CAPÍTULO 18: Como a afirmação de que a divindade foi feita deve ser entendida
Também surge dúvida de outra passagem de Atanásio na mesma carta: “A divindade feita homem conformou a Igreja a si mesma através de seu Espírito.” Agora, o Mestre na quinta distinção do terceiro livro das Sentenças afirma que não se deve dizer que a natureza divina se tornou carne, como é dito: O Verbo se fez carne. Pois a afirmação: O Verbo se fez carne, é feita porque o Verbo se fez homem. Portanto, não se deve dizer que a essência divina ou a divindade se fez homem.
Mas é de se observar que a divindade não é dita ter-se feito homem porque a natureza divina foi mudada em natureza humana, mas foi feita homem no sentido de que a natureza divina é dita ter assumido uma natureza humana na única pessoa, ou seja, do Verbo. Assim também diz o Damasceno que: “a natureza da divindade em uma de suas pessoas se encarnou,” ou seja, unida à carne.
Deve-se reconhecer, no entanto, que é em uma base diferente que o Verbo é dito ser homem e a divindade é dita ser homem. Pois quando se diz: O Verbo é homem, a predicação envolvida é via informação, porque a pessoa do Verbo subsiste em uma natureza humana. Mas, quando se diz: a divindade é homem, a predicação não é via informação, porque a natureza humana não informa a divina. Em vez disso, a predicação é via identidade, como quando se diz: a essência divina é o Pai, ou: a essência divina é o Filho; pois o homem representa a pessoa do Verbo quando se diz: a divindade é homem. E o mesmo é verdade quando se diz: a divindade se fez homem, porque a pessoa do Filho começou a se encarnar, um fato implícito pelo termo homem, mesmo que a pessoa do Filho não tenha começado a existir. Pois a divindade sempre foi Filho, mas não sempre homem.