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INTRODUÇÃO

1384-1440 – Papas: Clemente VII; Eugênio IV. – Imperadores: Venceslau; Frederico III.

Por ter nascido na opulência, uma mulher do mundo não está menos obrigada a seguir as máximas do Evangelho, santa Francisca.

Veremos, na vida desta ilustre viúva, o retrato daquela mulher forte de quem fala o Sábio, e de quem ele faz tão grandes elogios. Ela nasceu no ano da graça de 1384. Seu pai se chamava Paulo Bussa, e sua mãe Jacqueline Roffredeschi, ambos de famílias nobres de Roma. Ela mostrou, desde o berço, uma tal aversão por tudo o que é contrário à pureza, que não podia suportar que qualquer homem, nem mesmo seu pai, usasse das carícias e das liberdades que a natureza autoriza para com uma criança. Aos doze anos, desejava muito se enclausurar em um convento para servir pelo resto de seus dias ao único Esposo das virgens; ela fez até todos os esforços para isso: mas seus pais, sem consultar suas inclinações, obrigaram-na a se casar, em 1396, apesar de todas as suas repugnâncias, com Lourenço Ponziani, jovem senhor romano, cuja fortuna igualava seu nascimento: houve poucos casamentos tão felizes, porque há poucos tão santos; a estima, o respeito e o amor foram mútuos, a paz e a união inalteráveis; esses cônjuges viveram juntos quarenta anos sem o menor desentendimento, sem uma sombra de frieza.

No entanto, mal Francisca mudou de condição, caiu gravemente doente; o que revelou o desagrado que ela teve em se comprometer no casamento. No entanto, sua doença não durou muito, pois São Alexis, aparecendo a ela à noite, devolveu-lhe instantaneamente uma saúde perfeita. Sua casa foi uma verdadeira escola de virtude: ela considerava seus domésticos não como seus servos e servas, mas como seus irmãos e irmãs em Jesus Cristo, sem que essa doçura a fizesse relaxar no zelo e na justiça, quando se tratava da ofensa a Deus; pois ela não podia suportar que se fizesse qualquer coisa contra os interesses de Sua glória. Seu primeiro cuidado foi estudar o caráter de seu marido e evitar escrupulosamente tudo o que pudesse desagradá-lo. Ela o considerava como seu mestre e como aquele que ocupava junto a ela o lugar de Deus na terra; era-lhe tão submissa, tão obediente, que, mesmo quando estava ocupada em oração ou em alguma prática de piedade, deixava tudo para satisfazê-lo e atender às obrigações de seu estado: o que deve ser o principal objetivo da devoção de uma mulher casada. Deus mostrou, por um milagre, o quanto essa obediência Lhe era agradável. Nossa Santa, recitando um dia o ofício de Nossa Senhora, foi tão pressionada a interrompê-lo para satisfazer algum dever de sua casa, que deixou quatro vezes o mesmo versículo; mas, tendo terminado a tarefa, voltando à sua devoção, encontrou o versículo escrito em letras de ouro, embora antes estivesse escrito apenas em caracteres comuns. Algum tempo depois, o apóstolo São Paulo, aparecendo a ela em um êxtase, disse-lhe que seu bom anjo havia traçado ele mesmo esses novos caracteres, para lhe fazer conhecer o mérito da obediência.

