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Anexo 1 - Lista das 40 proposições de Rosmini condenadas pelo Papa Leão XIII

Decreto do Santo Ofício "Post obitum", 14 de dezembro de 1887.

Erros de Antonio ROSMINI-SERBATI[33]

3201
1 - Na ordem das coisas criadas se manifesta imediatamente à inteligência humana algo que é divino em si, tal como pertence à natureza divina.

3202
2 - Quando falamos do divino na natureza, essa palavra ‘divino’ não a tomamos como significando um efeito não divino de uma causa divina; e não é nossa intenção falar de algo que seria divino por participação.

3203
3 - Na natureza do universo, ou seja, nas inteligências que nele existem, há, portanto, algo a que se aplica a denominação de divino, não no sentido figurado, mas no sentido próprio. - É uma realidade que não é distinta do restante da realidade divina.

3204
4 - O ser indeterminado, que sem dúvida é conhecido por todas as inteligências, é este divino que é manifestado ao homem na natureza.

3205
5 - O ser, objeto da intuição humana, é necessariamente algo do ser necessário e eterno, da causa criadora, determinante e final de todos os seres contingentes e isso é Deus.

3206
6 - No ser que abstrai de suas criaturas e de Deus, ou seja, o ser indeterminado, e em Deus o ser não indeterminado, mas absoluto, a essência é a mesma.

3207
7 - O ser indeterminado da intuição, o ser inicial, é algo do Verbo, que a inteligência do Pai distingue do Verbo não realmente, mas segundo a razão.

3208
8 - Os seres finitos, dos quais o mundo é composto, resultam de dois elementos, ou seja, do termo real finito e do ser inicial que confere a esse termo a forma do ser.

3209
9 - O ser, objeto da intuição, é o ato inicial de todos os seres. - O ser inicial é o começo tanto do que é cognoscível quanto do que existe: ele é também o começo de Deus, tal como O concebemos, e das criaturas.

3210
10 - O ser virtual e sem limites é a primeira e mais simples de todas as entidades, de tal modo que toda outra entidade é composta, e que o ser virtual é sempre e necessariamente um dos seus componentes. - (O ser inicial) é a parte essencial de todas as entidades sem exceção, qualquer que seja a maneira como elas são divididas pelo pensamento.

3211
11 - A quididade (o que é uma coisa) do ser finito não é constituída pelo que ele compreende de positivo, mas por seus limites. A quididade do ser infinito é constituída pela entidade, e é positiva; a quididade do ser finito, por outro lado, é constituída pelos limites da entidade, e é negativa.

3212
12 - A realidade finita não é, mas Deus a faz existir ao adicionar a limitação à realidade infinita. - O ser inicial torna-se a essência de todo ser real. - O ser que atua as naturezas finitas, estando unido a elas, é tomado de Deus.

3213
13 - A diferença entre o ser absoluto e o ser relativo não é a mesma que existe entre uma substância e outra, mas uma diferença muito maior; um, de fato, é absolutamente ser, o outro é absolutamente não-ser. Mas este outro é relativo. Logo, quando se posita um ser relativo, o ser que é absolutamente não é multiplicado; por isso, o ser absoluto e o ser relativo não são uma substância única, mas um ser único; e nesse sentido não há diversidade de ser, mas unidade de ser.

3214
14 - Pela abstração divina é produzido o ser inicial, primeiro elemento dos seres finitos; mas pela imaginação divina é produzido o real finito, ou seja, todas as realidades das quais é feito o mundo.

3215
15 - A terceira operação do ser absoluto criando o mundo é a síntese divina, ou seja, a união dos dois elementos que são o ser inicial, começo comum de todos os seres finitos, e o real finito, ou melhor: as diversas realidades finitas, os termos diferentes do mesmo ser inicial. É por essa união que são criados os seres finitos.

3216
16 - O ser inicial, relacionado pela inteligência por meio da síntese divina, não como inteligível, mas como pura essência, com os termos finitos reais, faz com que os seres finitos existam subjetivamente e realmente.

