Anexo 8 - Rosmini, profeta da liberdade religiosa do Vaticano II - pelo jornal modernista conciliar Trente Jours - Nº 9 - Ano XXV - Setembro de 2007
O profeta da liberdade católica[39]
Ele dialogou com os grandes de sua época; lutou a batalha desse catolicismo liberal que acabaria por vencer a guerra na democracia ocidental típica da segunda metade do século XX; escreveu milhares de páginas de filosofia. Mas nada disso o teria salvo do esquecimento geral se os rosminianos não estivessem lá.
por Giuseppe De Rita
A folha de rosto do ensaio Delle cinque piaghe della santa Chiesa, a obra publicada pela primeira vez por Rosmini em 1846 e que seria incluída no Index em junho de 1849
É um mestre que, sem seus discípulos, não teria escapado ao ostracismo cultural e eclesial. É aí que reside o misterioso mecanismo que levou, após um século e meio, à decisão da Igreja de beatificar Antonio Rosmini.
Este dialogou ao longo da vida com os grandes de sua época, de Carlos Alberto da Sardenha a Pio IX e a Manzoni; travou vigorosamente a batalha desse catolicismo liberal que acabaria por vencer a guerra na democracia ocidental típica da segunda metade do século XX; e, sobretudo, escreveu milhares de páginas de filosofia, cultura religiosa e reflexão social. Mas nenhum desses três aspectos (a amizade com os grandes, o fato de ter profetizado “a liberdade católica” e o de ter escrito milhares de páginas) jamais teria salvo Rosmini do esquecimento e do ostracismo. Seus inimigos eram numerosos, especialmente entre os membros da Igreja; seu pensamento era e é difícil de entender; muitos entre os professores e clérigos preferiram julgá-lo “inteligente demais” para as pobres mentes dos fiéis. E, além disso, o santo Ofício o havia punido, e isso forneceu um álibi a todos.
Se escapou ao esquecimento generalizado, deve-o essencialmente aos rosminianos, aos seus discípulos do Instituto da Caridade que ele fundou, tenazmente fiéis à sua pertença à Igreja, contra todos os ostracismos. São os rosminianos que, com suas escolas, formaram dezenas de milhares de jovens segundo uma filosofia de tipo personalista e liberal, implicitamente oposta à pedagogia estatal totalizante ou à pedagogia jesuítica militante (à qual devo, aliás, a minha maneira de raciocinar). São os rosminianos que, com constância, mas sem ostentação pública, continuaram durante décadas a levantar a questão da qualidade estrutural da Igreja, resgatando Le cinque piaghe [As cinco chagas da santa Igreja, obra de Antonio Rosmini, ndr] e, sobretudo, propondo a primazia espiritual da liberdade da Igreja em relação ao poder temporal. São os rosminianos que optaram por dialogar com essa parte da elite cultural italiana que, durante décadas, cultivou o espírito democrático, o sentido de convivência coletiva, o entusiasmo diário pela caridade espiritual ao longo dos anos; posso testemunhar ao prestígio “elitista” que cercava o pai Bozzetti nos anos do pós-guerra, e muitos podem atestar a forte influência exercida por Clemente Riva sobre grande parte da classe dirigente italiana de hoje.
Portanto, são os rosminianos, tenazmente convencidos de estarem em seu direito mesmo nas épocas de maior frustração, que salvaram Rosmini de um possível esquecimento (e mesmo desejado e provocado por muitas pessoas). Honra, portanto, aos rosminianos. Mas honra também a seu fundador, se é verdade que os líderes se reconhecem por seus discípulos: afinal, é a profundidade de seu pensamento (inesgotável para aqueles que o frequentaram) que deu tal força à vontade dos rosminianos de testemunharem. Como dizia Buber, "É a raiz que sustenta".
É difícil fazer uma escolha de importância relativa entre os componentes dessa “raiz”, mas para o “afiliado diletante” que sou, parece que Rosmini e os rosminianos estiveram certos em quatro grandes temas: primeiro, ao insistir neles e depois ao fazê-los entrar na consciência coletiva, sem se colocar em destaque ou tocar tambores midiáticos.
