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CAPÍTULO IX: Da glória dos santos no céu

Quando as almas bem-aventuradas fazem sua entrada no céu, elas são conduzidas aos lugares que lhes foram designados, segundo seus méritos. Se, para chegar lá, elas precisam atravessar alguns coros angélicos, os espíritos que os compõem lhes fazem um acolhimento extremamente alegre; mas nada se iguala à recepção que lhes é feita nos coros onde elas devem tomar lugar. São, da parte dos anjos aos quais elas são associadas, apenas demonstrações de alegria e amizade por elas, apenas cânticos de louvores e bênçãos para render graças a Deus por sua felicidade, e essa alegria dura muito mais tempo nesses coros do que nos outros. Todas as vezes que nossa bem-aventurada, interrogada por seu confessor, falava dessa alegria angélica, causada pela vinda de algumas almas associadas à sua glória, a lembrança de sua multidão, da doçura inexprimível de seus cantos, de suas demonstrações, de seus transportes, a punha fora de si; seu rosto então estava todo em fogo, e seu coração se derretia como a cera aos raios do sol. O padre lhe perguntando um dia quais eram os mais perfeitos dos espíritos humanos ou angélicos colocados na mesma glória, ela respondeu que os espíritos humanos têm uma perfeição superior, por causa do tempo mais longo que lhes foi dado para merecer; mas que os anjos são mais puros e mais belos, que eles penetram melhor na compreensão divina, e que seus cantos são muito mais melodiosos. É preciso, no entanto, excetuar a augusta Maria desta regra geral.

Cada vez, acrescentava a serva de Deus, que sou elevada à visão beatífica, experimento vários espantos.

Me espanto 1º com minha falta de penetração na compreensão divina, causada pela união de minha alma com meu corpo mortal, e essa incapacidade me humilha muito, e me dá um grande desprezo por mim mesma.

Me espanto 2º, fico totalmente estupefata, cada vez que considero no espelho divino a sutileza penetrante dos serafins quanto à compreensão do grande abismo.

Me espanto 3º, mas muito mais ainda, ao considerar a profundidade da divindade criadora e governante dessas inteligências sutis.

Eis, dizia ainda a bem-aventurada, algumas observações que fiz relativamente aos espíritos gloriosos. 1º Na ordem dos serafins, uns penetram mais adiante que outros na compreensão divina. Há entre eles uma gradação de inteligência, que existe igualmente em todos os outros coros. O que digo dos anjos, digo igualmente dos espíritos humanos que lhes são associados. Todos os espíritos de um mesmo coro não estão igualmente próximos da divindade. Ora, quanto mais uma inteligência vê de perto esse abismo, melhor ela o penetra. 2º Todos os espíritos humanos, colocados na glória, não a possuem no mesmo grau. Alguns, enquanto viviam em sua carne mortal, receberam uma inteligência mais sutil, e seguindo suas operações intelectuais segundo sua capacidade, penetraram mais adiante no abismo da divindade, olhando no espelho divino, cuja visão constitui a beatitude: eles trouxeram, portanto, para o céu um espírito mais capaz e mais penetrante. Ora, quanto mais uma alma tem de capacidade e de sutileza no entendimento, mais ela é saciada na visão beatífica. É verdade que no céu todas as almas são plenamente saciadas; mas cada uma o é segundo a medida de sua capacidade e da sutileza com a qual ela penetra na compreensão da vontade divina. Quando os apóstolos receberam o Espírito Santo, nem todos obtiveram a mesma medida de graça. Aqueles que tinham mais capacidade e sutileza no entendimento, a receberam em um grau mais alto. Ora, o que dispõe a uma maior graça, dispõe igualmente a uma maior glória. Francisca via tudo isso, durante seus êxtases, no espelho divino. De resto, ela frequentemente declarou que submetia todas as suas palavras ao julgamento da Igreja católica, em cujo seio ela desejava viver e morrer.

LOUVOR SEJA A DEUS. AMÉM.