AS FINALIDADES SOBRENATURAIS DA MONARQUIA FRANCESA
No arsenal corrente das IDEIAS RECEBIDAS, o TRADICIONALISTA é um HOMEM DO PASSADO, um ATRASADO, um ANACRÔNICO que não evoluiu, um homem ENCARQUILHADO, "FIXO NA ESCLEROSE TRADICIONAL".
Tal é o "CLICHÊ CONVENCIONAL" correntemente admitido. Nada está mais longe da verdade. Este clichê é tudo o que há de mais inexato. (E devemos nos regozijar com isso, aliás, pois quanto mais nossos adversários se enganarem a nosso respeito, melhor será.)
Os tradicionalistas não negligenciam os fundamentos históricos da CAUSA que defendem. Eles os CULTIVAM mesmo. É o que acabamos de fazer. Mas não fazem apenas isso.
Os tradicionalistas são também homens do FUTURO, homens de PROFECIAS, porque sua CAUSA está PROMETIDA à RESSURREIÇÃO. Acabamos de ver que A INSTITUIÇÃO REAL na França é uma OBRA DIVINA. É uma Monarquia de Direito divino, isto é, de fundação divina. De "DIREITO DIVINO" não somente na origem, mas ainda no curso da História, pois suas RESTAURAÇÕES (quando as instituições reais serão feridas) se produzirão sempre sob o signo e pela virtude do MILAGRE.
Os mais incontestáveis sendo aqueles que teceram a vida de Santa Joana d'Arc. Sabemos tudo isso, mas sabemos também que DEUS NÃO DEIXA SUAS OBRAS INACABADAS. Eis o ponto-chave do nosso raciocínio.
"Deus não deixa Suas obras inacabadas." Ora, tal como se apresenta hoje, a Monarquia francesa é uma obra inacabada: o último Rei da França segundo o ANTIGO DIREITO é Luís XVI. (Certamente houve depois dele ainda 2 ou 3 outros Reis, mas eles não reinaram segundo o antigo direito). A Luís XVI coube o papel de glorificar pelo martírio a origem divina de seus direitos. Mas se a instituição real devesse terminar com Luís XVI (ou mesmo com Carlos X, se quisermos prolongá-la a todo custo), seria preciso reconhecer que Deus deixou sua obra INACABADA. Se a vida terrestre de Nosso Senhor Jesus Cristo tivesse parado no Calvário, não creríamos em Sua divindade. Se cremos nela, como ensina expressamente São Paulo, é por causa de Sua ressurreição.
Na pessoa de Luís XVI, a instituição monárquica desapareceu em 21 de janeiro de 1793 na festa de Santa Inês, como um CORDEIRO BENDITO. Sabemos que ela deve reaparecer como um LEÃO RUGIDOR, pois o cordeiro ressuscita leão.
E como conhecemos de antemão essa REAPARIÇÃO radicalmente impossível se contarmos apenas com as forças humanas?
Existe na França ARQUIVOS MÍSTICOS e PROFÉTICOS totalmente excepcionais. A PROFECIA PRIVADA francesa é de uma riqueza muito grande. (e não apenas francesa, aliás, todos os países católicos possuem, mas é a França que é a mais rica).
Quando se está na presença desta Preciosa Reserva Profética, é preciso armar-se da maior PRUDÊNCIA. Porque esses textos são sempre mais ou menos OBSCUROS. E sua obscuridade é desejada porque Deus nunca nos revela a TOTALIDADE do FUTURO, "Nós profetizamos apenas em parte", escreve São Paulo.
Certos eventos do futuro são esclarecidos e outros não. Faltam-nos referências. O Tempo não é contado segundo a cronologia terrestre. Múltiplas causas de erro intervêm. É por isso que a Igreja é prudente em matéria de PROFECIAS PRIVADAS. Elas não são "de Fé divina". Se aderimos a elas, é apenas "de fé humana", isto é, após um exame racional. Contudo, mediante a PRUDÊNCIA necessária, pode-se buscar neste estoque profético, pedindo-lhe o que ele pode dar, isto é, suas LINHAS COMUNS. Suas "linhas comuns", isto é, os TRAÇOS que são comuns em todas (ou quase todas) as PROFECIAS sérias (aquelas cuja presunção de inspiração divina é forte).
