CAPÍTULO V: Blasfêmias dos condenados
Todo esse terrível lugar ressoava com horríveis blasfêmias. Seus infelizes habitantes amaldiçoavam Deus, como se Ele só lhes tivesse feito mal, e nunca nenhum bem; eles amaldiçoavam a humanidade sagrada de Nosso Senhor Jesus Cristo; eles amaldiçoavam todos os Seus mistérios, cuja lembrança só lhes recordava ingratidões criminosas; eles amaldiçoavam todas as graças que haviam obtido por Seus méritos, e cujo abuso lhes havia atraído tão horríveis castigos. Toda a santa vida desse Deus salvador provocava suas blasfêmias; mas cada um se dedicava a profanar de uma maneira especial a circunstância que mais lhe desagradava. Este amaldiçoava Sua Encarnação, aquele Seu Nascimento; este Sua Circuncisão e aquele Seu Batismo; este Sua Penitência, aquele Sua Paixão; um outro Sua Ressurreição, outro Sua Ascensão gloriosa. Nada do que fez nosso amável Salvador, para a salvação de nossas almas, era respeitado, porque todos esses benefícios foram para eles apenas objetos de ingratidão. Eles amaldiçoavam e blasfemavam o doce nome de Maria, suas prerrogativas, suas virtudes, mas sobretudo sua maternidade divina; porque se ela não tivesse posto o filho de Deus no mundo, eles teriam sido menos culpados, e não teriam que suportar tão horríveis tormentos. Assim, portanto, sua eternidade é toda empregada em blasfemar e amaldiçoar, mas com tal raiva e tão profundo desespero, que, se não tivessem outros suplícios, isso bastaria para torná-los infinitamente infelizes. No entanto, eles sofrem as outras penas comuns a todos os condenados, e além disso, as penas que lhes são particulares, como acabo de dizer.