O sacramento do matrimônio, estabelecido por Deus para povoar o céu com o nascimento de filhos na terra, levou essa fiel esposa a orar ao Nosso Senhor para que lhe concedesse filhos. Ela teve, entre outros, um filho que, por um feliz presságio, teve como patrono João, o Evangelista, ao contrário do seu primogênito chamado João Batista. Ele viveu apenas nove anos; mas, nesse curto período, demonstrou que nascera mais para o céu do que para a terra: pois foi dotado do dom da profecia e previu para seu pai que ele receberia um golpe perigoso em uma parte do corpo que ele indicou, e a um religioso mendicante, que logo mudaria de hábito: essas predições se confirmaram; Lourenço Ponziani foi ferido em uma guerra ocorrida, no ano de 1406, entre os romanos e os napolitanos, e o religioso foi feito bispo. Esse santo menino foi atingido pela peste, quando esta afligiu a cidade de Roma, no início do século XV. Prevendo sua morte, avisou sua boa mãe e a suplicou que lhe providenciasse um confessor, porque via São Antônio e São Onofre, a quem tinha particular devoção, se aproximarem para conduzi-lo ao céu: o que aconteceu no mesmo dia; e ele foi enterrado na igreja de Santa Cecília, além do Tibre. Um ano depois, a Santa, orando em seu oratório, viu seu pequeno João todo brilhante de luz e acompanhado por outro ainda mais resplandecente; ele lhe revelou o estado de sua glória no céu: estava no segundo coro da primeira hierarquia, e o anjo que o acompanhava parecia mais belo, porque estava em um grau de glória mais alto que o dele. Acrescentou que vinha buscar sua irmã Inês, com apenas cinco anos, para ser colocada com ele entre os anjos. Finalmente, ao se retirar, deixou-lhe, como guardião, esse arcanjo que, desde então, permaneceu sempre com ela e ela confessou ao seu confessor que, quando lançava os olhos sobre esse espírito celestial, lhe acontecia o mesmo que a uma pessoa que olha fixamente para o sol, e não consegue suportar o brilho de sua luz.

O céu derramava sobre ela essas doçuras de outro mundo, que são o antegosto das alegrias divinas; mas reservava-lhe uma cruz, e uma cruz terrível. Roma tendo sido tomada pelo rei de Nápoles, Ladislau, Francisca viu sua casa ser saqueada, seus bens confiscados, seu marido banido: ela suportou esses reveses com uma constância admirável. A tempestade a agitava por fora, mas a calma estava em sua alma e a serenidade em seu rosto. A tormenta passou; seu marido foi chamado de volta do exílio, seus bens lhe foram restituídos; a paz voltou à sua família. A virtuosa dama aproveitou esses infortúnios para persuadir seu esposo a viverem juntos em perfeita continência. Esse esposo, santificado pelas virtudes celestes de sua amada esposa, concedeu-lhe tudo o que ela quis. Desde então, ela passou a comer apenas uma vez por dia, alimentando-se apenas de pão e água, e, no máximo, de alguns legumes insípidos que comia uma única vez ao dia. Proibiu-se para sempre e até a morte o uso de linho fino, e vestiu-se, por baixo de suas roupas de sarja, apenas com um cilício áspero e um cinto feito de crina de cavalo; além disso, usava um outro círculo de ferro que lhe perfurava a pele. Não contente com esse instrumento de penitência, que nunca tirava, nem de dia nem de noite, ela ainda acrescentava, em várias ocasiões, uma disciplina feita de correntes de ferro com pontas afiadas: a única obediência, que ela preferia a todos os seus sentimentos, a fez às vezes diminuir essas rigorosidades, quando seu confessor se sentia obrigado a moderá-las. Ela associava a essa austeridade a prática das obras de misericórdia, ajudando os pobres que ela considerava como as imagens de seu Salvador crucificado. Para fazer isso com mais vantagem e liberdade, juntou-se à sua cunhada Vannosa, uma alma muito virtuosa: elas iam juntas, de porta em porta pelas ruas de Roma, pedir esmolas para os necessitados. Deus aprovava tanto essa conduta que frequentemente realizava milagres em seu favor, multiplicando o pão e o vinho que elas davam por Seu amor.

Ela se confessava ordinariamente todas as quartas-feiras e sábados, e comungava pelo menos uma vez por semana; frequentava muito a igreja de São Pedro, no Vaticano; a de São Paulo, fora da cidade; a de Nossa Senhora de Ara-Cœli; a de Santa Maria Nova e a de Santa Maria, além do Tibre, sempre acompanhada de sua cunhada. Conta-se que um dia foram à igreja de Santa Cecília para fazer suas devoções: um padre, que não aprovava que mulheres casadas comungassem tão frequentemente, lhes deu hóstias não consagradas; mas Francisca percebeu imediatamente, não sentindo a presença de seu Esposo, como costumava sentir ao receber a santa comunhão; queixou-se ao padre Antônio de Monte-Sabellio, seu confessor, que foi falar com o padre: este confessou a verdade e fez penitência por seu erro.