Quais são esses TRAÇOS COMUNS? Eis, pois, um RESUMO do estoque profético de que dispomos (todas as profecias confundidas, as públicas, como as privadas). A primeira das coisas a saber, porque ela comanda todo o resto, é que a humanidade deve esperar, num futuro mais ou menos próximo, o ADVENTO DE MAJESTADE, a Manifestação Gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo vindo como JUIZ. Tal é a base do Profetismo. Tal é o Grande evento universal que constitui a CAUSA FINAL de toda a História Humana. O Advento de HUMILDADE já ocorreu, é a vida terrestre de Nosso Senhor. Está no PASSADO. Agora, o que a Humanidade espera, inconscientemente, é o ADVENTO DE MAJESTADE. Este "Advento de Majestade" porá fim ao que se convencionou chamar as ÚLTIMAS TRIBULAÇÕES, cujo arrefecimento da Fé e o Reinado do Anticristo marcarão o paroxismo. Sobre este fundo profético, que pertence à Revelação pública, a Revelação Privada (ou "particular") vem trazer uma PRECISÃO de primeira IMPORTÂNCIA neste momento, precisão cuja formulação mais precisa se deve a Santa Margarida Maria (1689), profecia que se resume assim: "Antes do Advento de Majestade, o Divino Mestre se dispõe a dar uma imagem, uma premonição, prefiguração, por um REINO, dito "DO SAGRADO CORAÇÃO". Reino prometido a um Rei da França: "Eu reinarei APESAR de meus inimigos..."
Dado que o Juramento resulta da repetição da promessa e que esta promessa está contida na quase totalidade das profecias sérias, tem-se o direito de pensar que este Reino do Sagrado Coração foi prometido COM JURAMENTO, e como ele ainda não ocorreu, ele ainda está situado NO FUTURO.
Todas ou quase todas as PROFECIAS falam de uma Falsa Paz que entorpecerá os espíritos e lhes tirará sua vigilância, FALSA PAZ interrompida por uma CRISE VIOLENTA, de desencadeamento inesperado.
Depois, um Salvador deve nos ser enviado NO APOGEU da CRISE, porque um Salvador só Salva quando tudo está humanamente perdido.
Tais são as GRANDES, as MUITO GRANDES LINHAS do Movimento profético que começou com São Remígio nas origens, e que se prolongou ao longo de toda a nossa HISTÓRIA até estes últimos anos.
Mas é preciso saber que hoje este Movimento profético está profundamente TURVO e que não é mais confiável, porque o Demônio, assim como conseguiu penetrar na Igreja hierárquica, também conseguiu penetrar na Igreja mística (que não estava mais defendida). Não se pode mais confiar nas profecias recentes. Elas não são todas falsas, mas são todas mais ou menos poluídas. Pouco importa, pois o estoque das ANTIGAS é suficientemente RICO e SÓLIDO e FIÁVEL e SUFICIENTE.
Nossas velhas vaticinações contêm não somente previsões, mas também conselhos. Estes Conselhos resumem-se em TRÊS PALAVRAS: CONFIANÇA, CONSTÂNCIA, CALMA.
CONFIANÇA. A Confiança não nos falta. Para Salvar, é preciso ter o poder de salvar e o querer salvar. Estamos penetrados da ideia de que Deus possui esse poder e esse querer.
CONSTÂNCIA. Ela também não nos faltará. Farei notar que a vidente de Pellevoisin (que representava a França doente junto à Santa Virgem) se chamava CONSTANCE, Estelle Constance. Ora, de Constância, será preciso, pois não sabemos nem o DIA nem a HORA.
Não nos faltará nem CONFIANÇA nem CONSTÂNCIA. Mas é a CALMA que corre o risco de faltar. Há ainda gente demais que elabora planos maquiavélicos arqui-complicados e utópicos, enquanto a conduta que Deus nos pede é SIMPLES, arqui-SIMPLES. Mas não é aqui nem o lugar nem o momento de tratar desses problemas difíceis. Lembremos apenas que DEUS DESEJA SER DESEJADO. Ele só se decide quando "a Soma dos desejos atingiu a MEDIDA COMPLETA".
A Batalha preliminar que temos a travar para DOBRAR O CÉU consiste em COMPLETAR a MEDIDA DOS DESEJOS.
Lyon, 28 de janeiro de 1989