O PADRE EMMANUEL BARBIER
Acaba de morrer um homem que honrava a consciência católica, e, em tempos melhores, teria cabido a outros que não a mim prestar-lhe esta suprema homenagem, à qual hoje gostaríamos de juntar apenas as nossas lágrimas e orações.
Mas mal soubemos desta perda por algumas linhas banais de La Croix, e, há mais de um mês, apenas um artigo emocionado de Félix Lacointa, em 25 de março, no L'Express du Midi, prestou o justo tributo da nossa gratidão a este admirável servidor da boa causa. Perdoe-se, pois, a um daqueles que, pelo menos, o abordaram frequentemente, por traçar algumas linhas em seu louvor.
Ele ocultava a sua vida com demasiada discrição para que pudéssemos dar muitos detalhes sobre a sua intimidade; os nossos amigos estão demasiado familiarizados com a sua obra para que seja necessário enumerá-la pormenorizadamente; não se encontrará aqui nenhum ensaio biográfico nem informações bibliográficas que possam satisfazer alguém por muito tempo. Apenas um grito de dor! Mas é o suficiente enquanto se aguarda a hora de uma justiça mais completa.
O padre Emmanuel Barbier tinha a quem puxar. Nasceu, com efeito, a 5 de março de 1851, em Poitiers, de uma antiga família de juristas cujos registos remontam, nos arquivos da província, até cerca de 1590.
O seu pai, conselheiro no Tribunal de Apelação de Poitiers, demitiu-se em 1880 para protestar contra as expulsões de religiosos. A sua piedosa mãe, ela própria oriunda de uma das mais honradas famílias do país, partilhou com este homem justo e evangélico a admirável tarefa de educar onze filhos, que, todos, permaneceram fiéis a esses grandes exemplos.
Conhecemos mais particularmente o mais velho, o Sr. Edouard Barbier. Entrado cedo na magistratura, também ele se demitiu no momento dos decretos. Era então procurador em Le Mans; inscreveu-se como advogado na Ordem dos Advogados de Poitiers, onde ocupou, por mais de trinta anos, uma posição ímpar: todas as congregações perseguidas o tiveram como defensor. Serviu várias vezes ao seu próprio irmão como conselheiro durante as dificuldades e os processos que as controvérsias do padre Barbier suscitaram. Morreu, enfim, em 1915, rodeado de estima universal, deixando três filhos, incluindo um sacerdote e uma religiosa.
Emmanuel foi o quarto a ocupar o seu lugar neste lar edificante. Mas foi um dos primeiros que teve de o deixar, pois, aos 18 anos, entrou no noviciado da Companhia de Jesus, e esta destinava-o ao ensino, onde se passou a maior parte da sua vida.
Era, por excelência, a sua vocação. Nascera educador, e este período não marca apenas o maior esforço da sua carreira, mas o traço essencial da sua fisionomia. Assim, desde os vinte anos, vemo-lo, sem surpresa, como supervisor e professor na célebre escola da Rue des Postes. Em 1885, aos 34 anos, é prefeito de disciplina no colégio da Imaculada Conceição em Vaugirard. Em 1888, aos 37 anos, torna-se reitor do importantíssimo externato Saint-Ignace, mais conhecido como externato da Rue de Madrid, e leva-o ao mais alto ponto de prosperidade. É ele quem, finalmente, abre, para os mais novos, no bairro do Trocadéro, a escola Saint-Louis-de-Gonzague, que desde então se tornou um grande colégio. E nenhum dos seus alunos, nem mesmo dos seus pais, terá certamente esquecido este jovem mestre enérgico e sorridente, cuja estatura, voz e porte, graças a um leve traço de rigidez que não excluía nem a graça, nem a bondade, se impunham tanto às crianças como aos homens.
Em 1895, sobrecarregado por tantos trabalhos, obteve algum descanso. Foi enviado à Província, a Poitiers, cujo colégio precisava de ser reerguido, e, em poucos meses, a título de relaxamento, restituiu a este antigo estabelecimento todo o seu esplendor.
Ao mesmo tempo, soube impor-se na pedagogia. Uma das obras mais marcantes deste período da sua vida é La Discipline dans les Collèges libres, um folheto publicado em 1884 e que nunca deixou de ser considerado por todos os educadores como um livro de cabeceira. A sua profunda piedade, contudo, não dava menos importância a pequenos livretos de devoção, como o seu Via Sacra; e é a esta vertente que se ligam, mais tarde ainda, o seu Curso Popular de Catecismo, o seu Curso Popular de História Sagrada, a sua Vida Popular de Jesus Cristo, a sua História Popular da Igreja: outros desabafos do seu zelo e das suas angústias, no outro extremo da sua vida, em plena guerra mundial, após tantos outros combates.
