Nada de Mística Devocional
R. Guénon precisa incansavelmente em todos os seus livros que a via metafísica é "puramente intelectual". Ele entende com isso que ela não é, sobretudo, devocional e sentimental. Não é uma atitude religiosa, é uma atitude filosófica. De fato, em seu sistema (do qual ele declara que é aquele da Índia imemorial, o que nós tomamos cuidado para não confirmar), não se trata de dilatar sua alma, por um sentimento de amor, para receber o hóspede divino; trata-se apenas de um esforço especulativo que consiste em se identificar a si mesmo com seu próprio princípio. É, portanto, um procedimento de intelectual, e não de devoto.
Ele consagrará, então, numerosos capítulos para explicar a posição relativa da "via metafísica" que é a sua e da simples mística religiosa. Eis a substância de seu raciocínio.
A via metafísica, própria às disciplinas esotéricas, está tão acima da "mística religiosa" quanto o Princípio supremo está acima do Deus pessoal. A "via mística" é praticada nas religiões populares, devocionais e exotéricas, em particular no catolicismo. Mas ela tem como objetivo apenas o Deus pessoal e criador, o qual não é senão uma "determinação particular" do Princípio supremo.
Para compreender bem os desenvolvimentos de R. Guénon, é preciso ter apreendido esta relação de subordinação entre as duas vias contemplativas. A via mística não é, segundo ele, senão uma exaltação sentimental completamente subjetiva, enquanto a via metafísica conduz a um ponto de observação que domina ao mesmo tempo a criação e o criador.
O cristão que examina uma tal doutrina só pode rejeitá-la. E isso por duas razões.
Primeiro, é falso que o Princípio Supremo domine o Deus Criador e Pessoal. O Deus que se revelou é ao mesmo tempo existente e infinito. Ele não está subordinado a nenhum princípio externo a Ele, pois é Ele quem estabelece os princípios. Não há princípios, por mais abstratos que sejam, que estejam acima de Deus. Ele não é escravo de nenhuma lógica, pois é Ele quem a elabora e a dá como regra aos nossos espíritos humanos. Portanto, devido ao objeto a que ela conduz, é a via mística que é superior e ao mesmo tempo a via mais realista, pois ela conduz ao verdadeiro Deus.
Enquanto isso, "a via metafísica" é uma via ilusória, pois conduz, no melhor dos casos, a uma abstração. Dizemos no melhor dos casos, porque de fato o hálito gelado de Lúcifer se mistura, na maioria das vezes, a todas essas especulações, por mais intensas e extáticas que sejam.
Uma segunda razão justifica a desconfiança dos cristãos. A "via metafísica" de R. Guénon está longe de ser tão "puramente intelectual" quanto ele gostaria de dizer. Ele mesmo explica longamente que ela é baseada nos princípios do yoga. Ora, o yoga consiste na ascensão da "Kundalini". Definida em termos simples e evitando as palavras hindus, a Kundalini é um nó de sensibilidade psíquica que normalmente reside na região lombar e que o yoga tem o efeito de fazer subir, em etapas sucessivas, ao longo da coluna vertebral, até a região cervical.
R. Guénon admite que o treinamento realizado pelo yoga é uma excelente preparação para "a via metafísica", a qual, consequentemente, está longe de ser tão "puramente intelectual" quanto ele afirma.
Portanto, não se deve deixar impressionar pelos raciocínios do "Esfinx". Sua terminologia induz à confusão. Devemos lembrar que sua "metafísica" e a "via" pela qual ela é completada não são uma filosofia. Elas constituem uma mística, mas uma mística que não conduz ao verdadeiro Deus. Ela conduz ao nirvana e representa, na realidade, uma das formas mais características do que os mestres cristãos da vida espiritual chamam de "falsa mística".