O demônio, que via com desagrado a virtude de nossa Santa, resolveu combatê-la. Empregando todos os esforços para perdê-la, apresentou-se a ela em mil posturas horríveis, com gestos ridículos e imodestos. Ele a atacava frequentemente durante suas orações, rolava seu rosto contra o chão, a arrastava pelos cabelos, batia e a açoitava cruelmente. Uma noite, enquanto ela descansava um pouco após um árduo combate, ele trouxe o corpo de um homem morto para seu quarto e a manteve sobre esse cadáver por um longo tempo: isso a impressionou tanto que, após esse incidente, parecia-lhe que o objeto estava sempre próximo a ela, sem que pudesse se livrar do cheiro que exalava: que digo? A simples visão dos homens era um suplício para ela, sentindo um tremor universal em todos os seus membros ao se aproximarem. Seria impossível relatar aqui todas as perseguições que o demônio lhe fez e as vitórias que ela obteve sobre ele. Ela triunfou de sua malícia, não apenas quando ele a usou contra ela, mas também quando a usou contra os outros: ora convertia mulheres abandonadas ao vício, ora as expulsava de Roma, ou de outros refúgios onde se retiravam, para impedir que pervertessem a inocência.

Ela obteve, por suas orações, que seu confessor fosse libertado de um espírito maligno que o impelia à ira. Previa as tentações de várias almas e as preservava de cair nelas com seus bons conselhos. Uma vez, o demônio precipitou Vannosa de uma altura, e quase quebrou todo o seu corpo; mas Francisca, por suas orações, a restabeleceu imediatamente em perfeita saúde. Assim, o demônio permanecia vencido de todos os lados.

Desde que se associou com a piedosa Vannosa, sua cunhada, não fazia nada sem estar de acordo com ela. Um dia, Deus quis mostrar, por um milagre, o quanto a sua santa união lhe era agradável: enquanto se retiravam para um canto do jardim, à sombra de uma árvore, para deliberar juntas sobre os meios de deixar o mundo, peras extremamente belas e saborosas caíram aos seus pés, apesar de ser primavera. Essas duas santas mulheres levaram esses frutos aos seus maridos, a fim de fortalecê-los, por esse prodígio, na vontade de servir a Deus e dar-lhes a elas total liberdade para fazê-lo.

Em 1425, nossa Santa empreendeu erigir uma congregação de moças e viúvas, que se dedicassem perfeitamente à piedade e à devoção, sob a regra de São Bento. Ela foi fortalecida neste piedoso desígnio por várias visões celestiais onde lhe apareceram os apóstolos São Pedro e São Paulo, São Bento e Santa Madalena, que lhe prescreveram regras para suas religiosas. Pareceu-lhe ver um dia que São Pedro, após tê-la velado e abençoado solenemente, a oferecia a Nossa Senhora, para ser recebida sob sua proteção e salvaguarda especial; foi então que, voltando a si, ela redigiu por escrito as regras que foram observadas, desde então, em seu mosteiro, tais como lhe haviam sido ditadas nessas admiráveis visões e, tendo-as comunicado a seu pai espiritual, as fez aprovar pelo papa Eugênio IV.

A bem-aventurada Francisca tinha então cerca de quarenta e três anos; ela já havia passado vinte e oito no casamento. Nos doze que ela passou desde então, Deus fez brilhar sua santidade por várias maravilhas e curas milagrosas; mas sua humildade a fazia disfarçá-las pela aplicação de remédios na parte ferida, embora esses remédios fossem totalmente contrários ao mal. Não dizemos nada da assistência particular que os anjos lhe prestaram. Já vimos que além de seu anjo da guarda, Deus lhe deu um segundo, que a acompanhava visivelmente: se acontecesse de o demônio tomar a figura de um anjo de luz para enganá-la, esse fiel guardião não deixava de lhe revelar o artifício de seu inimigo, e sua alma era imediatamente preenchida com um odor tão agradável, que ela ficava admiravelmente consolada. Se, quando estava em companhia, lhe escapava uma ação ou uma palavra menos necessária, ou se ela se deixava levar por pensamentos supérfluos sobre seu lar, ou outros assuntos, esse espírito celestial, testemunha contínua de toda a sua vida, se escondia de seus olhos, e, por sua ausência, a obrigava a voltar a si mesma e a se reconhecer. Daí vem que se retrata esta santa tendo ao seu lado um anjo que lhe serve de guia e governador.