Aqueles que esquecessem e desconsiderassem este aspeto de uma bela figura testemunhariam, por isso mesmo, uma infeliz incompreensão do homem e do sacerdote que foi o padre Emmanuel Barbier, grande animador de obras e reputado diretor de consciências, de um mérito e de uma virtude apreciados pelos melhores juízes, antes que ele tivesse exposto tudo, por amor à verdade, às iniquidades da polémica.
No entanto, outra vertente da vida se abrira, passada a casa dos cinquenta, à sua atividade. Obrigado em 1901, pela lei sobre as Associações, a abandonar o ensino, o P. Emmanuel Barbier publicara, sob o título Mon Crime, uma série de alocuções de Colégio destinadas a esclarecer o seu jovem auditório sobre o verdadeiro alcance desses primeiros golpes dirigidos contra a Igreja; e essas páginas revelavam, num autor que até então só quisera ser didático ou edificante, tal talento para o debate e para a polémica que os seus superiores, em 1902, de acordo com os bispos da província, o designaram para o delicado posto de capelão da A.C.J.F. do Oeste, o que a todos poderia parecer o desfecho normal e o coroamento da sua carreira de apóstolo da juventude. Ora, embora a sua modéstia e discrição tivessem obstinadamente lançado um véu sobre os embaraços e contradições que encontrou nesta função, parece que esta foi para ele o motivo ou a ocasião para pedir a sua secularização. Uma rutura que lhe dilacerou o coração, mas que se impunha à sua alta consciência!
Pois outros, na mesma época, com igual ou maior brilho, quebravam o mesmo vínculo, e a quem se soube não censurar tanto ou, pelo menos, não tratar com tanta severidade, talvez porque as suas razões de desacordo tocassem menos num conflito interior de princípios. Mais do que nas civilia bella! E não queira Deus que, sobre esta tumba recém-fechada, reabramos uma querela tão triste.
Mas, em contradição com tanta calúnia, inexatidão e mentiras, multiplicadas nesta ocasião, é necessário lembrar que o P. Barbier em pessoa restabeleceu a verdade em sua dupla placa: uma explicação que não deveria ter sido necessária. Foi ele quem pediu, com insistência, para sair da Companhia; só lhe foi concedida essa licença após lisonjeiras insistências e com a expressão dos mais justificados lamentos. Apesar de tudo o que motivos inconfessáveis puderam, subsequentemente, sugerir, não só a publicistas mal informados, mas também a alguns dos seus antigos confrades, a Companhia prezava-o, e não sem razão, como se viu, como um dos seus membros aptos aos mais eminentes serviços. Ele próprio nunca deixou de nutrir pela Companhia de Jesus um sentimento filial de apego e gratidão. E, se fosse preciso voltar a este ponto, poderíamos evocar, a este respeito, testemunhos brilhantes e dizer dele que veio, na hora das mais cruéis dissensões, a eminente atestação: “És tu que permaneceste o verdadeiro filho de Santo Inácio!”
A sua retirada, com efeito, não deveria durar muito inativa. Mal se abrira ao vasto horizonte da política religiosa, o olhar perspicaz deste educador não tardou a discernir o perigo doutrinal e disciplinar que ameaçava as jovens almas que ele se tinha proposto guiar. O seu espírito justo e reto descobria a fórmula que, pouco a pouco, se imporia a todos.
Foram, ano após ano, o Cas de conscience, Rome et l'Action libérale populaire, Les Démocrates chrétiens et le modernisme, e sobretudo a admirável série contra Le Sillon: Les erreurs du Sillon, Les idées du Sillon, Le Sillon, qu'a-t-il répondu?, La décadence du Sillon. E é-nos permitido hoje escrever que estes estudos prepararam, por um lado, a elaboração, sob o pontificado de Pio X, das novas diretrizes pontificais, por outro lado, a fulgurante condenação de H. Marc Sangnier pela Carta Notre charge apostolique.
Um infeliz, que, antes de apostatar, gabava-se de ter, por uma hábil rapsódia, para além desta mina inesgotável de argumentos e documentos, fornecido a matéria e os fundamentos da sentença, teve de calar-se perante a evidência do seu plágio. E, sem dúvida, os ressentimentos superexcitados por tanta clarividência e coragem encontraram uma fácil vingança.
Foi em 1906 que o padre Barbier publicou, pela Lethielleux, Le progrès du libéralisme catholique en France sous le pape Léon XIII. Um trabalho sério, indispensável a todos os historiadores religiosos dessa época. O padre Barbier dedicou-lhe toda a sua alma, e nada mudou nele em vinte anos. Mas o título e algumas formulações da tese questionavam demasiado cedo e diretamente o nome e a política de um Pontífice que mal tinha descido do trono de São Pedro. A epígrafe, nessas condições, assumia a forma de um epigrama, e a hora da história ainda não tinha soado. Algumas altas personalidades eclesiásticas, feridas nos seus preconceitos mais contestáveis, sentiram-se atingidas nas suas legítimas posições. O Index proibiu o livro prematuro e o autor, segundo a fórmula, “submeteu-se humildemente”.
