GENERALIDADES
O pensamento cristão dispõe, devido ao seu TEOCENTRISMO e, em matéria histórica, mais particularmente, devido ao seu CRISTOCENTRISMO, de um certo número de parâmetros dos quais o pensamento profano não dispõe, precisamente porque não é nem teocrático, nem cristocêntrico. Este patrimônio intelectual do cristianismo, com suas verdades de preceito que constituem o Dogma, mas também com suas verdades de conselho que cercam o Dogma, pronto a nele entrar por um sinal do magistério, aporta ao pensamento cristão elementos de reflexão que pertencem à ordem sobrenatural, ordem essencialmente invisível e insensível que o pensamento simplesmente natural não leva em conta (em suas próprias reflexões), mas da qual o pensamento cristão, por sua vez, leva em conta.
Por exemplo, a erudição profana não conhece a distinção entre a verdadeira e a falsa mística e entre as verdadeiras e as falsas revelações. A erudição profana estuda certamente as revelações do ALÉM quando as encontra. Ela as estuda em seus sintomas PSICOLÓGICOS e em seus efeitos SOCIOLÓGICOS. Mas o faz DE TODAS AS ORIGENS CONFUNDIDAS, isto é, sem emitir um julgamento qualitativo sobre a qualidade divina ou demoníaca, sobre a identidade do ESPÍRITO que é seu inspirador inicial. A erudição profana poderá ser extremamente precisa quanto aos fenômenos que observa e descreve, mas não poderá fazer ressaltar sua natureza seja sobrenatural, divina, seja preternatural, demoníaca. Ela não poderá fazer ressaltar a dimensão sobrenatural da História. E isso porque os critérios de que dispõe ignoram essa distinção.
O PENSAMENTO CRISTÃO, ao contrário,
- pelas instituições espirituais,
- pelas noções espirituais,
- pelas autoridades espirituais, pelas quais é enquadrado, terá os meios de submeter os eventos históricos que estuda a todo um sistema de CRITÉRIOS ESPIRITUAIS que darão relevo a esses eventos históricos, fazendo ressaltar APORTES que vêm do mundo espiritual, seja do mundo dos espíritos fiéis, seja do mundo dos espíritos rebeldes. O Pensamento Cristão se aplica à história do mundo, está em condições de discernir a influência do GOVERNO PROVIDENCIAL, ainda que apenas em certa medida.
Acima da trama material da natureza, o pensamento cristão sabe discernir todo um bordado que a atividade da GRAÇA vem aí sobrepor. Bordado que é até mais definitivo que a própria trama natural, pois subsistirá quando "as coisas antigas tiverem passado", como está escrito no Apocalipse (XXI, 4).
É esta VISÃO CRISTÃ que vamos aplicar à observação do reinado de CARLOS MAGNO, esforçando-nos por fazer ressaltar
- os SÍMBOLOS HISTÓRICOS,
- as MARCAS DIVINAS, que nele se manifestaram e que a história profana ignora porque não tem os meios de discerni-las.