3217
17 - Tudo o que Deus faz ao criar é positar o ato inteiro da existência das criaturas; esse ato, portanto, não é propriamente feito, mas posito.

3218
18 - O amor com que Deus se ama igualmente nas criaturas, e que é a razão pela qual Ele se determina a criar, constitui uma necessidade moral que, no ser mais perfeito, produz sempre seu efeito: é apenas na maioria dos seres imperfeitos que esse tipo de necessidade deixa intacta a liberdade bilateral.

3219
19 - O Verbo é essa matéria invisível da qual, como diz em Sb 11, 18, todas as coisas do universo foram criadas.

3220
20 - Não repugna que a alma se multiplique por geração, de modo a ser concebida como progredindo do imperfeito, ou seja, do grau sensitivo, ao perfeito, ou seja, ao grau intelectual.

3221
21 - Quando o ser se torna objeto de intuição para o princípio sensitivo, por esse único contato, por essa única união, esse princípio que antes somente sentia e que agora compreende é elevado a um estado mais nobre, muda de natureza e se torna inteligente, subsistente e imortal.

3222
22 - Não é impossível conceber que pela potência divina possa ocorrer que a alma intelectual se separe do corpo animado, e que este continue a ser animal; em efeito, permaneceria nele, como base do puro animal, o princípio animal que anteriormente estava nele como um apêndice.

3223
23 - No estado natural, a alma do falecido existe como se não existisse; dado que ela não pode exercer reflexão sobre si mesma, nem ter consciência de si mesma, pode-se dizer que sua condição é semelhante ao estado das trevas perpétuas e do sono eterno.

3224
24 - A forma substancial do corpo é, antes, o efeito da alma e o termo interior de sua operação: por isso a forma substancial do corpo não é a própria alma. - A união da alma e do corpo consiste propriamente na percepção imediata pela qual o sujeito que tem a intuição de uma ideia afirma o sensível após ter intuitado a essência.

3225
25 - Uma vez que o mistério da Trindade é revelado, sua existência pode ser demonstrada por argumentos puramente especulativos, certamente negativos e indiretos, mas tais, no entanto, que por eles essa verdade é reduzida às disciplinas filosóficas e se torna uma proposição científica como as outras: pois, se fosse negada, a doutrina teosófica da pura razão não apenas permaneceria incompleta, mas seria aniquilada por obscuridades que surgiriam de toda parte.

3226
26 - As três formas supremas do ser, a saber, subjetividade, objetividade e santidade, ou realidade, idealidade e moralidade, se transferidas ao ser absoluto, não podem ser concebidas de outra forma senão como pessoas subsistentes e vivas; - O Verbo, na qualidade de objeto amado e não na qualidade de Verbo, ou seja, objeto subsistente em si conhecido por si, é a pessoa do Espírito Santo.

3227
27 - Na humanidade de Cristo, a vontade humana foi tão elevada pelo Espírito Santo a aderir ao ser objetivo, ou seja, ao Verbo, que ela cedeu-lhe totalmente o governo do homem, e que o Verbo assumiu este de forma pessoal ao unir-se assim à natureza humana. Com isso, a vontade humana deixou de ser pessoal no homem, e enquanto ela é pessoal nos outros homens, ela permanece natureza em Cristo.

3228
28 - Segundo a doutrina cristã, o Verbo, caráter e face de Deus, é impresso na alma daqueles que recebem com fé o batismo de Cristo. - O Verbo, ou seja, o caráter impresso na alma, é, segundo a doutrina cristã, o ser real (infinito) manifesto por si mesmo, e que nós reconhecemos ser a segunda pessoa da santíssima Trindade.

3229
29 - Não pensamos que seja uma conjectura estranha à doutrina católica, que é a única verdade, afirmar que no sacramento eucarístico a substância do pão e do vinho se torna a verdadeira carne e o verdadeiro sangue de Cristo quando Cristo fazem do sacramento o termo de seu princípio sensitivo e o vivifica por sua vida, quase da maneira como o pão e o vinho são transubstanciados em nossa carne e nosso sangue, uma vez que se tornam o termo de nosso princípio sensitivo.

