O Saber e o Poder
A ideia de transfiguração é uma das que aparecem com mais frequência nas páginas da Epignosis. Ela nunca é claramente definida, o que é quase uma regra nas exposições gnósticas. A transfiguração designa a "passagem a um modo de ser inédito da existência terrestre". E o agente dessa passagem será obviamente o homem, pois ele também é co-criador. O homem é um ser "mutal" submetido a uma dinâmica de transformação; ele possui "um estatuto ontológico fundado na mutação, uma capacidade evolutiva indefinida".
"O objetivo prático do esoterismo é transformar o homem e aperfeiçoar a criação. Trata-se, portanto, de uma energética da metamorfose universal, tendo tantos pontos de partida quanto há pessoas envolvidas no processo, pois é sempre preciso partir de si mesmo. A justa compreensão e a utilização correta das energias criadoras (humanas, cósmicas, divinas) permitem um desenvolvimento integral de nossas possibilidades. Elas nos conferem a todo-poderosa benéfica: a capacidade de estar acima do mundo e, simultaneamente, de viver dentro do mundo, agindo como artifex através de tudo". (Nº 1, 1º caderno, p. 31)
Essa transfiguração geral, nós a encontramos frequentemente, particularmente em R. Ruyer e em R. Abellio. Ela leva ao advento de uma super-humanidade. Mas, como nos fazem notar, "não esqueçamos que cada um de nós carrega em si o germe de sua divindade". Também devemos lembrar "do caráter teândrico da natureza humana". Daí a super-humanidade cuja chegada nos é anunciada será uma humanidade de deuses:
"a antropologia bem compreendida conduz, portanto, à teogênese" (p. 9).
A teogênese, de acordo com a etimologia da palavra, é a arte de fabricar deuses. Esse é precisamente o papel do "conhecimento gnóstico".
A ambição de superar as gnoses anteriores obviamente não é alheia à empreitada do G.R.A.C. O nome Epignosis indica claramente que se visa a uma super-gnose. A síntese empreendida, de fato, se pretende absolutamente geral. Ela abrange todas as religiões, incluindo a religião cristã, é claro, e todas as ciências; ela também compreende todas as místicas e todas as filosofias. Trata-se, diz-se, "da união do materialismo espiritual e da física gnóstica". Compreende-se que essa síntese não possa se realizar sob o modo sincrético, que exigiria uma amálgama homogênea impossível de ser elaborada com constituintes tão numerosos e tão díspares. Ela é concebida sob a forma da unidade transcendente (à maneira de Schuon), ou seja, da unidade esotérica deixando subsistir, na base, um certo pluralismo.
O G.R.A.C. conseguirá impor sua super-gnose? Isso é pouco provável, pois ele próprio não está situado no topo da hierarquia esotérica. Um sintoma mostra isso quase com certeza. Nos desenvolvimentos sobre a vida interior e a contemplação, os autores da Epignosis chegam naturalmente a falar da iniciação e a apresentam como o desfecho normal do treinamento meditativo. E o que é muito claro é que eles a recomendam, mas não a conferem.
Ora, para todos os espíritos que frequentam o mundo iniciático, existe uma distinção clássica entre o círculo do "saber" e o círculo do "poder". Como eles recomendam a iniciação sem conferí-la, isso significa que o G.R.A.C. (enquanto tal) pertence ao "círculo do saber" e não ao "círculo do poder". Ele não constitui, portanto, uma congregação iniciática. Ele ensina uma gnose a uma elite ampla destinada a sua vez a ensinar o grande público. Mas existe indubitavelmente, acima dele, uma congregação iniciática que confere poderes e da qual o G.R.A.C. é apenas o aparelho de ressonância, voltado para o exterior.
Temos aqui a resposta à questão que colocávamos anteriormente. Por que o G.R.A.C. se contenta em elaborar e difundir uma "sabedoria universal" capaz de inspirar uma "religião universal" e por que não toca na parte sacramental? É simplesmente porque ele pertence ao círculo do saber e não dispõe dos poderes que lhe permitiriam conferir a iniciação. Epignosis é uma revista ainda muito jovem para que possamos discernir o que constitui sua superestrutura. Trata-se de uma rede iniciática oriental? É possível, mas não certo. Ou então não seria simplesmente a maçonaria?