Anexo 4: A palavra «profecia» no Dicionário de Teologia Católica (t. XIII) de E. Mangenot
Col 709 – 710
No De veritate, Santo Tomás, inspirando-se em Cassiodoro, in Psalt., praef, c. I, P. L., t. XIX, col. 12, dá uma definição da profecia entendida no sentido muito estrito, cujos elementos a distinguem de toda “profecia” humana: divina inspiratio, rerum eventus immobili veritate denuntians. Cf. II-II, q. CLXXI, a. I, obj-4: Deus é o princípio imediato (que, no entanto, se adapta ao ministério intermediário dos anjos) do conhecimento verdadeiramente profético. Rerum eventus… denuntians: trata-se de um conhecimento que revela os elementos futuros, mesmo indeterminados, enquanto que uma “profecia” natural não pode ter como objeto senão eventos mais ou menos determinados já em suas causas. Immobili veritate: a profecia natural sempre possui algum aspecto de incerteza, enquanto que a verdadeira profecia prevê os eventos futuros de uma maneira absolutamente infalível.
Col 713: Últimas precisões, consagradas pelo concílio do Vaticano [I] e as decisões recentes da Comissão bíblica
O argumento profético, tomando como ponto de partida a profecia entendida em seu sentido muito estrito – conhecimento sobrenatural e predição de um evento futuro imprevisível – foi definitivamente consagrado no concílio do Vaticano. Deve-se consultar os textos conciliares reproduzidos no art. MILAGRE, t. X, col. 1799. Na constituição Dei Filius, o concílio coloca as profecias no mesmo plano que os milagres, e as chama de “argumentos externos da revelação”, “fatos divinos… que, porque manifestam de maneira excelente a onipotência divina e sua ciência infinita, são sinais muito certos e apropriados para a inteligência de todos”. E, como confirmação de sua afirmação, o concílio traz o texto de II Pedro, I, 19: Habemus firmiorem propheticum sermonem, cui bene facitis, attendentes quasi lucernae in caliginoso loco. C. III, De fide, Denz-Banw., n. 1790. Essas ideias se encontram na fórmula antimodernista de Pio X. Ibid., n. 2145. Veja o art. MILAGRE, col. 1799. Desde, os decretos da Comissão bíblica sobre Isaías (29 de junho de 1908), dub. I-III; sobre os salmos (1 de maio de 1910), dub. VIII; sobre o sentido do salmo XV, 10-11 (1 de julho de 1933), dub. I; sobre as predições propriamente ditas contidas nesses escritos, mostram bem em que sentido a autoridade eclesiástica entende a palavra profecia em apologética…
Mas há mais: o concílio entende por profecia não a manifestação de toda verdade revelada, mas o anúncio de um evento futuro. De fato, na primeira redação do texto conciliar, os teólogos usavam não a palavra prophetiæ, mas a palavra vaticinia, que, em seu significado primário, significa “anúncio do futuro”. Além disso, o que lemos no decreto relativo à força probante das profecias não seria exato se a profecia devesse ser entendida no sentido de manifestação de qualquer verdade revelada, enquanto que tudo é verdade das profecias entendidas no sentido muito estrito.
A constituição, de fato, declara que as profecias reconhecem a revelação divina, da qual são, como os milagres, sinais muito certos e apropriados para a inteligência de todos. Ora, a manifestação de qualquer verdade revelada não preencheria essas condições. O anúncio de eventos futuros, indeterminados em suas causas próximas, e, portanto, naturalmente imprevisíveis, constitui, pelo contrário, uma prova da revelação. Esses eventos só podem ser conhecidos por Deus; pois tratam-se de futuros contingentes, cuja conhecimento requer a ciência infinita de Deus. A profecia, entendida nesse sentido, é, portanto, realmente uma prova da intervenção divina, tão certa quanto a prova dos milagres de ordem física.
… É que, precisamente, apoiando-se nas profecias para demonstrar a verdade da revelação cristã, ele se detém com complacência nas profecias messiânicas que a II Pedro tem em vista: “Possuímos os oráculos dos profetas, cuja certeza é firmada (firmiorem propheticum sermonem), sobre os quais é bom que fixem seus olhares, como uma lâmpada que brilha em um lugar tenebroso”. Evidentemente, este texto apresenta as profecias messiânicas do Antigo Testamento como uma excelente prova da divindade da missão e da pessoa de Jesus Cristo.
Col. 715
O verdadeiro profeta, no sentido pleno da palavra, conhece ele mesmo essa luz profética que o ilumina, e sua certeza das coisas por ele preditas é absoluta. Como poderia ele falar aos homens em nome de Deus?