Um Doutorado em Gnose?
A gnose, cujas grandes etapas relembramos, pode, no seu conjunto, ser definida como "a teologia da contra-igreja". Ora, nos dias de hoje, é um fato incontestável, a contra-igreja domina o Estado. Portanto, é lógico que ela busque impor sua teologia ao Estado. Pode-se, teoricamente ao menos, esperar uma oficialização progressiva da gnose. A revista Epignosis e o G.R.A.C. fornecem um sintoma desse começo de oficialização.
«Epignosis é o órgão do Grupo de Pesquisa de Antropologia Criacional, fundado na Universidade de Perpignan, em 1982».
Esta menção aparece no cabeçalho de todos os cadernos, desde o primeiro. Cada número traz também a seguinte menção:
«Este número foi produzido com o apoio da Universidade de Perpignan».
O "Copyright" também é registrado em nome do G.R.A.C. e da Universidade de Perpignan. Quanto às modalidades de pagamento, os assinantes são solicitados a enviar seu cheque ao Sr. agente contábil da Universidade de Perpignan. O patrocínio não poderia ser mais completo.
Existem, em todas as Universidades da França, e mesmo da Europa, "células gnósticas" semelhantes. Todos sabem que, em nossas faculdades, o que não é marxista é gnóstico. Isso significa que uma cátedra de gnose está sendo constituída em cada universidade? Não é apenas uma cátedra, pois a gnose, como vimos, se pretende pluridisciplinar. Os gnósticos, portanto, tendem a estender sua influência sobre uma série de disciplinas e até sobre todas: sobre as disciplinas que podemos chamar "qualitativas" assim como sobre as "quantitativas", já que se fala da "união do materialismo espiritual e da física gnóstica". O G.R.A.C. não esconde sua intenção de inspirar todo o ensino.
Epignosis se regozija em constatar que muitos organismos, tanto privados quanto públicos, militam nesse mesmo sentido. Alguns o precederam, outros o seguiram. Em posição de destaque vem, obviamente, a Fundação Etanos de Ascona, que reúne os discípulos de Jung e os partidários do "sagrado sem deus"; foi para reunir os membros dessa fundação em uma memorável sessão de trabalho que France-Culture organizou o Encontro de Córdoba.
Vem em seguida o "Centro Interdisciplinar de Estudos Filosóficos" da Universidade de Mons, na Bélgica. Na mesma linha, a revista menciona o "Grupo de Pesquisa sobre os Símbolos" da Universidade de Genebra e a "Sociedade Internacional de Simbolismo". Menção também ao muito ativo "Centro de Pesquisas sobre o Imaginário" de Chambéry-Grenoble. A "Universidade São João de Jerusalém" merece também, por parte de Epignosis, a saudação devida a um grande veterano. O "Grupo de Estudo Carl-Gustave Jung" faz parte desses organismos de inspiração gnóstica. Nota-se ainda a fundação, em Liège, em 1978, do "Instituto Nacional de Antropologia" (I.N.A.C.). Além disso, destaca-se a formação do "G.RE.CO 56", que coordena uma importante parte desse tipo de pesquisa sob os auspícios do C.N.R.S. E a enumeração termina, muito provisoriamente aliás, com a evocação dos "diversos institutos e laboratórios de pesquisas sobre o imaginário nas universidades francesas". Vê-se imediatamente que Perpignan não tem o monopólio da gnose.
Tais são os órgãos oficiais ou semi-oficiais que a revista Epignosis menciona como atuando, no meio universitário, na mesma direção que ela. Parece-nos que se pode ver aí o anúncio de uma oficialização do ensino da gnose em nossas faculdades. O futuro dirá se acertamos em nossa previsão.
Se essa eventualidade vier a ocorrer, os cidadãos dos Estados modernos terão direito, quanto à religião, a duas opções. Certamente terão o direito de ser ateus. Mas se forem religiosos, serão considerados oficialmente gnósticos; e assim será até mesmo para os cristãos, pois o cristianismo, como repetidamente nos dizem, não é senão um caso particular da gnose, que é a teologia da religião universal.