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CAPÍTULO 2: Como o Filho deve ser entendido como segundo em relação ao Pai e o Espírito Santo como terceiro

Nas autoridades mencionadas acima, são encontrados trechos onde se diz que o Filho é o segundo em ordem a partir do Pai e o Espírito Santo o terceiro em ordem a partir do mesmo. Pois no discurso a Serapião, Atanásio diz: “O Espírito Santo é terceiro em ordem a partir do Pai, mas o Filho é o segundo.” Da mesma forma, Basílio diz: “Em dignidade e ordem, o Espírito é segundo a partir do Filho.”

Essas declarações podem parecer falsas para uma pessoa. Pois, como Agostinho diz, a única ordem existente entre as pessoas divinas é uma ordem, não de prioridade, pela qual uma vem antes da outra, mas de origem, pela qual uma é a partir da outra. Pois não há modo de prioridade em virtude do qual o Pai poderia ser dito ser anterior ao Filho. Pois o Pai não é anterior no tempo, já que o Filho é eterno; nem anterior na natureza, já que a mesma natureza pertence ao Pai e ao Filho; nem anterior em dignidade, já que Pai e Filho são iguais; nem mesmo anterior no entendimento, pois são distinguidos apenas por relações, e entidades relativas são entendidas simultaneamente, pois cada uma pertence ao entendimento da outra. E assim, é claro que propriamente falando, o Filho não pode ser dito ser segundo em ordem a partir do Pai e o Espírito Santo terceiro em ordem a partir do Pai.

Os Doutores mencionados acima, portanto, chamam o Filho de segundo e o Espírito Santo de terceiro de acordo com sua ordem numérica. Isso é claro a partir do próprio Basílio, que diz: “Recebemos o Espírito Santo do Pai e do Filho como o terceiro numerado e conglorificado, o Espírito do próprio Filho de Deus, que ao instituir a ordem do batismo salvífico disse: ‘Indo, batizai todos os homens em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’.” E Epifânio diz: “O Espírito de Deus que é do Pai e do Filho é nomeado como terceiro.”

Mas quando Basílio afirma que o Espírito é segundo a partir do Filho em dignidade, ele parece estar mais seriamente enganado, porque parece postular graus de dignidade na Trindade, enquanto todas as três pessoas são iguais em dignidade. Esta declaração, no entanto, pode ser explicada como referindo-se, não à dignidade natural, mas à dignidade pessoal em Deus, assim como dizemos que “uma pessoa é uma hipóstase em virtude de uma propriedade distinta que implica dignidade.” Hilário adota essa maneira de falar quando diz que o Pai é maior que o Filho por razão de autoridade de origem. Mas por razão da unidade na substância, o Filho não é, portanto, inferior ao Pai.