O primeiro é o da liberdade religiosa. Após o Concílio Vaticano II, isso parece uma evidência. Mas pensemos na época de Rosmini, quando ainda existiam o Estado Pontifício e o Soberano Pontífice e que ninguém se escandalizava porque estava escrito no Estatuto Albertino que o catolicismo era “religião de Estado”. O único que reagiu duramente foi Rosmini, que escreveu: «A religião católica não precisa de proteções dinásticas, mas de liberdade. Ela precisa que sua liberdade seja protegida, e nada mais». A Igreja, sendo uma sociedade natural e espontânea, não se condensa no poder, mas filtra e penetra em toda parte como o ar e a água; e só precisa não ser impedida. A fé entra nos corações sem passar pelos poderes do alto. Raros são aqueles que, ao longo das décadas marcadas pelo Concílio Vaticano I, tiveram a coragem de fazer afirmações desse tipo.
O segundo grande tema rosminiano foi a liberdade do papado em relação ao seu poder temporal. Já mencionei em outro contexto uma carta de Rosmini ao cardeal Castracane em 1848, na qual ele escrevia: «Se a unidade federativa da Itália ocorrer, o Soberano Pontífice permanecerá um príncipe totalmente pacífico e enviará núncios para os assuntos espirituais; e os enviará, além disso, não para os príncipes, mas para as Igrejas do mundo». Ele estava certo e os fatos lhe deram razão, pois hoje correspondem à sua opção. Ora, essa opção, repito, remonta a 1848, ou seja, mais de vinte anos antes da unificação nacional de 1870.
Os dois temas mencionados até aqui (liberdade religiosa e distanciamento do poder temporal) estão subterraneamente ligados a outro grande tema rosminiano: a recusa da dominação do poder político, a grande escolha que fez de Rosmini o paladino italiano do catolicismo liberal, e – a menos que alguns se sintam incomodados com esse termo – do catolicismo democrático. Sempre apreciei muito sua recusa à “senhoria que não cria sociedade, mas dominação e servidão”, porque também associo essa frase a outra que destaca que “a construção da sociedade é um conjunto de atos e uma pluralidade de pessoas”, na qual percebemos o início da temática do pluralismo cultural e político e deste “desenvolvimento do povo” que caracterizou a democracia italiana das últimas décadas.
O primeiro tema é o da liberdade religiosa. Após o Concílio Vaticano II, isso parece uma evidência. Mas pensemos na época de Rosmini, quando ainda existiam o Estado Pontifício e o Soberano Pontífice e que ninguém se escandalizava porque estava escrito no Estatuto Albertino que o catolicismo era “religião de Estado”.
Portanto, eu associo espontaneamente e naturalmente essa fé no desenvolvimento operado por uma pluralidade de pessoas a outra consideração, segundo a qual uma sociedade composta por tantos sujeitos não pode crescer e não pode explorar serenamente todas as suas possibilidades apenas se respeitar e fizer respeitar todos os direitos, e o livre uso de todos os direitos. O liberalismo de Rosmini, que lhe trouxe tantos problemas, a ele e à sua congregação, não é outra coisa: a sociedade deve ser construída de tal forma que cada um possa ter o livre uso de seus próprios direitos. Esse é o bem comum que transparece de sua complexa reflexão sociopolítica: a centralidade do sujeito, enquanto permanecendo fechada sobre si mesma, é privada de vitalidade, tornando-se vital apenas quando entra em relação com os outros e “conspira com os outros para a criação de uma sociedade que tenha como fim comum o livre uso dos direitos”.
Podemos imaginar, neste ponto, quanto eu gostaria de continuar nas vias abertas por essas temáticas: o valor da subjetividade individual como grande motor social, quando não se deixa levar pelo subjetivismo ético; o valor da relação como percurso de vidas que não se encerram na autocensura, seja em termos de narcisismo e/ou depressão; o valor da relação com os outros, com “o outro de você” como a verdadeira rota que permite chegar ao Outro absoluto. Mas esses caminhos seriam longos demais, obrigariam a entrar em questões e disputas que animam o debate filosófico e sociológico de nossa época. Portanto, obrigo-me a evitá-los porque quero permanecer fiel à intenção com a qual comecei a escrever: a de demonstrar que Rosmini foi certamente um grande homem, mas que teve a sorte de que seus rosminianos defenderam suas ideias (a liberdade religiosa, o fim do poder temporal, a opção pelo pluralismo democrático, a fé em um desenvolvimento multisujeitos) durante décadas, desenvolvendo-as, acompanhando-as ao longo do tempo e fazendo delas não mais questões de uma minoria reprovada, mas de uma ala combativa da Igreja em sua evolução histórica nos últimos cento e sessenta anos. Foram humildemente fiéis à Igreja e a seu fundador e profeta; merecem todos, mesmo aqueles que já partiram, considerar o fato de terem chegado a esta beatificação como sua vitória pessoal.