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A teoria dos ciclos

De acordo com os gnósticos contemporâneos, a "manifestação" estaria sujeita a um ritmo cíclico sem fim, realizando uma imensa pulsação universal:

«A imensa arquitetura do tempo, que responde àquela do espaço, aparece como um conjunto de edifícios encaixados uns nos outros, correspondendo-se e respondendo-se em uma série indefinida de momentos perfeitamente organizados, à maneira de grandes órgãos emitindo não sons, mas durações que se fundem sem se confundir, na taça da eternidade__» (Jean Biès, Passaporte para Novos Tempos, páginas 33-34).

Na maioria dos sistemas cíclicos, a unidade básica é o Yuga. É uma era de vários milhares de anos que se subdivide em quatro idades. O yuga ao qual pertencemos começou pela era do Satya-yuga, que é a idade de ouro. Vieram depois outras duas idades, o Trata-yuga e o Drapara-yuga. Finalmente, a era termina pela idade na qual nos encontramos atualmente, o Kali-yuga, que é uma idade sombria. É a última idade de nossa grande era. É uma época de degradação, muito pouco espiritual, onde tudo é dessacralizado e materializado. É a civilização ocidental moderna, com seu mercantilismo, seu socialismo e sua tecnicidade. O Kali-yuga deve terminar, como todos os ciclos, por uma catástrofe.

Vários yugues sucessivos formam juntos uma vasta revolução chamada Manvantara, que também tem forma cíclica. Por sua vez, vários manvantaras consecutivos compõem um ciclo global imenso que recebe o nome de Kalpa. O que há além? As teorias cíclicas que tivemos em mãos não indicam isso. Vemos que, no geral, cada ciclo é formado por uma série de subciclos. O sistema geral sendo o do eterno recomeço.

Qual é a posição da doutrina católica nesta matéria? Certamente os "doutores" cristãos observam que o estado da natureza envolve ciclos. Os ciclos cronológicos constituem mesmo uma das principais características do estado da natureza. As inúmeras constelações têm suas revoluções. A substância viva é animada por pulsações regulares que são uma espécie de ciclos. Compreende-se que os contempladores do estado da natureza se maravilhem diante dessa respiração universal e que, por seu lado, os doutores cristãos a reconheçam igualmente.

Mas os cristãos sabem que a natureza não foi feita para durar para sempre. E, portanto, eles não atribuem aos ciclos naturais uma importância absoluta. A vida eterna (vita venturi saeculi), que a fé nos ensina, é um eterno presente que, portanto, não será a recondução indefinida da natureza e de seus ciclos. O Reino dos Céus será, ao contrário, uma estabilização, um repouso e uma paz na alegria.

A referência à teoria dos ciclos cósmicos é um dos sintomas mais convincentes de pertencimento à gnose.