PRECURSORES ESQUECIDOS
Nossa intenção é publicar, sob este título bastante geral, estudos e artigos referentes a um certo número de homens dos séculos XIX e XX que estudaram, como o padre Barbier, a penetração da Revolução no Cristianismo, perceberam rapidamente seu extremo perigo futuro e a denunciaram muito cedo.
O futuro, infelizmente, lhes deu razão, e sua obra foi coberta por um espesso véu de silêncio por seus inimigos triunfantes, e sua memória caiu no esquecimento. Nosso primeiro dever e, portanto, nosso primeiro passo são, primeiramente, recordar.
QUANDO UM NOVO CONVERTIDO DESCOBRE "LE SILLON"
Adolphe Retté, poeta da escola simbolista, veio de muito longe para a Igreja. Ele narrou seu percurso em um livro publicado em 1907, Do Diabo a Deus. Tendo partido da Anarquia e do paganismo, passado pelo socialismo e pela irreligião, uma vez chegado ao porto, aplicou-se a defender a Verdade finalmente encontrada e, ao mesmo tempo, a descrever as riquezas da vida espiritual – essa ação, ele a conduziu como um franco-atirador, fora das estruturas dos partidos e das instituições religiosas da época.
Ao lê-lo, descobrimos um escritor perspicaz que sabe expressar de forma muito viva, com uma inegável sinceridade, as paisagens da vida interior e que lança sobre a sociedade em que vive um olhar algo profético. Antes de 1930 (data de sua morte), ele discerniu a corrida para um mundo de Apocalipse – aquele cujo prólogo vivemos – do lamentável rebanho de seus contemporâneos.
A obra de Adolphe Retté está hoje praticamente esquecida. É uma pena. Acabo de reler alguns de seus livros: Sob a Estrela da Manhã, Quando o Espírito Sopra, Os Rubis do Cálice, No País dos Lírios Negros, Cartas a um Indiferente, A Casa em Ordem, Até o Fim do Mundo, O Viajante Espantado, Orações do Silêncio...(1)
Fiquei impressionado com sua atualidade. Claro, o contexto não é mais o mesmo, as situações se agravaram ainda mais, mas as exigências profundas que eles propõem permanecem mais imperiosas do que nunca.
O autor nos conta suas múltiplas experiências, as do mundo católico em particular. Ele realça almas de uma beleza excepcional, mas também estigmatiza as falhas de muitos cristãos, sua ingenuidade e sua falta de fé ou de julgamento. Contentar-me-ei hoje em relatar a experiência que ele teve com o Sillon, no tempo de sua grande voga.
Mal convertido, Retté foi procurado por um padre, entusiasmado com Marc Sangnier, para que aderisse ao movimento.
Entre os papéis que ele lhe entregou, havia um que o fez imediatamente "torcer o nariz" – era intitulado Um Novo Messias (simplesmente). Eis o texto:
"Natal! Na véspera da grande festa cristã, um novo messias veio à Savoia, anunciar à democracia o reinado da fraternidade humana e de todos os pontos do horizonte, pastores e magos guiados por uma estrela invisível acorreram para ouvir a boa nova. Esse jovem apóstolo (Marc Sangnier) exerce ao seu redor um poderoso atrativo; as audiências mais diversas acolhem sua palavra com uma atenção quase religiosa e as ovações triunfais que saúdam sua passagem recordam, em certa medida, as do povo de Israel aclamando Jesus em sua entrada em Jerusalém. Nada faltou ao messias da democracia para evocar entre nós a memória de seu divino mestre."
Essa disparatada fala me colocou desde então nos antípodas do agitador que não desautorizava tal aproximação onde o ridículo se aliava ao sacrilégio (2).
Foi em Lyon que Adolphe Retté pôde ouvir Marc Sangnier. Ele resumiu sua impressão assim:
"Minha impressão foi dupla. Primeiro, admirei, do ponto de vista da fonética, o extraordinário moinho de palavras que funcionava, sem tropeços, naquela goela incansável. Em seguida, percebi que esse mecanismo vocal não tinha nada a moer – literalmente nada.
Quero dizer que as sequências de frases que ele debitava por todo lado não continham substância alguma. Redundâncias empoladas, apóstrofes de um lirismo banal, períodos intermináveis de um sentimentalismo desbotado – Nenhuma ideia prática, nem um raciocínio encadeado.
O Sr. Sangnier tratava de política, ciência que, mais do que todas, exige conhecimentos precisos a serviço de uma inteligência pragmática.
Aqui, nem mesmo o menor indício dessas qualidades. Tinha-se a sensação de estar imerso em um banho de água morna e turva onde ondulavam, com demasiada maleabilidade, enguias suspeitas..." (3).
E Retté concluía:
"É preciso desejar que um dia ou outro o Sr. Sangnier, exclamando com Baudelaire 'meus braços se romperam por terem abraçado nuvens', adquira o senso do Real. É preciso esperá-lo, mas sem contar muito com isso."
Nosso convertido quis em seguida sustentar suas impressões pessoais por uma estudo aprofundado do Sillon. O documento de base é a Carta de Pio X de 25 de agosto de 1910 que situa, na linha dos Filósofos do século XVIII, as teorias do Sillon "que, sob suas aparências brilhantes e generosas, carecem frequentemente de clareza, de lógica e de verdade". Vêm em seguida as Erros do Sillon do padre Emmanuel Barbier e O Dilema de Marc Sangnier de Charles Maurras.
"O primeiro desses livros refutava o Sillon com perfeita moderação de termos e grande força de argumentação nos pontos de vista teológico e social... O segundo, também contido na forma, o criticava sob os pontos de vista da filosofia e da tradição. Não é exagero dizer que é uma obra-prima de dialética e de razão lúcida. Ambos os volumes me ajudaram grandemente a formar a convicção de que essa aventura anarco-religiosa não apresentava nada de sério. E quando interroguei alguns sillonistas e me foi comunicado que 'para ser do Sillon, era preciso primeiro crer em sua missão providencial', fiquei definitivamente convencido." (4)
Adolphe Retté escapara da Democracia após tê-la conhecido e servido nas formas anarquista, socialista, radical. Nunca sentiu a necessidade de conhecê-la em sua forma católica. Foi preciso, no entanto, que ele ainda frequentasse o mundo dos "liberais". Dessa incursão, ele trouxe consigo um feixe de observações picantes e tão instrutivas! Um próximo artigo será dedicado a essa nova experiência.
F.M. d'A.
(1) – A maioria das obras de Adolphe Retté encontra-se, quando não estão esgotadas, nas Éditions Messein, 79, quai St Michel Paris 5e. (2) – A Casa em Ordem, p.222
(3) – Id., p. 224
(4) – Id., p. 223