Até tal era a delicadeza ou, se quisermos, a suscetibilidade deste grande coração que ele resistiu até ao fim às sugestões da mais alta autoridade, que, mais tarde, mediante o sacrifício da capa e de algumas expressões mais vivas, o impulsionou a redigir, a título de resposta a baixas injúrias e quase como forma de reparação, estes dois volumes tão densos de realidades. O padre Barbier receou parecer ter pedido clemência, quando tinha a certeza de obter melhor um dia da posteridade imparcial. Preferiu deixar que dissessem à vontade, contra ele, tudo o que quisessem, em vez de dar a entender que não era capaz nem de um sacrifício nem de um silêncio pela honra da santa Igreja.
A provação, aliás, foi-lhe benéfica, como o é para todos aqueles que a aceitam do alto. Foi dela que surgiu a preciosa coleção da Critique du libéralisme, a obra-prima do padre Barbier. E não se espera de nós que analisemos a série destas entregas que vão de 15 de outubro de 1908 até à declaração de guerra. Bastará uma palavra para qualificar este intrépido esforço: a sua história permanece indissoluvelmente ligada, de agora em diante, à história, em França, do pontificado de Pio X, ou seja, da suprema tentativa que vimos em nosso país de restauração católica.
O padre Barbier, na obra coletiva que o Papa propunha empreender, escolhera instintivamente a parte mais perigosa e mais ingrata. Não, como se terá talvez pensado, pela inclinação de um temperamento batalhador, excessivo ou orgulhoso. Ninguém foi de gosto menos aventureiro, mais inimigo da estridência, menos capaz de qualquer ambição, categórico e firme, mas sempre de bom humor, indulgente para com os seus piores adversários! Por vezes negligenciado, se quisermos, quanto à composição, sem pretensão quanto à originalidade teológica, contentava-se, entre essas grandes crianças que são até os publicistas mais reputados, em chamar à ordem, com reserva, as turbulências, as incompetências, as imperfeições que jamais o perdoaram. É tudo, e é o suficiente para o seu elogio, bem como para explicar tantos ódios retumbantes e tantos silêncios odiosos ainda aniquilados em redor do seu caixão.
Foi então que tive a honra de me tornar seu colaborador e amigo. L'Univers e a Critique encontravam-se naquela época em desacordo. A Critique limpou sem cerimónia alguns dos meus artigos de L'Univers. Fui ter com o P. Barbier, que não conhecia, para lhe dizer que, no fundo, ele tinha razão, mas que estaria errado, uma vez que eu era o primeiro a reconhecer os meus lapsos, em ver em mim um inimigo. E foi assim que aprendi a amá-lo.
Pois, em vez da lenda de corrigidor azedo e bilioso, encontrei o espírito mais aberto, o conselheiro mais afável e o amigo mais fiel de quem tenho razões para me honrar. Conheci, durante vinte anos, os seus sofrimentos, as reações do seu coração perante as terríveis vicissitudes da nossa profissão comum. É por isso que teria sido difícil não poder dizer em lugar nenhum que respeito, que admiração soube inspirar aos militantes da minha geração este ancião, que ostentava tão alto os seus cabelos brancos, como um soldado, mas cujo coração era o do mais paciente curador de feridas: doce, exato e moderado, como um cirurgião ou como um juiz, face às piores explosões do erro e do ódio.
Mesmo antes do seu último número de agosto de 1914, o P. Barbier, é verdade, sentia-se envelhecido e desanimado. Em vão, algumas semanas antes, tínhamos visto com os nossos próprios olhos, e beijado com ele com os nossos lábios, os preciosos testemunhos de estima, afeto e agradecimento que o Papa Pio X lhe acabara de conceder. Ele sentia que era ainda muito pouco, não para si, que se considerava pessoalmente satisfeito, mas para uma causa cujos poderosos inimigos cresciam cada dia em audácia, reorganizavam-se na sombra, preparavam a vingança. E ele tinha razão. A guerra levou tudo, e Pio X, e as frágeis barreiras que ele tinha apressadamente erguido contra dez invasões anunciadoras do cataclismo final.
