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XVIII. O MACACO DE DEUS

Observemos agora o demônio em seu comportamento como imitador de Jesus Cristo. O demônio é ciumento de Nosso Salvador, a quem ele reprocha por ter-lhe roubado o primeiro lugar na criação. E, como todos os seres ciumentos, ele não desvia os olhos daquele que é o objeto de sua inveja.

Mas, por outro lado, Satanás não pode inovar, pois Nosso Senhor conserva a iniciativa em tudo. Sua inveja, portanto, fará dele o imitador de Jesus Cristo. Vamos ver em que condições.

O demônio, como vimos, trabalha para edificar na terra seu poder e sua religião. Ele obviamente tem a escolha entre duas táticas.

Ele pode edificar os órgãos de seu principado em total independência, criar seus lugares altos, suas dinastias devotas, seus santuários; ele pode estabelecer seus próprios ciclos cronológicos, seus ritos de oferta, seu simbolismo, suas vias meditativas, e isso diante do edifício de Cristo e para desafiá-lo e zombá-lo. É mesmo a tática que melhor convém a um ser tão impregnado de "próprio espírito" e tão ativo.

Infelizmente, os homens possuem uma religiosidade natural e um respeito natural pela autoridade que são feitos para Deus e para seus enviados. Portanto, eles se adaptarão com dificuldade a órgãos independentes construídos em outro modelo, com vistas a outra finalidade, e para o benefício de outro mestre.

Sem abandonar totalmente a tática independente à qual ele certamente gosta de retornar, Satanás, portanto, seguirá uma tática de imitação que lhe facilitará singularmente a tarefa. Ele penetrará, coberto com a pele de um cordeiro, nas instituições feitas para Deus e nas quais ele se fará passar por Deus, graças a esse poder de disfarce que acabamos de examinar.

Em resumo, ele generalizará a estratégia pela qual conseguiu destronar Adão, quando se mostrou na árvore plantada por Deus. Todas as autoridades vêm de Deus. O demônio as usurpará todas sucessivamente. Ele concretizará progressivamente seus direitos virtuais de Príncipe deste Mundo. Ele agirá da mesma forma com a religião primordial revelada por Deus. Ele a fragmentará e penetrará nos pedaços. E quando ele tiver penetrado em todas as autoridades e em todas as instituições divinas, ele dirá: "A casa é minha, é Deus quem deve sair".

A necessidade dessa estratégia parasitária aparece especialmente no campo da religião. Não há dúvida de que Deus estabeleceu a natureza humana com o objetivo de comunicar-lhe a Revelação. Ele coordenou tudo nas faculdades humanas para que, quando a hora chegar, o homem acolha, sem dificuldade, a Religião do Verdadeiro Deus. Dá-se o nome de religiosidade natural a esse conjunto de faculdades nativas. Os teólogos falam, no mesmo sentido, da "virtude natural da religião".

Além disso, Deus estabeleceu o homem em um universo que, também, sugere ao espírito a noção de um Mestre diante do qual é apropriado prostrar-se. Seria muito interessante estudar todas as propensões religiosas da natureza humana. Aqui podemos apenas enumerar algumas delas. Observa-se em toda parte, por exemplo, o sentido da genuflexão ou da inclinação, pelos quais, para honrar alguém grande, o homem se diminui. O gosto pela prosternação já é um simulacro de aniquilamento diante daquele que nos tirou do nada; simulacro de aniquilamento levado ainda mais longe pelo sacrifício de uma vítima: "sacrifício" significa "devoção" no sentido etimológico. Também se nota o atraente pelos lugares altos da natureza, especialmente quando um episódio sagrado já se desenrolou lá. Da mesma forma, o sentido de respeitar os momentos fortes que retornam no ciclo anual. Também se observa a propensão geral à contemplação natural com sua fase preparatória necessária: a mortificação dos sentidos.

Essas inclinações espontâneas da religiosidade natural são feitas para culminar na Verdadeira Religião do Deus que primeiro se faz desejar e que depois se revela.

É nessa religiosidade que o demônio quer penetrar. Mas ela não é feita para ele. Portanto, para se introduzir nela, será necessário que ele se disfarce daquele para quem a religiosidade é feita. Ouçamos Bossuet falar sobre essa substituição:

"O demônio abole o conhecimento de Deus, e por toda a extensão da terra, ele se faz adorar em seu lugar... Ele sempre afetou fazer o que Deus fazia, como um súdito rebelde que afeta a mesma pompa que seu soberano... Ele não teve seus altares e seus templos, seus mistérios e seus sacrifícios, e os ministros de suas impuras cerimônias que ele fez, tanto quanto possível, semelhantes àquelas de Deus, porque ele é ciumento de Deus e quer parecer em tudo seu igual." (Bossuet, Primeiro sermão sobre os demônios).

O paroxismo dessa substituição do dragão por Deus, na religião, é realizado nas circunstâncias que Nosso Senhor deixa prever a seus apóstolos de todos os tempos:

"Mais ainda, a hora vem em que qualquer um que vos matar imaginará render culto a Deus" (João XVI, 2).

As falsas religiões colocam em prática a religiosidade natural comum a todos os homens, de modo que seus adeptos acreditem sinceramente render culto a Deus, que é o centro normal dessa religiosidade. Mas, na realidade, eles são colocados sob a influência espiritual de Lúcifer. É assim que por trás de cada ídolo pagão se esconde um demônio. Quando chega um apóstolo de Nosso Senhor e se aproxima demais, o demônio inspirador sugere matá-lo. E os adeptos o matam, imaginando render culto a Deus.