A PROPÓSITO DO MÉTODO
A intensidade que a crise que assola a Igreja atingiu nos últimos quinze anos finalmente abriu os olhos de um grande número de católicos, e contribuiu para que muitos se questionem agora sobre as verdadeiras questões e, sobretudo, o problema essencial: como a Revolução pôde penetrar a tal ponto no seio do Cristianismo?
A essa questão, não pretendemos apresentar uma solução simples, pois não há; mas isso mesmo, na medida em que se reconhece, é um começo de resposta, e é, aliás, o único que convém fornecer de início.
Essa complexidade, que é preciso admitir de antemão, não deixa de levantar, por sua vez, numerosos problemas de método; com isso não entendemos apenas as dificuldades comuns a qualquer estudo, como a pesquisa e a crítica bibliográficas: trata-se propriamente do método necessário para não esquivar a riqueza da matéria e para, ao contrário, abordá-la simultaneamente em seus diferentes planos e em suas interações.
O método cronológico é o primeiro que nos vem à mente: remontar o tempo, passando das consequências às causas, parece uma solução sedutora, simples e fácil. Na realidade, ela apresentaria demasiados inconvenientes se empregada sozinha: os elementos da História não se sucedem como as letras do alfabeto; eles estão ligados de mil maneiras, à maneira dos diferentes sistemas do corpo humano; assim, tal carência que se produz em um dado momento só dará seus frutos cinquenta ou cem anos mais tarde, quando coordenar seus efeitos com uma nova necessidade ou uma nova situação, independentes dela.
É por isso que à análise cronológica associaremos a noção mais sintética de domínio: assim, diante de uma deficiência na formação filosófica, tentaremos remontar o curso do tempo buscando as diversas lacunas nessa matéria; diante de um desvio litúrgico, pensaremos em outras incompreensões anteriores, em outros desvios, mesmo diferentes, concernentes ao mesmo assunto.
Por outro lado, o historiador pode percorrer o tempo de duas maneiras: a jusante e a montante; de acordo com as matérias, poderá ser mais interessante proceder de forma descendente e, nomeadamente quando uma questão já está desbravada, pode bastar fazer uma simples recapitulação e não uma análise aprofundada.
Uma terceira noção importante é a de limiar ou, o que é o mesmo, a de maturação: os movimentos no nível coletivo são sempre lentos e se estendem por décadas antes de manifestar seu verdadeiro significado.
Notemos de passagem que há aqui uma lição rica em ensinamentos para quem se preocupa com a ação, com a ação realizada, claro, pois o ativismo pouco se preocupa com isso.
Esta maturação, esta necessidade de um prazo por vezes bastante longo, tem consequências que podem ser graves: não é raro que, entre sua raiz e seu desfecho, uma empreitada possa ser desviada de sua direção própria; assim, o movimento litúrgico que, de Dom Guéranger a Annibal Bugnini, se viu diametralmente invertido em um século.
É que, entretanto, interpuseram-se uma infinidade de problemas que contribuíram para deturpar o ímpeto inicial, de sorte que, para uma questão semelhante, a renovação litúrgica, a resposta [original] de 1870 tornou-se o exato oposto daquela [que se manifestou mais tarde].
Este desvio nos remete ao que dizíamos no início destas linhas a propósito da interação dos domínios. Assim, no caso da revolução litúrgica, não bastará examinar os seus antecedentes, a degradação da prática litúrgica nos séculos que a precederam, ou a deformação jansenista, mas será indispensável debruçar-se sobre os movimentos paralelos que a influenciaram: a questão social, a questão política e a adesão às formas revolucionárias, a evolução dos estudos religiosos e, nomeadamente, da exegese bíblica, os progressos do ecumenismo prático, a ascensão ao poder das redes progressistas após a Primeira Guerra Mundial e sobretudo após a Segunda, etc.
A este respeito, a crise litúrgica, além do facto de estar atualmente em destaque, é das mais interessantes pelo grande número de elementos que mobilizou: pois, da mesma forma que ela foi para muitos Tradicionais a ocasião do Non Possumus em face da Revolução, ela constituiu para os seus promotores a operação que deveria fazer o abalamento do catolicismo transpor um ponto de não retorno decisivo; quem poderia dizer que eles não atingiram o seu objetivo?
Resulta de todas estas observações que, de forma geral, o nosso trabalho não poderá assumir a forma de uma bela exposição sintética que pretenderia expor tudo em poucas páginas, do tipo "e eis por que sua filha é muda...".
Na maioria das vezes, procederemos por exames parcelares, luzes lançadas sobre diversos aspectos da questão, mantendo a vontade de criar como um arco-íris completo deste feixe de iluminações convergentes.
Esta forma de proceder, a única que é possível na prática, a ponto de não resultar, a bem dizer, de uma escolha, corre o risco de surpreender algumas pessoas e, talvez, de as desapontar. Pedimos-lhes que façam o esforço de se integrar neste método: no início, sem dúvida, devido ao ritmo forçosamente lento dos nossos trabalhos, este esforço será importante, mas, posteriormente, quando os primeiros resultados começarem a desenhar um conjunto coerente, cada um encontrará a recompensa da sua paciência.
P.R.