OS DIVERSOS PLANOS DO ESTUDO
Num estudo histórico, assim como no exame de uma paisagem, o primeiro passo, e não o menos difícil, consiste em fixar os diferentes planos aos quais o olhar se prenderá.
Uma vez determinado cada plano, é possível aplicar a ele a atenção com maior proveito, e ficamos nós mesmos surpreendidos com os resultados obtidos.
Diante da crise na Igreja, primeiramente somos abalados – e isso é o mínimo – por todo um turbilhão de informações, de jornais, de revistas, de livros: não é à toa que vivemos no mundo da mídia de massa. Neste oceano de notícias e ecos cem vezes repetidos, o espírito mal encontra seu caminho e, finalmente, por não discernir bem os processos e as responsabilidades, apega-se a esta certeza: tudo isso vem do Concílio.
A fórmula é cômoda, e é até verdadeira em parte, mas só em parte, e quem se apegasse a ela totalmente, de forma exclusiva, estaria em vias de não compreender grande coisa da crise da Igreja: pois por trás do primeiro plano do Concílio Vaticano II, "de onde nos vem todo o mal", perfilam-se numerosos outros planos dos quais o próprio Concílio tira seu veneno, de sorte que conhecer um sem conhecer os outros seria bastante vão.
Se remontarmos ao Concílio, que é certamente o marco divisório dos tempos modernos, distinguimos outros dois grandes eixos: o Renascimento (com a Reforma) e a Revolução. Não são apenas recortes no fio dos séculos, mas fraturas no pensamento e na vida dos homens, quase como eras geológicas.
Não nos deteremos nisso no âmbito desta breve introdução, mas já se pode presumir que o Renascimento e a Reforma foram fruto dos séculos que os precederam, notadamente os séculos XIV e XV, assim como a Revolução recolheu a herança dos séculos XVI, XVII e XVIII.
E da mesma forma, quem não compreende que a situação atual é filha dos séculos passados, muito particularmente do tempo transcorrido desde a Revolução?
Para aquele que se debruça sobre o movimento das ideias no mundo cristão há quase dois séculos, é imediatamente evidente que um elemento domina os outros a ponto de impor a todos sua coloração, por vezes, de os deformar: é o problema da Revolução.
No domínio que nos interessa mais particularmente, este problema se torna o das relações entre a Igreja e a Revolução, e poderíamos, sem forçar a nota, intitular este trabalho "Da Revolução ao Concílio"; aliás, muitos cronistas religiosos, favoráveis à causa revolucionária, reconheceram-no eles próprios, dizendo que "o Concílio foi 1789 na Igreja" ou ainda que "a Igreja fez sua Revolução de Outubro".
Com efeito, rapidamente, diante da guerra travada pela Revolução contra a Igreja e a Ordem cristã, numerosos católicos pretenderam responder pela Conversão da Igreja à Revolução: foi esse, em suas diversas facetas e seus numerosos graus que detalharemos pouco a pouco, o papel ignóbil do Liberalismo católico.
Mas, naquele tempo, o ensinamento hierárquico, ainda que na ausência de ação consistente, mantinha-se firme, e o erro era reconhecido como tal e claramente condenado.
Contudo, por volta do final do século XIX, diante dos progressos crescentes da Revolução e do enfraquecimento correlato das forças católicas, os próprios quadros cederam e a colaboração começou. Apesar de todas as proibições, teóricas e práticas, da Hierarquia, essa colaboração não cessou mais, levando consigo, pouco a pouco, parcelas mais importantes da síntese cristã, e passando assim da ação política para o domínio social, e terminando por atacar o domínio religioso.
Por um tempo freada sob o pontificado de São Pio X, essa corrosão tomou um ritmo acelerado desde a guerra de 1914-18; então foram criadas ou desenvolvidas, entre 1925 e 1945, uma profusão de instituições diversas destinadas a realizar concretamente a passagem à Revolução, e cuja ação incessante encontrou o início de seu coroamento após 1958, tendo o Concílio dado a essa ação força de lei e tornado ilegal qualquer oposição real.
Estão assim esboçados os múltiplos níveis sobre os quais nossa reflexão deverá incidir, se quiser ser objetiva – pois de nada adianta denunciar o incêndio, ainda que a grandes gritos, se não se sabe quem ateou o fogo, quem forneceu a chama, quem quis tudo isso, quem o pensou e por quê; só então se pode esperar ter abordado o problema por completo ou, ao menos, situá-lo corretamente: restaria, contudo, ainda saber por que a matéria era tão inflamável...
Assim se encontram definidos os diferentes planos de nosso estudo: mais do que o próprio Concílio, ainda demasiado recente em muitos aspectos, os grupos que o prepararam nos diversos domínios há pelo menos cinquenta anos – as circunstâncias que provocaram o nascimento desses grupos – e, por fim, a problemática geral da Igreja e da Revolução que é subjacente a essas circunstâncias.
Com efeito, antes da Revolução na Igreja, há a Revolução contra a Igreja: e isso já é, também, a Revolução no Cristianismo, pois foi no seio da Sociedade cristã que a Revolução nasceu e se desenvolveu longamente antes de atacar a Igreja.
Essa é uma evidência tão cegante que nem sempre se pensa em tirar as conclusões dela, nem em fazer as perguntas que, no entanto, se impõem por si mesmas: em que terreno minado, e por quais doenças, pôde aparecer e frutificar o vírus revolucionário? Como e por onde a síntese medieval ruiu? Finalmente, como perdurou, durante quatro séculos, essa mistura de cristianismo e revolução tão complexa precisamente por causa disso?
As raízes de nossos males vêm por vezes de muito longe, e se o racionalismo moderno tem como pai Descartes no século XVII, ele tem também como avô Guilherme de Ockham e alguns outros no século XIV.
Da mesma forma, é impressionante constatar que os atuais grupos progressistas copiam ainda mais prontamente as seitas heréticas do século XII do que os protestantes do século XVI.
Por sua vez, a obra de um Teilhard de Chardin não pareceria uma reedição, requentada com roupagem científica, das teses gnósticas e neoplatônicas dos primeiros séculos da história cristã?
Num plano semelhante, se a Maçonaria triunfa hoje, onde sua doutrina é tão geralmente difundida e aceita que ela aceita a "desocultação", é porque soube retomar, por cima da politicagem racionalista do século XIX, o espírito esotérico e pseudossespiritualista dos Rosacruzes do século XIV.
Certamente, não é possível estudar tudo de uma vez, e na exposição da metodologia prometemos apenas vislumbres, mas é indispensável nunca esquecer os planos subjacentes, nem, na análise mais parcial, o movimento de conjunto; é aí que reside finalmente a maior dificuldade de nossa empreitada, dificuldade tanto maior quanto seremos frequentemente constrangidos a colocar o carro na frente dos bois, estudando as consequências antes das causas: no mínimo, não poderemos evitar um certo emaranhado de elementos diversos que surgirão espontaneamente em função das fontes e dos trabalhos de cada um.
Essa restrição sublinha o interesse que haveria em que muitas pessoas pudessem se associar a este trabalho, cada uma segundo seus talentos, para que ele atinja rapidamente um estágio explicativo suficiente. Retornaremos a isso.
P.R.