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III - Isso não é uma curiosidade, mas uma pregação

Isso não é uma vã curiosidade, mas uma pregação salutar, fazendo soar do alto do púlpito certas verdades que servem maravilhosamente para reprimir a insolência dos libertinos, às quais, falando sempre da misericórdia de Deus e da facilidade de se converter, vivem mergulhados em toda sorte de pecados e dormem com segurança no caminho da perdição. Para os desiludir e os acordar de seu torpor, examinemos hoje essa grande questão: o número de cristãos que se salvam é maior que aquele de cristãos que se perdem? Almas piedosas, retirai-vos, este sermão não é para vós: ele tem unicamente por objetivo reprimir o orgulho desses libertinos que, matando em seus corações o santo temor de Deus, se ligam ao demônio, o qual, no sentimento de Eusébio, perde as almas tranquilizando-as "immittit securitatem ut immittat perditionem". Para resolver essa dúvida, colocai de um lado os Padres da Igreja, tanto gregos como latinos, e de outro os teólogos mais sábios, os historiadores mais eruditos e ponha no meio a Bíblia exposta ao olhar de todos. Escutai, pois, não o que eu vou dizer-vos, pois eu vos declarei que não queria tomar eu mesmo a palavra nem decidir a questão, mas sim o que vos dirão esses grandes espíritos que servem como de faróis na Igreja de Deus, para esclarecer os outros afim de que eles não percam o caminho do céu. Dessa forma, guiados pela tripla luz da Fé, da Autoridade e da Razão, nós poderemos resolver seguramente essa grave questão.

Observai bem que não se trata aqui de todo o gênero humano, nem de todos os católicos sem distinção, mas somente dos católicos adultos que, tendo o livre arbítrio, podem cooperar na grande obra de sua salvação. Consultemos em primeiro lugar os teólogos no qual reconhecemos que examinaram as coisas de mais perto e não exageraram em seus ensinamentos; escutemos dois sábios cardeais, Caetano e Belarmino: eles ensinam que a maior parte dos cristão adultos de perdem, e, se eu tivesse o tempo de vos expor as razões sobre as quais eles se apoiam, vocês delas estariam convencendo a vós mesmos. Eu me contentarei em citar aqui Suarez que, depois de ter consultado todos os teólogos, depois de ter estudado atentamente a questão, escreveu essas palavras: "o sentimento mais comum toma que no meio cristão mais reprovados que predestinados".

Se, diante da autoridade dos teólogos, vocês quiserem juntar aquela dos Padres gregos e latinos, achareis em quase todos que dizem a mesma coisa. É o sentimento de São Teodoro, de São Basílio, de Santo Efrém, de São João Crisóstomo. Mais ainda, na exposição de Baronius, era uma opinião comum entre os Padres Gregos que essa verdade foi expressamente revelada à São Simão Stilita e que era para assegurar o negócio de sua salvação que ele decidiu, logo após essa revelação, viver em pé durante quarenta anos sobre uma coluna, exposta a todas às variações do tempo, modelo para todos de penitência e de santidade. Consultai agora os Padres Latinos, e vós escutareis São Gregório Magno dizer-vos em termos claros: "Muitos vem a obter a fé, mas poucos o reino celeste". "São poucos que se salvam", diz Santo Anselmo, e Santo Agostinho fala ainda mais claramente: "São, pois, poucos que se salvam em comparação com aqueles que se perdem". O mais terrível, no entanto, é São Jerônimo que, no fim de sua vida, em presença de seus discípulos, pronunciou essa terrível sentença: "De cem mil, no qual a vida foi sempre má, acharás neles um apenas que merece a indulgência".