O P. Barbier morreu devido a esta ameaça e a esta catástrofe. Apenas um surto de energia, dominando as angústias do seu coração sobrecarregado, lhe permitiu terminar a última obra que nos resta dele como o seu verdadeiro testamento espiritual: Histoire du catholicisme libéral et du catholicisme social en France, du concile du Vatican à l'avènement de S.S. Benoît XV (5 vols., mais um índice, Bordéus 1923). Testamento, digo eu, apesar das suas proporções, e não "nomeador". Pois talvez falte ao autor, em todos os preliminares da sua história, a informação completa que se teria o direito de esperar de um analista de profissão; é aqui, antes, uma introdução útil e sumária às controvérsias de um tempo que o P. Barbier conheceu de forma mais direta. No entanto, desde 1900, ele mal estudou o lado dos assuntos que mais lhe prendeu a atenção, ou seja, as diversas evoluções do catolicismo liberal e a sua orientação revolucionária sob o disfarce da democracia cristã. Ele não tocou nas infiltrações neopagãs de outra escola, nem sequer reteve o que tinha vislumbrado das infiltrações judaico-maçónicas na França católica contemporânea. Deliberadamente, da mesma forma que quis parar em 1914, cingiu-se ao objeto imediato das suas pesquisas e da sua experiência. Mas seria iníquo e vão censurá-lo por isso. Cada homem tem a sua tarefa aqui em baixo, que basta para ocupar a sua curta vida. O P. Barbier cumpriu bem a sua, e queira Deus que cada um de nós cumpra tão escrupulosamente a que lhe foi reservada!
Ele morreu. Há já vários anos que se sabia perdido e encarava a iminência do seu fim com uma coragem comovedora. Encontrávamo-nos cada vez menos, exceto na passagem por Paris de amigos comuns, antigos companheiros de lutas que continuavam a considerá-lo, contra a sua vontade, como um mestre sempre em forma e na linha da frente, apesar dos seus 74 anos.
No final de 1924, ainda quis proporcionar-nos, na Rua Ampère, 10, em memória dos nossos encontros de outrora, a mais íntima e calorosa receção que nos tinha reservado, como para protestar, por uma delicadeza do seu coração, contra esta dispersão da vida, com as suas incessantes mudanças de situação e de fortuna, imposta aos mais sinceramente apegados entre nós.
Mas, há dois meses, ele já quase não se levantava, sujeito a crises de sufocamento cardíaco que torturavam as suas noites e os seus dias. Três semanas antes da sua morte, ele próprio pediu os últimos sacramentos, e foi finalmente a 22 de março que, piedosamente, entregou a Deus a sua alma, que tanto amou a justiça aqui na terra e que o céu, esperamos, a saciou.
Após uma curta cerimônia na igreja Saint-François-de-Sales, a sua paróquia, onde celebrou a missa por tanto tempo, o seu corpo foi transportado para Poitiers, onde as suas exéquias se realizaram a 26 de março, no meio de uma numerosa assistência, apesar da abstenção forçada de tantos amigos que só ele conhecia. Os cordões do féretro eram sustentados pelo R.P. Troussard, da Companhia de Jesus, pelo Sr. padre Pannier, arcipreste de Montmorillon, antigo prefeito de estudos do colégio Saint-Joseph de Poitiers, pelo Sr. Montardy, presidente da associação dos antigos alunos do mesmo colégio, e pelo Sr. de Leffe, bastonário da Ordem dos Advogados de Poitiers. O R.P. d'Ambrières, S.J., reitor atual do colégio Saint-Joseph, também participou nas exéquias.
Assim, perante a morte, por vezes abrandam-se tantas prevenções que tornam a vida penosa, e este não é o menor presságio da inteira justiça que a posteridade católica infalivelmente renderá à memória deste grande homem de bem. Sem o colocar no patamar de um Veuillot como polemista, nem de um Pio X, cuja maior glória será ter servido valorosamente no seu posto, aqueles que vierem depois de nós saberão, pelo menos, que o R.P. Emmanuel Barbier foi um dos mais valentes e irrepreensíveis artesãos do renascimento religioso cuja aurora talvez ele tenha saudado ao morrer.
Só o seu espírito, aliás, pode salvar o movimento atual, ainda tão tumultuoso, do "perigo das confusões e equívocos, ao qual uma obra tão difícil e tão vasta não pode escapar" nem hoje nem ontem, como falava recentemente Sua Santidade Pio XI; e a Declaração dos arcebispos e cardeais de França pareceu o eco de tantas campanhas corajosas, dirigidas por ele, durante 25 anos, contra o flagelo do liberalismo. Assim, ele desbravou, e outros semeiam; mas não é sem perigo que aqueles se mostram esquecidos ou ingratos em relação ao pioneiro intrépido que, o primeiro, cavou num solo rebelde, através dos nevoeiros acumulados por um século de utopias, o verdadeiro sulco onde já aponta a promessa das colheitas futuras...
ROGER DUGUET (padre Paul Boulin)
Extrato do Bloc Catholique - março/abril de 1925.