A morte, que não poupa ninguém, tendo-lhe tirado seu marido, em 1436, ela resolveu em pouco tempo todos os seus negócios e, abandonando seus bens aos filhos que ainda tinha no mundo, dirigiu-se ao mosteiro que havia fundado; lá, prostrando-se contra o chão, com a corda no pescoço e os olhos banhados em lágrimas, suplicou muito humildemente às moças, das quais ela era mãe em Jesus Cristo, que a recebessem no mosteiro na qualidade de pequena serva; o que elas fizeram com toda a alegria imaginável. Logo depois, elas a elegeram como sua superiora, apesar de todas as suas repugnâncias.

Essas religiosas são chamadas de oblatas, porque ao se consagrarem a Deus, elas usam a palavra oblação e não profissão: em vez de dizer como as outras, eu faço profissão, elas dizem eu me ofereço; elas não fazem votos; simplesmente prometem obedecer à madre presidente. Elas têm pensões, herdam de seus pais e podem sair com a permissão de sua superiora. Há no convento que elas têm em Roma várias damas da mais alta qualidade.

Eis, portanto, Santa Francisca absolutamente mãe da piedosa congregação que ela mesma havia estabelecido. Ela a levou desde então a tal perfeição, que se pode dizer que ela deixou ali a ideia mais perfeita da vida religiosa. No início, elas estavam alojadas de forma pouco confortável: por isso, adquiriram outra casa mais apropriada e melhor situada, ao pé do Capitólio, para onde se mudaram solenemente após todas terem comungado; esta casa foi chamada de Torre do Espelho, por causa de uma torre que está no mesmo lugar, e que foi ornamentada, na superfície, com alguns relevos semelhantes a espelhos.

Deus continuou, e até aumentou os favores que fazia à nossa Santa, e realizou por meio dela muitos milagres, que podem ser vistos na bula de sua canonização. Ela livrou do mal caduco uma criança de cinco anos, colocando a mão sobre sua cabeça. Pelo mesmo meio, ela curou outra de uma hérnia; ela devolveu a saúde a vários outros doentes apenas pela imposição de suas mãos. Uma mulher, chamada Ângela, que estava paralisada de um braço pela violência da gota, tendo encontrado a Santa pelo caminho, implorou seu socorro, e recebeu dela, na mesma hora, uma saúde perfeita. Ela deu um dia muito abundantemente de jantar a quinze religiosas com alguns pedaços de pão, que mal teriam sido suficientes para três, e ainda assim sobrou um cesto cheio. Outra vez, algumas religiosas tendo-a seguido para cortar lenha fora da cidade, como elas sofriam de sede, Deus fez brotar em uma vinha tantos cachos de uvas quanto eram as moças com ela, embora fosse no mês de janeiro. Passamos em silêncio o resto de seus milagres, para dizer uma palavra sobre suas virtudes, particularmente sobre sua humildade, pela qual ela se elevou à verdadeira grandeza.

Jamais ela não suportou, nem no claustro, nem na casa de seu marido, que a servissem, embora fosse a senhora e a superiora; mas, praticando literalmente a palavra de Nosso Senhor, ela preferia servir aos outros e ser tratada como serva: ela se comprazida mesmo singularmente em ser considerada a menor de todas, e, se a tivessem acreditado, não lhe teriam dado títulos mais honoráveis que o de "pecadora, vaso de impureza, e mulher muito vil e muito miserável". Esta humildade apareceu ainda mais em suas ações do que em suas palavras: pois foi vista voltando de sua vinha, que ficava fora dos subúrbios, com um feixe de ramos sobre a cabeça, e conduzindo à sua frente um burro carregado, que ela empregava para o serviço dos pobres; ela mostrava assim que nada é difícil para a caridade; e que, quando esta virtude nos faz agir, pisamos o respeito humano, mesmo aquele que parece mais razoável. Nos sofrimentos, sua paciência era invencível: quando seu marido foi enviado ao exílio, seus bens foram confiscados e toda a sua casa arruinada (durante os distúrbios que se seguiram à invasão de Roma por Ladislau, rei de Nápoles, e durante o grande cisma que dilacerou a Igreja, sob o pontificado de João XXIII, no ano de 1413), jamais ela disse outra coisa senão estas belas palavras de Jó:

"O Senhor os deu, o Senhor os tirou; que Seu santo Nome seja bendito!"

