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O Pleroma Valentiniano

Com Valentim, chegamos ao auge da "gnose histórica". Egípcio de nascimento, ele frequentou a Escola de Alexandria, onde se familiarizou não apenas com as teorias gnósticas, mas também com a filosofia neoplatônica e até com as doutrinas pagãs do antigo Egito, sem contar, é claro, com o cristianismo ortodoxo que todos estudavam com afinco. Valentim era, portanto, uma pessoa de grande cultura.

De aluno, tornou-se professor e logo ensinava em Alexandria. Depois, mudou-se para Roma, onde permaneceu por muito tempo. Ele morreu em Chipre, onde, segundo São Epifânio, teria se convertido à verdadeira Religião in articulo mortis. Mas seus discípulos permaneceram na gnose e se dividiram em duas escolas: a escola oriental e a escola itálica, cujas doutrinas não diferem essencialmente.

Não parece que Valentim tenha escrito muito. Conhecemos suas teorias através de seus discípulos, assim como dos escritores da Igreja que as citavam para refutá-las.

Valentim adota o sistema dos três mundos já exposto por seus predecessores, Menandro, Saturnino, Basílides: um mundo divino, um mundo intermediário e um mundo humano. Mas ele o enriquece com complementos tirados certamente de suas leituras, mas também de sua mística, a famosa "apreensão intuitiva" dos gnósticos. E ele chega a uma construção brilhante que exerceu uma verdadeira fascinação sobre as mentes.

O mundo superior, ou mundo divino, é por ele chamado de Pleroma, que significa "plenitude". Mas já é, como veremos, um meio extremamente complexo.

No topo do Pleroma, reside o Deus-Princípio, que é a unidade global. Esse Deus-Uno, no entanto, se multiplica por emanação. Ele gera primeiramente uma díade: o casal "Nous-Alétheia" (Espírito-Verdade). Deste primeiro casal, ainda por emanação, surge um segundo: "Logos-Zoé" (Verbo-Vida). Deste segundo casal emana um terceiro: "Anthropos-Ecclesia" (Homem-Igreja). Observa-se que essa série de casais, emanados uns dos outros, está diretamente relacionada ao sistema de sízígias que já observamos na gnose simoniana.

Mas o Pleroma de Valentim ainda não está completo; faltam-lhe a década e a dodecada. Aqui está como elas vêm a existir. O casal "Espírito-Verdade" produz dez éons que formam a década. Depois, o segundo casal "Verbo-Vida" produz doze éons que constituem a dodecada. Esta aritmética do mundo pleromático, ou seja, do mundo divino, impõe a comparação com as dez sefirotes, esses "números-criadores" que se tornarão, muito mais tarde, um dos temas favoritos da mística judaica, sobre a qual tanto se fala hoje. Aqui, Valentim precedeu a Cabala.