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VI. O RECRUTAMENTO DOS REVOLTADOS

E então, Lúcifer percorreu os nove coros dos anjos para constituir um partido, a fim de fazer pressão sobre Deus pelo número. Que discurso fez a todos esses espíritos? Conhecemos os dois grandes temas que ele desenvolvia: "Eu serei como Deus" e "vocês serão como deuses".

Recusando a supremacia universal do Homem-Deus, Lúcifer é levado pela fatalidade de sua insubmissão e se comporta como se fosse o Anjo-Deus. Sua lógica implacável lhe inspira uma audácia implacável: ele exige poder e culto. Ele percorre os nove coros pregando sua revolta e ao mesmo tempo sua supremacia. E os nove coros são tocados pela efervescência e pela contaminação; nenhum coro é poupado, nem o mais elevado, dos serafins, nem o mais baixo, dos anjos. Lúcifer fez adeptos em todos os lugares. Mas nenhum coro também sucumbiu por completo.

Qual é a proporção dos anjos que tomaram o partido de Lúcifer revoltado? Alguns comentaristas das Escrituras pensam que um terço dos anjos se deixou levar à prevaricação; eles se baseiam na seguinte passagem do Apocalipse:

"...de repente viu-se um grande dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e sobre suas cabeças sete diademas; com sua cauda ele arrastou um terço das estrelas do céu e as lançou sobre a terra." (Apoc. XXII, 3-4).

Contrariamente ao partido luciferiano, encontraram-se anjos dos nove coros para manter a consciência de seu nada original e para aceitar a graça necessária para sua santificação, daquele Homem-Deus cuja corte celestial acabara de receber a Revelação.

Sabe-se que um herói se destacou entre todos, São Miguel, chamado de 'arcanjo', mas que certamente era muito mais que um arcanjo. À divisa do herói do orgulho, 'serei como Deus', ele opôs a divisa da humildade, 'Quis ut Deus? Quem é como Deus?'.

Isso se tornou um lema e circulou nos nove coros. Os anjos fiéis não apenas reconheceram o Verbo Encarnado como seu mestre, mas também começaram a desejar ardentemente a sua vinda com o zelo fervoroso que os anjos podem demonstrar. E é por isso que o Ungido do Senhor, esse primeiro personagem da Criação, é chamado na Sagrada Escritura de 'o desejado das colinas eternas' (Gên. XLIX, 26).

Quem são as 'colinas eternas'? São os anjos fiéis que a humildade elevou e que se tornaram 'eminências'. Quanto ao 'desejado' em si, é o Ungido do Senhor.

E por que os anjos O desejaram? É porque Deus não deseja descer se permanecermos indiferentes a Ele. Ele deseja ser desejado, pois Ele não quer forçar ninguém. Ele revela Seus planos para que ansiemos pela sua realização. É uma lei misteriosa da ação divina à qual o Ungido mesmo se submete, já que o Pai O invoca nestes termos:

"Pedes-me, e eu te darei as nações por herança e os confins da terra por tua posse." (Salmo II, 8)

Assim, o Verbo Encarnado Ele mesmo é obrigado a pedir (postular) uma herança que lhe é destinada. Os anjos foram submetidos à mesma lei, e é por isso que o Ungido do Senhor é chamado de "o desejado das colinas eternas".