Ela tinha uma grande devoção ao santo Sacramento do altar; em sua presença ela se elevava a Deus com tanto fervor, que às vezes permanecia imóvel por muito tempo e toda arrebatada em espírito. Quanto à Paixão de Nosso Senhor, ela a meditava com tanta ternura, que derramava abundantes lágrimas, e até mesmo experimentava realmente dores agudas nas partes de seu corpo onde Jesus Cristo havia sofrido no seu, como diz expressamente a bula de sua canonização. Enfim, Deus quis terminar uma vida tão santa com uma morte feliz.

João Batista, seu filho mais velho, tendo caído em uma doença muito perigosa, Francisca se achou obrigada a prodigalizar-lhe seus cuidados, já que não os recusava aos estranhos. Seu confessor lhe ordenou que passasse a noite lá, porque era muito longe para voltar ao seu mosteiro, além do Tibre; mas ela mesma foi acometida naquela noite de uma febre ardente, que aumentou tanto, que, não estando em condições de poder sair daquele lugar, foi obrigada a se preparar para a morte pela recepção dos sacramentos. Deus tendo-lhe feito saber que o sétimo dia de sua doença seria o último de sua vida, ela avisou, quatro dias antes, dizendo:

"Deus seja bendito! Na quinta-feira, no mais tardar, passarei desta vida para uma melhor".

O evento verificou esta predição; de fato, na quarta-feira seguinte, 9 de março de 1440, ela entregou seu espírito àquele que a havia criado, com uma tranquilidade admirável, e sem nenhum sinal de dor. Ela tinha cinquenta e seis anos de idade; tinha passado doze na casa de seu pai, quarenta em seu casamento e quatro na religião.

Seu corpo foi levado à igreja de Santa Maria Nova, onde permaneceu exposto por três dias à vista de todo o povo, que corria em multidão para admirar as maravilhas de Deus. Exalava-se deste precioso tesouro um odor tão agradável, que se diria que toda a igreja estava repleta de jasmins, cravos e rosas. Vários milagres foram realizados em seu sepulcro pelo toque das coisas que lhe haviam pertencido; sobretudo em favor das pessoas afligidas pela peste. Um perfumista, chamado Jerônimo, estando à beira da morte, foi salvo por ter tocado o hábito de nossa Santa; e uma mulher, chamada Madalena de Clarelle, foi preservada pela simples invocação de seu nome. Uma multidão de doentes foi curada pelo mérito de suas orações. Um turco, chamado Béli, estava tão endurecido que nunca se conseguira nada de seu espírito; tudo o que se pôde obter dele foi que dissesse estas palavras:

"Francisca, serva de Deus, lembre-se de mim".

Ele se converteu.

Todas essas maravilhas frequentemente pressionaram os Sumos Pontífices a proceder à canonização desta ilustre romana. Eugênio IV, Nicolau V e Clemente VIII trabalharam nisso; Paulo V concluiu este santo assunto em 29 de maio de 1608. Inocêncio X ordenou que se celebrasse a festa, com ofício duplo, o que se faz em 9 de março. O corpo de Santa Francisca permaneceu na terra por mais de duzentos anos. Foi exumado em 1638 e encerrado em um belo relicário de cobre dourado.

A festa de Santa Francisca é guardada em Roma, como era em Paris a de São Roque antes da revolução, ou seja, sem ser de preceito, é ocasião de uma grande solenidade.

Às vezes, representa-se a Santa empurrando um burro à sua frente. Outras vezes, coloca-se perto dela um pequeno anjo, geralmente vestido como diácono e irradiando luz. Sabe-se que seu anjo da guarda lhe aparecia quase todos os dias, e segundo o maior ou menor brilho que ele emitia, a santa havia aprendido a compreender se Deus estava contente com ela, ou se ela tinha algo a se reprovar. A claridade que o anjo espalhava ao seu redor era às vezes tal que a santa podia ler à noite sem outra luz. Ela também é representada recebendo o Menino Jesus das mãos de Nossa Senhora, que o entregou a ela um dia em que ela acabara de visitar a igreja de Santo Estêvão, para que ela o levasse até a igreja vizinha. Ela é vista ainda carregando no braço uma cesta de legumes para mostrar que cumpria com alegria os ofícios mais humildes da comunidade.