3230
30 - Após a transubstanciação completada, pode-se pensar que no corpo glorioso de Cristo alguma parte incorporada a ele, não separada (dele) e igualmente gloriosa, lhe é unida.

3231
31 - No sacramento da eucaristia, em virtude (as palavras, o corpo e o sangue de Cristo estão presentes apenas na medida que corresponde à quantidade (aquel tanto) da substância do pão e do vinho que é transubstanciada: o restante do corpo de Cristo está presente por concomitância.

3232
32 - Porque aquele que "não come a carne do Filho do homem e não bebe seu sangue não tem a vida em si" Jo 6, 54 e que, no entanto, aqueles que morrem com o batismo de água, de sangue ou de desejo obtêm de forma certa a vida eterna, deve-se dizer que àqueles que nesta vida não comeram o corpo de Cristo, esse alimento celestial é administrado na vida futura, no instante mesmo da morte. - É por isso que, quando desceu ao inferno, Cristo pôde também se comunicar sob as espécies do pão e do vinho aos santos do Antigo Testamento para torná-los aptos à visão de Deus.

3233
33 - Quando os demônios tomaram posse do fruto, pensaram que entrariam no homem se dele comessem; a comida, ao ser transformada em corpo animado do homem, poderia permitir-lhes entrar livremente na animalidade, ou seja, na vida subjetiva desse ser, e assim dispor dela como haviam planejado.

3234
34 - Para preservar a bem-aventurada Virgem Maria do pecado original, bastava que permanecesse não corrompida uma minúscula semente de homem, talvez negligenciada pelo demônio, e que dessa semente não corrompida, transmitida de geração em geração, surgisse em seu tempo a Virgem Maria.

3235
35 - Quanto mais se está atento à ordem da justificação no homem, mais justo parece o discurso das Escrituras segundo o qual Deus cobre ou não imputa certos pecados. - Segundo o Salmista Sl XXXII,1, há uma diferença entre as iniquidades que são perdoadas e os pecados que são cobertos; aquelas são faltas atuais e livres; estes, por outro lado, são os pecados não livres daqueles que pertencem ao povo de Deus e que por isso não recebem nenhum dano.

3236
36 - A ordem sobrenatural é constituída pela manifestação do ser na plenitude de sua forma real; o efeito de sua comunicação ou manifestação é o sentimento (sentimento) deiforme que, começando nesta vida, constitui a luz da fé e da graça, e que, completado na outra vida, constitui a luz da glória.

3237
37 - A primeira luz que torna a alma inteligente é o ser ideal; a segunda primeira luz é também o ser, não apenas ideal, mas subsistente e vivo: este oculta sua personalidade e mostra apenas sua objetividade; mas aquele que vê a segunda (que é o Verbo), embora como em um espelho e em enigma, vê Deus.

3238
38 - Deus é o objeto da visão beatífica na medida em que é o autor das obras ad extra.

3239
39 - As marcas da sabedoria e da bondade que brilham nas criaturas são necessárias para aqueles que contemplam (no céu); reunidas de fato no exemplar eterno, elas são essa parte dele que pode ser vista por eles (que é acessível a eles), e fornecem o assunto dos louvores que os bem-aventurados cantam a Deus por toda a eternidade.

3240
40 - Visto que Deus não pode, nem mesmo pela luz da glória, se comunicar totalmente aos seres finitos, Ele só pôde revelar e comunicar sua essência àqueles que contemplam (no céu) segundo o modo que é conveniente para inteligências finitas, ou seja, que Deus se manifesta a eles na medida em que é em relação a eles como seu criador, sua providência, seu redentor, seu santificador.

3241
(A censura confirmada pelo sumo pontífice: o Santo Ofício) julgou que as propostas... devem ser proscritas e reprovadas segundo o sentido do autor, e por este decreto geral as reprova, as condena, as proíbe...


[33] http://www.catho.org/9.php?d=bxb#eur