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CAPÍTULO 16: Como se deve entender que Deus não habitava nos homens antes da encarnação de Cristo

Outra declaração que provoca dúvidas é de Atanásio para Serapião: “De acordo com a eleição antecipada do conselho divino, era impossível que a Igreja do Senhor recebesse diretamente uma forma invisível, incorpórea e sem vestes, mas o Senhor fez-se da mesma substância com a Igreja ao assumir sua forma para si mesmo.” Isso parece implicar que antes da encarnação de Cristo Deus não habitava no homem pela graça. Certos hereges afirmaram presunçosamente isso ao comentar o Evangelho de João (7:39): “Ainda não havia sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não havia sido glorificado.”

Ambos os textos devem ser interpretados da mesma forma. Pois, assim como se diz que o Espírito Santo não foi dado anteriormente porque ainda não havia sido dado com a mesma plenitude que quando foi recebido pelos Apóstolos após a ressurreição de Cristo, assim a Igreja não foi capaz de receber o dom da graça com a mesma plenitude que, de acordo com a ordem divina, recebeu através da encarnação de Cristo, uma vez que a graça e a verdade, como João diz (1:17), vieram por meio de Jesus Cristo. Portanto, em seu discurso sobre o Concílio de Nicéia, Atanásio diz: “É realmente impossível que eles sejam consumados e perfeitos a menos que eu assuma um homem perfeito.” Isso deve ser entendido no sentido acima.

Lá, no entanto, foi adicionada a qualificação “de acordo com a eleição divina antecipada”, porque, embora fosse possível para Deus, por seu poder absoluto, conferir a perfeição da graça à raça humana de uma maneira diferente da encarnação de Cristo, não era possível, dada a ordem divina, que a raça humana adquirisse essa plenitude de graça de outra maneira.