A Tomada do Poder pela Insurreição
As diversas escolas do socialismo são unânimes quanto às finalidades a serem alcançadas: a organização de uma sociedade sem classes e sem Estado. Mas elas divergem sobre os meios a serem empregados para chegar a esse resultado. O socialismo reformista pensa em alcançá-lo graças a uma série de "socializações" progressivas; essa tendência já era a dos mencheviques ou "minimalistas" que se contentavam com objetivos parciais; ela convém aos temperamentos prudentes. O socialismo revolucionário quer transformar todas as instituições de uma só vez pela tomada insurrecional do Poder; esse era o programa dos bolcheviques ou "maximalistas" que exigia a totalidade do socialismo imediatamente; essa tendência convém aos temperamentos aventureiros e pugnaces. As duas metodologias, reformista e revolucionária, sempre coexistiram; ambas foram necessárias para a progressão do socialismo.
A insurreição é a manifestação maior da soberania popular. Ela constitui um sinal inequívoco da autoridade que vem de Baixo. Ela permanece posteriormente como um episódio histórico de um simbolismo poderoso. A insurreição é uma operação político-militar que exige, por parte daqueles que a dirigem, muita experiência e energia. Os dois mestres na matéria são Lenin e Trotsky; eles conseguiram, em outubro de 1917 em São Petersburgo, uma insurreição que permanece como o modelo do gênero. Eis, segundo Lenin, as grandes linhas da tática insurrecional.
- O proletariado, cuja vanguarda é formada pelo partido comunista, deve se armar. O ato preparatório essencial da insurreição é o armamento do proletariado. Ele deve ser realizado sistematicamente: pilhagem de arsenais e depósitos de regimentos...
- As faculdades combativas do proletariado não devem ser superestimadas. Ele só passará à insurreição no dia em que não houver absolutamente nenhuma outra saída para a crise. É preciso que ele esteja encurralado: ou sucumbe à repressão, ou tenta a insurreição.
- O aparato político do partido deve proceder, antes da insurreição, à paralisia do governo burguês, de tal forma que a tomada do Poder pelo proletariado armado não seja mais que um soco em um paralítico.
- A agitação política e sindical deve ser mantida para criar uma situação revolucionária ascendente. Em particular, deve-se esforçar para transformar a guerra estrangeira em guerra civil, e isso criando dificuldades ao governo burguês já atolado na guerra estrangeira.
- Aproveitar-se-á essa agitação preparatória para fazer, no terreno e em tamanho real, ensaios "incógnitos" de certas fases parciais da manobra insurrecional, por exemplo, a tomada da central telefônica...
- Desencadear-se-á a insurreição no apogeu da revolução ascendente, ou seja, no momento em que a paralisia máxima do Estado Burguês coincidir com o aquecimento máximo dos espíritos nas milícias proletárias.
- A escolha dos objetivos insurrecionais deve ser feita com muita reflexão. A tendência de então (1917) era privilegiar as grandes instalações de interesse público, como por exemplo as estações de triagem, as centrais telefônicas, as usinas de gás... e negligenciar, pelo menos num primeiro momento, os palácios governamentais, considerados menos essenciais.
- É melhor obter um efeito de massa em um pequeno número de pontos do que se dispersar. Só se deve atacar nos pontos onde se dispõe de superioridade numérica.
- É preciso conservar a mobilidade tática. Não se deve construir barricadas. A barricada é a morte da insurreição. Uma insurreição que se barrica não toma o poder.
Estes são os pontos principais da tática leninista da insurreição armada. Lenin havia analisado meticulosamente as causas dos fracassos passados, os da Comuna de Paris, os da revolução de 1905 na Rússia. Ele pôde fazê-lo com toda tranquilidade de espírito porque soube realizar, com alguns amigos, o profissionalismo revolucionário. Lenin era um revolucionário profissional. Ele havia feito da revolução sua principal profissão. Ele não tinha profissão senão a de agitador internacional.
A aplicação correta da tática insurrecional depende apenas do partido comunista. Ela é suficiente para tomar o Poder. Mas é mais fácil tomar o Poder do que conservá-lo. Para conservá-lo, é preciso que intervenham duas circunstâncias favoráveis que não dependem do partido comunista.
- A ajuda interna trazida pela ação preparatória dos reformistas. A necessidade desta ação preparatória era conhecida por K. Marx, que havia estabelecido os famosos "Doze Pontos de Socialização" destinados a facilitar a mutação do regime logo após a tomada do Poder; ele insistia na nacionalização das grandes empresas.
- A ajuda externa trazida pelo que se deve chamar de conivência internacional. Nenhuma revolução durável é possível sem apoios internacionais, os quais são necessários sobretudo em matéria de financiamento.
Em resumo, a revolução proletária em um país depende taticamente do partido comunista local e estrategicamente da colaboração das "forças secretas da revolução", as quais são internacionais.