Paulo quer nos fornecer detalhes sobre nossos tentadores, ele nos diz:
"Vós agíeis outrora segundo o príncipe desta potência do ar, segundo o espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (Efésios II, 2).
Compreende-se que os seres espirituais que permaneceram como demônios se afeiçoam ao elemento aéreo:
"Pois não temos de lutar apenas contra a carne e o sangue, mas contra os príncipes, contra as potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos de malícia espalhados nos ares" (Efésios VI, 12).
A expressão de São Paulo é mesmo forte, pois ele diz "in cælestibus", ou seja, "na atmosfera". Todas as substâncias materiais, e não apenas o ar, podem servir de suporte a demônios. É por isso que é necessário exorcizar as matérias, como o sal e a água, que são usadas para os Sacramentos. Sabe-se, assim, que eles se afeiçoam a lugares áridos. Quem não guarda na memória a frase evangélica: "Quando um demônio sai de um homem, ele vai pelos lugares áridos, buscando descanso".