APÊNDICE I
Não só muitos leigos e clérigos não denunciam o sofisma universitário como tal, mas se empenham em reduzir a Fé ao denominador do modo de conhecimento e de pensamento que elaborou o sofisma.
Que estranha maneira de extinguir o conflito, a de sustentar os argumentos do adversário! Certamente, arrebatados pelo clima intelectual de nossa época e por eclesiásticos que se comprazem em se imbuir dele, os pensadores católicos estão a tal ponto imbuídos das verdades "construídas" no decorrer das teorias profanas, que manifestam um complexo de inferioridade em relação às verdades da Revelação, em suma, aos dogmas fundamentais do cristianismo — como se a posição fundamental do católico repousasse no estado atual das pesquisas profanas! Essas pesquisas, contudo, não têm por objeto a verdade, já que só aceitam como real o que o pensamento estabelece como tal – o que significa sustentar que a verdade é a conformidade do pensamento, não com o real, mas consigo mesmo: é a negação da verdade objetiva e, para além dela, da Verdade Primeira, a qual é objetiva, visto que não é senão o próprio Deus: a Verdade plena e o Ser pleno são uma só e mesma coisa, Deus – o que já haviam reconhecido Sócrates, Platão e Aristóteles.
Ao se recusarem a reconhecer que os sofismas atuais são veiculados por cientistas, historiadores e filósofos que propõem simples hipóteses como certezas adquiridas, quando, na melhor das hipóteses, estas são e sempre serão "possíveis", ou mesmo asserções objetivamente falsas como exigências da ciência ou da filosofia (mecanismo atômico ou não, determinismo-indeterminismo "científico", evolucionismo naturalista, hilozoísmo à Bergson ou à Teilhard, exegese à Hegel ou à Renan, etc.), nossos pensadores católicos não cessam de elaborar, dia após dia, um "concordismo" entre essas "verdades construídas" e a verdade de Cristo e a verdade da Tradição da Igreja — sem perceber que isso é reduzir o infalível ao falível, o sobrenatural ao natural, o divino ao humano e, assim, garantir as condições do panteísmo em todas as suas formas.
Um insensato retrocesso, devido a uma preguiça da inteligência, uma vez que se insere, sob o pretexto de novidade, nesse clima intelectual, não só anterior ao cristianismo, mas também anterior ao pensamento socrático — ao passo que os pensadores da Antiguidade, preocupados em se evadir do politeísmo e do caos mental que ele engendra, eles, sim, buscavam a verdade, e, melhor ainda, a verdade objetiva e una, Deus. É assim que esses intelectuais católicos, teólogos ou não, por submissão ao racionalismo universitário, do qual se nutriram desde a mais tenra infância e pelo qual se vangloriam de ter obtido suas licenciaturas, habilitações ou doutorados, perderam o sentido do real e o senso da finalidade — como faz Lutero e como, antes dele, a isso conduziram os geradores do "neo-agostinismo", elaborado contra o tomismo, pois Lutero não é senão um filho espiritual, assim como Descartes, promotor, por sua vez, da filosofia protestante, da qual Berkeley, Kant, Fichte, Hegel, Marx, Heidegger, etc., serão os artífices.
Eles negam à razão humana a capacidade de postular racionalmente a existência de Deus: é a negação da metafísica, é o naufrágio, para esses católicos, no fideísmo, com sua fatalidade, o ateísmo, como notava Paulo VI. Como, então, o católico, teólogo ou não, cientista ou não, filósofo ou não, sacerdote ou não, faria a oferenda de sua inteligência a Deus, já que a inteligência não mais O reconhece como fonte tanto do ser quanto da inteligibilidade de todas as coisas? E que fé é essa que não se enraíza mais na inteligência, senão uma fé que não reconhece mais seu objeto próprio, Deus?